Los
Angeles – O luso-americano Carlos Pavão, professor da Escola de Saúde Pública
da Universidade Estadual da Geórgia, está a investigar as disparidades na
qualidade da saúde e acesso a cuidados da comunidade portuguesa nos Estados
Unidos.
“Não
há nenhuma pessoa ou grupo a tentar criar um portfólio de pesquisa sobre as
disparidades de saúde dos luso-americanos”, disse Carlos Pavão, que está a
trabalhar no projecto há cerca de um ano.
Durante
uma sessão organizada pelo Conselho de Liderança Luso-Americano (PALCUS), o
professor assistente clínico disse que há muito pouca literatura científica
publicada com foco na saúde da comunidade portuguesa nos Estados Unidos e isso
é preocupante.
“Sem
dados não há problemas”, disse, explicando que a falta de informação impede a
identificação de riscos na comunidade, como prevalência da diabetes ou da
Doença de Machado-Joseph. “Os dados não existem porque não estamos a tentar
recolhê-los, como tal [o problema] não existe”.
Especialista
em saúde pública há quase 30 anos, Carlos Pavão emigrou para os Estados Unidos
em criança e começou a carreira em Fall River, Massachusetts. Aqui, “o abuso de
substâncias, violência doméstica e consumo de droga era algo com que lidávamos
silenciosamente como comunidade”, apontou.
Dos
30 artigos científicos que foram publicados a partir de 1978 e incluem a
comunidade portuguesa, a maioria foca-se na saúde mental. Os trabalhos mostram,
por exemplo, que os pacientes com forte identidade étnica ficam mais
satisfeitos com os resultados da psicoterapia e os portugueses de segunda
geração têm atitudes mais positivas em relação a psicólogos.
Há
ainda um desejo por profissionais de saúde que falem português e em condições
específicas como a PHDA (Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção), os
recursos dirigidos aos pais portugueses são insuficientes.
O
investigador disse que será importante desenvolver intervenções à medida da
comunidade, apontando as nuances que vão desde a língua portuguesa à cultura.
“No
que toca a saúde mental, devemos perguntar-nos sobre o que foi feito noutras
áreas com outros grupos étnicos que pode ser culturalmente transferido e
adaptado para a nossa comunidade”, afirmou.
Carlos
Pavão notou ainda que nenhuma da literatura publicada distinguiu características
importantes em termos de origem. “É preciso segmentar os estudos em emigrante,
não emigrante, açoriano, madeirense, continental, primeira e segunda geração, e
tentar perceber o que está a acontecer e se é estatisticamente significativo”,
explicou.
Por
exemplo, um emigrante que fale sobretudo português terá mais facilidade de
acesso a serviços em comunidades portuguesas densas, como Fall River, que em
zonas onde houve maior assimilação e dispersão, como na Califórnia.
“Se
estamos a morrer e não sabemos porquê, como é que nos tornamos mais saudáveis?
Como sabemos se o problema é a dieta?” exemplificou Carlos Pavão.
“Quem
é que está a escrever a nossa narrativa? E quem o está a fazer poderá
estigmatizar-nos mais?”, questionou.
Este
trabalho faz parte de um projeto abrangente que inclui as comunidades
brasileira e cabo-verdiana nos Estados Unidos. O resultado será publicado em
livro no próximo ano através da Tagus Press, o braço editorial do Centro de
Estudos Portugueses e Cultura da Universidade de Massachusetts, Dartmouth. In “O Século
de Joanesburgo” – África do Sul
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