O
relatório “Kew’s State of the World’s Plants and Fungi 2020” do Jardim Botânico
Real de Kew (RBG, Kew), no Reino Unido, publicado hoje, tem a participação da
investigadora Susana C. Gonçalves, do Centro de Ecologia Funcional (Centre
for Functional Ecology – Science for People & the Planet), da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Este
relatório de referência internacional, que vai já na quarta edição, é um
mergulho profundo no estado atual do reino das plantas e do reino dos fungos à
escala global. Os novos dados, resultado de uma vasta e inédita colaboração
internacional entre 210 cientistas de 42 países, mostram como nós atualmente utilizamos
plantas e fungos, quais as propriedades úteis que nos faltam explorar, e o que
corremos o risco de perder.
Segundo
o documento, «plantas e fungos são os blocos de construção da vida no planeta
Terra. Têm o potencial de resolver problemas urgentes que ameaçam a vida
humana, mas esses recursos vitais estão a ser comprometidos pela perda de
biodiversidade». O relatório alerta para a necessidade premente de «explorar as
soluções que as plantas e fungos podem fornecer para lidar com algumas das
pressões que as pessoas e o planeta enfrentam».
Este
relatório apresenta, pela primeira vez, uma síntese de novas espécies para a
ciência compilada tanto para plantas como para fungos. Os autores descobriram
que 1.942 plantas e 1.886 fungos foram nomeados como novos para a ciência em
2019. Entre essas, estão espécies que podem ser valiosas como alimentos,
bebidas, medicamentos ou fibras (ver documento SOTWPF press FINAL).
A
cientista Susana C. Gonçalves participa em dois capítulos do relatório: um
dedicado à importância das colaborações para assegurar um futuro sustentável
para todos e outro que avalia o risco de extinção de plantas e fungos.
No
capítulo que realça a importância das colaborações para assegurar um futuro
sustentável para todos, a investigadora partilha o trabalho de conservação que
está a ser desenvolvido em São Tomé e Príncipe no âmbito do projeto “Tesouros
d’Obô”. A par da inventariação da diversidade de cogumelos, o projeto trabalha
com as comunidades locais para valorizar e gerir de forma sustentável estes
recursos, melhorando simultaneamente a sua qualidade de vida. «Esta abordagem
centrada nas comunidades, só possível com as parcerias existentes, está a abrir
caminho para uma solução duradoura na conservação da floresta e dos fungos em
São Tomé e Príncipe», conta Susana C. Gonçalves.
No
que respeita à avaliação do risco de extinção de plantas e fungos, que enfatiza
as lacunas e enviesamentos no conhecimento atual e que comprometem medidas de
conservação eficazes, a investigadora da UC, que também é avaliadora do risco
de extinção de fungos para a União Internacional para a Conservação da Natureza
(IUCN), indica o muito trabalho ainda por fazer: «Apenas 285 das 148,000
espécies conhecidas de fungos foram avaliadas para a Lista Vermelha da IUCN,
correspondendo somente a 0,2 %». Por isso, salienta que a «Ciência Cidadã e
ferramentas como a modelação e a inteligência artificial podem contribuir de
forma determinante para acelerar este processo».
Quando
questionada sobre as ações que podem ser dinamizadas pelos cidadãos
individualmente para proteger a biodiversidade fúngica do planeta, Susana C.
Gonçalves contextualiza: «se quisermos trazer a conservação dos fungos para o
primeiro plano, temos de desmistificar conceitos errados que persistem em toda
a sociedade, por exemplo, os fungos ainda são muitas vezes confundidos com
plantas ou retratados erroneamente como inimigos, e precisamos de desafiar a
indiferença em relação aos fungos. Em última análise, só nos preocupamos em
proteger o que amamos».
Mais informação sobre o “Kew’s
State of the World’s Plants and Fungi 2020” aqui.
Universidade de Coimbra - Portugal
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