Carmen Amado Mendes assumiu a liderança do Centro
Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, em Fevereiro deste ano, e irá
apresentar na sexta-feira o Plano Estratégico para o organismo até 2030. O
documento refere, por exemplo, a “revitalização” do projecto “Museu Virtual de
Macau” e colaborações com investigadores do território
A
proposta do Plano Estratégico (2020-2030) do Centro Científico e Cultural de
Macau (CCCM), em Lisboa, desenhada pela presidente, Carmen Amado Mendes,
inclui, entre outros, a “revitalização” do projecto “Museu Virtual de Macau”,
colaborações com investigadores da RAEM e exposições conjuntas com museus do
território. De acordo com o documento que será apresentado na sexta-feira, e a
que o Jornal Tribuna de Macau teve acesso, a estratégia delineada para os
próximos 10 anos “resulta essencialmente da necessidade de dar início a uma
nova fase na sua história, evitando que o Centro continue a ser percepcionado
como uma instituição estagnada, opaca e fechada sobre si mesma”.
Uma
das principais áreas de actuação do CCCM é o Museu. Essa “vantagem” será
reforçada com a “criação de uma plataforma interactiva dedicada às relações
entre Portugal, Macau e China”, nomeadamente através do projecto “Museu Virtual
de Macau”. Sublinhando que o “ideal de usufruir de um conjunto amplo de
produtos, serviços e experiências digitais a partir da sua própria casa é
partilhado por cada vez mais gente”, a presidente refere que o CCCM “deve desenvolver
uma plataforma online, a disponibilizar no seu website, através
da qual potenciais interessados possam visitar remotamente o Museu”.
Neste
sentido, indica Carmen Amado Mendes, a plataforma tem como objectivo “dar a
conhecer Macau e o seu papel preponderante na promoção das relações
luso-chinesas e entre a Europa e o continente asiático”. O pressuposto “não é
substituir a importância do real, mas complementar esta vertente através da
centralização de toda a informação sobre Macau numa plataforma digital”. Além
de incluir informação e fotografias do espólio museológico do CCCM, deve
abranger peças sobre Macau ou que incidam nas relações entre Portugal/Europa e
China/Ásia, assim como informação histórica e fotografias de ruas e monumentos
de Macau.
Ainda
neste contexto, o Museu do CCCM deve “envidar esforços” para ser integrado na
Rede Portuguesa de Museus, podendo também “organizar exposições em conjunto com
a Casa Asia, Museu Guimet, Museu de Macau e o Museu de Arte de Macau”.
Relativamente
à colecção permanente, deve ser editado um novo catálogo em português, inglês e
chinês. Por outro lado, devem ser realizadas, pelo menos, duas exposições
temporárias por ano, “de preferência dedicadas à Ásia, relacionadas com as
indústrias criativas de Macau ou que reúnam peças que estejam em exibição em
Portugal, Macau, China ou outros países”.
O
plano prevê ainda a “criação de uma Biblioteca Digital que reúna os resultados
de investigação sobre Macau/China desenvolvida em Portugal ou no estrangeiro,
bem como todas as publicações sobre o tema disponíveis no CCCM e noutras
bibliotecas”, conduzindo à sua integração em redes de bibliotecas digitais
nacionais e internacionais.
Assim,
nos próximos 10 anos, o CCCM “deve também apostar na criação de uma ‘Plataforma
Virtual Europa-Ásia’ de conhecimento científico sobre Portugal, Macau e China,
que inclua o seu Museu Virtual e a sua Biblioteca Digital”. O plano estratégico
indica que a relevância deste tipo de projectos aumentou nos últimos meses,
“tendo em consideração a situação da pandemia e diminuição do número de
visitantes”.
Ao
nível da cooperação internacional, o organismo deve realizar iniciativas
conjuntas com entidades públicas e privadas, como academias, instituições de
ensino superior e redes internacionais sobre a China e a Ásia. “Em Macau, o
Centro poderá estabelecer laços de cooperação com o Museu de Macau, o Instituto
Cultural, a Fundação Macau, a SJM Holdings, a Sociedade de Turismo e Diversões
de Macau e o Clube Militar”.
Investigação sobre Macau
Carmen
Amado Mendes frisa, no plano estratégico, que, apesar da presença portuguesa em
Macau durante quase cinco séculos, “Portugal ainda carece de sinólogos com
conhecimento profundo sobre a China, situação muito distinta da realidade de
outros países europeus”. Por essa razão, é importante “pensar estrategicamente”
o futuro do CCCM.
Se,
por um lado, o organismo deve dar os primeiros passos que lhe permitam
assumir-se como o “think thank” de Macau, China e Ásia em Portugal –
“posicionando-se como um dos principais pontos de encontro das várias entidades
públicas e privadas que trabalham estas temáticas” -, por outro, “deve
desenvolver investigação sobre Macau e o seu papel enquanto plataforma de
ligação entre o Ocidente e o Oriente”. Neste âmbito, as propostas são o estudo
da vida e obra de “figuras de referência”, como João Maria Ferreira do Amaral,
Pedro José Lobo, Kou Ho Neng, Fu Tak Iam, Bernardino de Senna Fernandes, Luís
Gonzaga Gomes e Henrique da Senna Fernandes.
Paralelamente
à preocupação de encontrar temas agregadores de massa critica, o CCCM “deve,
necessariamente, dar prioridade a Macau, em colaboração com investigadores e
instituições do território, que têm apresentado propostas interessantes”.
O
documento nota, por exemplo, que há temas “negligenciados”, como o estudo de
círculos intelectuais macaenses particularmente no período de transição do
século XIX para o século XX – por exemplo, o estudo do historiador macaense
Montalto de Jesus.
Mas
importa também analisar a evolução de Macau desde 1999 até à actualidade,
nomeadamente investigação sobre o desenvolvimento económico, a integração na
Grande Baía, os Governos de Edmund Ho e Chui Sai On, as perspectivas para Ho
Iat Seng, assim como as experiências da SARS e da COVID-19.
Carmen
Amado Mendes sugere ainda que se estude a realidade de Macau entre o 25 de
Abril de 1974 e 20 de Dezembro de 1999, nomeadamente através da experiência e conhecimento
dos governadores da RAEM. “São temas que podem inspirar a criação de uma série
de história oral, que se destaque pela simples recolha de memórias, histórias,
e episódios, contribuindo para a preservação de testemunho de vivências, que,
caso contrário, se poderão perder”, sublinha.
O
desenvolvimento do fundo documental é também um dos objectivos para o seu
mandato. “O CCCM pretende envidar esforços para enriquecer o seu espólio
documental, através do incentivo à doação de colecções de particulares,
nomeadamente espólios de todos aqueles que, de forma profissional ou pessoal,
tenham estado ligados à Ásia, incluindo antigos governadores de Macau,
políticos, diplomatas, investigadores e académicos”. Projectam-se também
intercâmbios no âmbito dos Estudos Asiáticos com o Instituto Internacional de
Macau e o Instituto Ricci de Macau.
Na
ambição relativa ao “think thank”, um dos primeiros projectos a
equacionar “pode ser a apresentação da candidatura ao processo de avaliação dos
vinte anos do Fórum Macau” em 2023, refere. Adicionalmente, o “think tank”
do CCCM pode prestar serviços de consultoria relacionados com cultura asiática
a entidades públicas e privadas, bem como de agilização de contactos entre
várias instituições e empresas e investigadores e empreendedores.
Mais:
o CCCM deve ponderar a criação de um polo sobre a Ásia nas suas instalações,
acolhendo a sede de algumas entidades relacionadas com Macau e as relações
luso-chinesas e entre a Europa e o continente asiático, bem como a criação de
um espaço de exposição com uma ala dedicada aos retratos dos governadores de
Macau e os principais contributos da sua Administração. Catarina Pereira –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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