Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Portugal - Centro Científico e Cultural de Macau quer revitalizar “Museu Virtual de Macau”

Carmen Amado Mendes assumiu a liderança do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, em Fevereiro deste ano, e irá apresentar na sexta-feira o Plano Estratégico para o organismo até 2030. O documento refere, por exemplo, a “revitalização” do projecto “Museu Virtual de Macau” e colaborações com investigadores do território



A proposta do Plano Estratégico (2020-2030) do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, desenhada pela presidente, Carmen Amado Mendes, inclui, entre outros, a “revitalização” do projecto “Museu Virtual de Macau”, colaborações com investigadores da RAEM e exposições conjuntas com museus do território. De acordo com o documento que será apresentado na sexta-feira, e a que o Jornal Tribuna de Macau teve acesso, a estratégia delineada para os próximos 10 anos “resulta essencialmente da necessidade de dar início a uma nova fase na sua história, evitando que o Centro continue a ser percepcionado como uma instituição estagnada, opaca e fechada sobre si mesma”.

Uma das principais áreas de actuação do CCCM é o Museu. Essa “vantagem” será reforçada com a “criação de uma plataforma interactiva dedicada às relações entre Portugal, Macau e China”, nomeadamente através do projecto “Museu Virtual de Macau”. Sublinhando que o “ideal de usufruir de um conjunto amplo de produtos, serviços e experiências digitais a partir da sua própria casa é partilhado por cada vez mais gente”, a presidente refere que o CCCM “deve desenvolver uma plataforma online, a disponibilizar no seu website, através da qual potenciais interessados possam visitar remotamente o Museu”.

Neste sentido, indica Carmen Amado Mendes, a plataforma tem como objectivo “dar a conhecer Macau e o seu papel preponderante na promoção das relações luso-chinesas e entre a Europa e o continente asiático”. O pressuposto “não é substituir a importância do real, mas complementar esta vertente através da centralização de toda a informação sobre Macau numa plataforma digital”. Além de incluir informação e fotografias do espólio museológico do CCCM, deve abranger peças sobre Macau ou que incidam nas relações entre Portugal/Europa e China/Ásia, assim como informação histórica e fotografias de ruas e monumentos de Macau.

Ainda neste contexto, o Museu do CCCM deve “envidar esforços” para ser integrado na Rede Portuguesa de Museus, podendo também “organizar exposições em conjunto com a Casa Asia, Museu Guimet, Museu de Macau e o Museu de Arte de Macau”.

Relativamente à colecção permanente, deve ser editado um novo catálogo em português, inglês e chinês. Por outro lado, devem ser realizadas, pelo menos, duas exposições temporárias por ano, “de preferência dedicadas à Ásia, relacionadas com as indústrias criativas de Macau ou que reúnam peças que estejam em exibição em Portugal, Macau, China ou outros países”.

O plano prevê ainda a “criação de uma Biblioteca Digital que reúna os resultados de investigação sobre Macau/China desenvolvida em Portugal ou no estrangeiro, bem como todas as publicações sobre o tema disponíveis no CCCM e noutras bibliotecas”, conduzindo à sua integração em redes de bibliotecas digitais nacionais e internacionais.

Assim, nos próximos 10 anos, o CCCM “deve também apostar na criação de uma ‘Plataforma Virtual Europa-Ásia’ de conhecimento científico sobre Portugal, Macau e China, que inclua o seu Museu Virtual e a sua Biblioteca Digital”. O plano estratégico indica que a relevância deste tipo de projectos aumentou nos últimos meses, “tendo em consideração a situação da pandemia e diminuição do número de visitantes”.

Ao nível da cooperação internacional, o organismo deve realizar iniciativas conjuntas com entidades públicas e privadas, como academias, instituições de ensino superior e redes internacionais sobre a China e a Ásia. “Em Macau, o Centro poderá estabelecer laços de cooperação com o Museu de Macau, o Instituto Cultural, a Fundação Macau, a SJM Holdings, a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau e o Clube Militar”.

Investigação sobre Macau

Carmen Amado Mendes frisa, no plano estratégico, que, apesar da presença portuguesa em Macau durante quase cinco séculos, “Portugal ainda carece de sinólogos com conhecimento profundo sobre a China, situação muito distinta da realidade de outros países europeus”. Por essa razão, é importante “pensar estrategicamente” o futuro do CCCM.

Se, por um lado, o organismo deve dar os primeiros passos que lhe permitam assumir-se como o “think thank” de Macau, China e Ásia em Portugal – “posicionando-se como um dos principais pontos de encontro das várias entidades públicas e privadas que trabalham estas temáticas” -, por outro, “deve desenvolver investigação sobre Macau e o seu papel enquanto plataforma de ligação entre o Ocidente e o Oriente”. Neste âmbito, as propostas são o estudo da vida e obra de “figuras de referência”, como João Maria Ferreira do Amaral, Pedro José Lobo, Kou Ho Neng, Fu Tak Iam, Bernardino de Senna Fernandes, Luís Gonzaga Gomes e Henrique da Senna Fernandes.

Paralelamente à preocupação de encontrar temas agregadores de massa critica, o CCCM “deve, necessariamente, dar prioridade a Macau, em colaboração com investigadores e instituições do território, que têm apresentado propostas interessantes”.

O documento nota, por exemplo, que há temas “negligenciados”, como o estudo de círculos intelectuais macaenses particularmente no período de transição do século XIX para o século XX – por exemplo, o estudo do historiador macaense Montalto de Jesus.

Mas importa também analisar a evolução de Macau desde 1999 até à actualidade, nomeadamente investigação sobre o desenvolvimento económico, a integração na Grande Baía, os Governos de Edmund Ho e Chui Sai On, as perspectivas para Ho Iat Seng, assim como as experiências da SARS e da COVID-19.

Carmen Amado Mendes sugere ainda que se estude a realidade de Macau entre o 25 de Abril de 1974 e 20 de Dezembro de 1999, nomeadamente através da experiência e conhecimento dos governadores da RAEM. “São temas que podem inspirar a criação de uma série de história oral, que se destaque pela simples recolha de memórias, histórias, e episódios, contribuindo para a preservação de testemunho de vivências, que, caso contrário, se poderão perder”, sublinha.

O desenvolvimento do fundo documental é também um dos objectivos para o seu mandato. “O CCCM pretende envidar esforços para enriquecer o seu espólio documental, através do incentivo à doação de colecções de particulares, nomeadamente espólios de todos aqueles que, de forma profissional ou pessoal, tenham estado ligados à Ásia, incluindo antigos governadores de Macau, políticos, diplomatas, investigadores e académicos”. Projectam-se também intercâmbios no âmbito dos Estudos Asiáticos com o Instituto Internacional de Macau e o Instituto Ricci de Macau.

Na ambição relativa ao “think thank”, um dos primeiros projectos a equacionar “pode ser a apresentação da candidatura ao processo de avaliação dos vinte anos do Fórum Macau” em 2023, refere. Adicionalmente, o “think tank” do CCCM pode prestar serviços de consultoria relacionados com cultura asiática a entidades públicas e privadas, bem como de agilização de contactos entre várias instituições e empresas e investigadores e empreendedores.

Mais: o CCCM deve ponderar a criação de um polo sobre a Ásia nas suas instalações, acolhendo a sede de algumas entidades relacionadas com Macau e as relações luso-chinesas e entre a Europa e o continente asiático, bem como a criação de um espaço de exposição com uma ala dedicada aos retratos dos governadores de Macau e os principais contributos da sua Administração. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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