A pandemia da covid-19 fê-la regressar de Londres mais
depressa do que estava à espera. Depois de um curso em ciências biomédicas que
ficou por terminar, Betchy Barros deu ouvidos à sua paixão de sempre e foi
estudar música no Reino Unido. De regresso à sua Macau, a cantora e compositora
está a dar os primeiros passos nos palcos, estando também envolvida na criação
do evento “Rootz”
Da
música de Cesária Évora, cantada à capella com 16 anos, até aos palcos mais
profissionais foi um longo passo, mas que fez e que continua a fazer todo o
sentido. Betchy Barros, guineense que vive em Macau desde bebé, regressou há
pouco de Londres onde estudou música. Assume-se como cantora neo-soul, mas não
só, apostando na diversidade.
O
nome Betchy Barros tem surgido em vários eventos com artistas locais nos
últimos tempos. Primeiro, foi a convite do colectivo Dark Perfume, agora é com
o evento “Rootz”, que acontece esta sexta-feira no espaço Live Music
Association. Um evento que ela própria ajudou a criar em parceria com o seu
irmão, o rapper Tony Barros, e outros artistas de Macau.
“Estamos
a tentar incorporar noites que sejam divertidas para as pessoas saírem da
rotina e conhecerem novos artistas. Em Macau faltava muito o valor dado aos
artistas locais, porque normalmente eram sempre bandas que vinham de fora.
Agora estamos a focar-nos no que temos em casa. Está a ser uma experiência
fantástica porque isso está a abrir portas para outros eventos”, confessou ao
HM.
Com
as fronteiras praticamente fechadas, Macau olha então para si própria no que ao
mundo da música diz respeito. “Não tínhamos valor e as pessoas vão começar a
dar-nos uma maior oportunidade. Está a haver uma grande mudança no meio
artístico de Macau para melhor. Todos devem ter o seu devido valor, tanto os
artistas locais como os de fora”, disse Betchy Barros.
A
cantora não tem dúvidas ao afirmar que a música em Macau “está boa, está
incrível”. Com o “Rootz”, Betchy Barros e os restantes organizadores querem
também apostar na música africana, um estilo musical “que as pessoas de todo o
mundo têm estado à procura”.
“Queremos
fazer uma noite de hip-hop, o que vai atrair estudantes e muitas pessoas com um
background lusófono”, frisou.
Aretha, Eta, Alicia
Muito
antes de interpretar temas de Cesária Évora, a diva de Cabo Verde, já Betchy
Barros cantava de forma amadora. Aos 18 anos, cantou com o músico local
Fabriccio Croce. Quando chegou a altura de entrar para a universidade ignorou a
sua paixão e entrou no curso de ciências biomédicas em Portugal. Mas foi sol de
pouca dura. Acabou por abandonar o curso e foi estudar música para o Reino
Unido.
“Escrevo
as minhas próprias músicas, mas também canto músicas de outros artistas. Tenho
mais influência do soul, algum jazz, mas comecei por cantar músicas
tradicionais de Cabo Verde e da Guiné-Bissau”, adiantou.
As
suas influências passam por nomes como Alicia Keys, Eta James ou Aretha
Franklin, mas Betchy assume não querer assumir-se exclusivamente como uma
cantora de neo-soul. “Gosto muito de pop jazz também.
Oiço
um pouco de tudo e por isso não gosto de me meter numa só categoria, de que sou
uma artista de neo-soul. Sou mais influenciada por isso, e a maior parte das
músicas que canto são desse género, mas estou sempre disposta a cantar todo o
tipo de estilos de música.”
Betchy
Barros tem vindo a ser convidada para vários espectáculos e confessa que está a
ter “uma experiência interessante”. “É algo que me deixa extremamente feliz
porque achei que não ia ter oportunidade de cantar, por estar tudo parado. Mas
as coisas têm corrido bem e conto cantar na Lusofonia, que é uma coisa que me
deixa muito entusiasmada, porque sempre foi um sonho meu”, adiantou.
Com
um EP gravado no âmbito do curso e com uma música disponível na plataforma
Spotify, Betchy Barros quer ter a sua própria banda. “Torna-se difícil cantar
ao vivo todas as minhas músicas porque acho que elas ficam melhor com uma
banda. Faço alguns covers, mas também canto algumas músicas minhas. No futuro
quero fazer as duas coisas, porque também gosto de cantar as músicas de outras
pessoas. Mas o que mais interessa é que eu sinta a música e que o público
goste”, acrescentou.
Para
Betchy Barros, estar em Macau constitui uma oportunidade de construir uma
carreira como cantora. “Estou a sentir o valor que Macau me está a dar, e sabe
bem. Em Londres e em Portugal competimos com muitas pessoas ao mesmo tempo.
Aqui, devido ao coronavírus, tenho tido imensas oportunidades e sinto-me
valorizada. Sinto-me como se estivesse a fazer algo que não há muitas pessoas a
fazer.”
O irmão rapper
Tony
Barros é irmão de Betchy e outro dos criadores do evento “Rootz”, estando a sua
actuação prevista para o evento de sexta-feira. No entanto, o artista é
peremptório ao afirmar que o rap é apenas uma forma de “alívio”, “uma forma de
terapia”. “Se der, deu, mas não olho para o rap como sendo o meu caminho. O meu
caminho é ser actor”, aponta.
As
suas composições são também algo muito pessoal. “Escrevo sobre o que estou a
sentir no momento, e geralmente relaciona-se com as coisas que pesquiso. Gosto
muito de psicologia do inconsciente, as reacções humanas. Os meus tópicos
preferidos são a família, o self-improvement e a psicologia.”
Com
o evento “Rootz”, Tony Barros pretende “re-introduzir a música africana em
Macau”. “Quando era mais novo os meus pais saíam à noite para o New Century,
onde havia festas de música africana. Hoje em dia as pessoas estão a ouvir mais
o afrobeat e acho que vai ser um bom começo para nós”, rematou. Andreia
Silva – Macau in “Hoje Macau”
Andreia Sofia Silva - Jornalista, 31 anos de idade. Formada em Jornalismo
com uma pós-graduação em Ciência Política e Relações Internacionais. Escreve
sobretudo sobre política, sociedade e cultura. Email:
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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