O embaixador brasileiro em Pequim apelou ao Fórum de
Macau que se foque nos países menos desenvolvidos, apontando que o organismo
“nunca foi central” para o relacionamento entre o Brasil e a China
Paulo
Estivallet de Mesquita, embaixador brasileiro em Pequim, lançou um apelo ao
Fórum de Macau para que se concentre nos países menos desenvolvidos,
considerando que em relação a certos pontos há “muito por fazer”. “O mais
promissor seria que a China buscasse utilizar o fórum para promover projectos
que beneficiem os países menos desenvolvidos da comunidade de países de língua
portuguesa”, disse Paulo Estivallet de Mesquita à agência Lusa, em Pequim.
No
âmbito do Fórum de Macau, a China criou um Fundo de Cooperação para o
Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, no valor de mil
milhões de dólares e gerido pelo Banco de Desenvolvimento da China (CDB, na
sigla em inglês). Empresários queixam-se, no entanto, da dificuldade em
conseguir financiamento através do fundo, face às altas taxas de juro exigidas
e difíceis de alcançar em projectos de infra-estruturas.
Paulo
Estivallet de Mesquita concordou que, apesar de “haver recursos disponíveis”,
estes “não se traduziram, até ao momento, num volume de projectos concretos”.
“Acho que ainda falta, talvez, pensar melhor em como elaborar esses projectos,
principalmente nos países menos desenvolvidos, de forma a que todos vejam as
vantagens e os benefícios da iniciativa”, disse.
O
diplomata considerou o Fórum de Macau uma “iniciativa centrada na China, a
partir da China” que “nunca foi central” para o relacionamento do Brasil com o
país asiático. “O que o Brasil tem buscado é favorecer actividades com uma
vertente cultural e linguística. Nós não vemos problemas nisso”, apontou.
Sobre
o possível impacto da pandemia da covid-19 nas trocas comerciais entre o Brasil
e a China, o diplomata apontou para um aumento das exportações brasileiras,
durante o primeiro trimestre do ano, em termos homólogos, particularmente de
soja, produto dominante na pauta comercial. “Dentro do G20, o Brasil é o país
que teve o melhor desempenho [comercial], o que menos foi afectado”, apontou.
Quanto
ao acordo comercial “Fase 1”, assinado entre China e Estados Unidos, o
embaixador diz que é “difícil verificar exactamente o impacto” para as
exportações brasileiras, mas lembrou que apesar do compromisso estipular metas
quantitativas, os chineses asseguraram que as compras serão feitas com base nas
condições de mercado.
Segundo
o acordo assinado no início do ano a China deve importar 200 mil milhões de
dólares adicionais em bens oriundos dos Estados Unidos, nos próximos dois anos,
incluindo produtos agrícolas, energia e bens manufacturados, para reduzir o
défice comercial entre os dois países. “Um direccionamento de compras chinesas
não seguindo as regras do mercado, estaria em violação das regras comerciais
multilaterais, e isso seria motivo de preocupação, mas os chineses têm
assegurado e tem sido esse o comportamento no mercado”, apontou. “Até agora não
houve impacto negativo sobre as exportações brasileiras e esperemos que
continue a ser assim”, disse. João Pimenta – Agência Lusa in “Ponto
Final”
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