Duas
instituições da comunidade portuguesa na Argentina ofereceram as suas
instalações para se tornarem hospitais de campanha, ajudando a descomprimir a
ocupação da rede de Saúde e exaltando a solidariedade dos portugueses no
exterior.
“O
objectivo dessa iniciativa é que não se sature a capacidade do sistema de
saúde, público e privado, para que todos possam ser bem atendidos. Aqui vão
ficar pacientes com sintomas leves”, indica à Lusa o presidente do Clube
Português da Grande Buenos Aires, Víctor Estanqueiro.
O
ginásio do clube onde antes da pandemia se praticavam desportos, deu lugar ao
que se denomina oficialmente como Centro de Isolamento Social, Preventivo e
Obrigatório, pronto a receber os primeiros pacientes.
São
cem camas, com dois metros de distância entre si, que receberão doentes a cada
14 dias, período em que ou o paciente recupera, ou passa a uma internação
hospitalar mais intensiva. Com a chegada dos doentes, outras cem pessoas, entre
médicos, enfermeiros e seguranças, vão começar os trabalhos.
A
estrutura está prevista para enfrentar uma realidade de desigualdade social,
própria da América Latina, considerada um dos desafios na propagação do vírus.
Os
bairros mais populares desta região são compostos por moradias precárias, onde
num espaço reduzido, equivalente a um quarto, podem conviver várias pessoas de
uma mesma família. Essa vulnerabilidade social impede que o contagiado ou o
suspeito de contágio possa isolar-se dos demais.
“Estamos
a estender mão solidária a quem tem problemas habitacionais. Basicamente, este
centro é para os mais necessitados que não podem isolar-se em casa, mas que não
estão [numa situação tão grave] a ponto de um internamento hospitalar”, aponta
Estanqueiro.
O
Clube Português da Grande Buenos Aires foi um dos primeiros a disponibilizar o
quarteirão que ocupa, ainda nos primeiros dias de Abril. O processo para
condicionar o ginásio com aquecimento para temperaturas invernais abaixo de 10
graus, instalações eléctricas, iluminação, câmaras e ligação à Internet durou
dois meses.
“Estamos
prontos. Está iminente a chegada dos primeiros pacientes”, anuncia Víctor
Estanqueiro.
A
instituição portuguesa fica na cidade de Isidro Casanova, no distrito de La
Matanza, o mais populoso da região periférica de Buenos Aires.
A
região metropolitana é composta pela capital argentina, com três milhões de
habitantes, além de dez distritos, com 13 milhões de habitantes, formando um
conjunto urbano, entre a cidade e os seus subúrbios e ‘satélites’ (conurbação),
que vive uma quarentena total e obrigatória.
Enquanto
54,1% das camas de Cuidados Intensivos estão ocupadas na região metropolitana
de Buenos Aires, a ocupação em La Matanza, especificamente, chega a 69,6%.
Nesse
distrito, 40 clubes, igrejas e associações ofereceram as suas instalações para
se tornarem hospitais provisórios. Juntas vão ampliar em quatro mil o número de
camas disponíveis nos 16 municípios do distrito. O Clube Português é a
referência para Isidro Casanova.
“Quisemos
devolver um pouco do que recebemos quando os imigrantes portugueses, nossos
pais e avós, chegaram aqui. Isidro Casanova é uma cidade praticamente feita por
portugueses. A pandemia mundial leva-nos a cumprir o nosso papel social, além
de representarmos o braço solidário de Portugal”, orgulha-se Víctor
Estanqueiro.
Na
cidade de Villa Elisa, distrito de La Plata, a Casa de Portugal – Virgem de
Fátima é a outra instituição portuguesa que se ofereceu para se tornar hospital
de campanha. A iniciativa foi uma decisão unânime da sua direção, antes mesmo
de a Argentina se declarar em quarentena total, a 20 de Março.
“Vimos
que a situação se complicava e que a ocupação de leitos seria o grande desafio.
Colocamo-nos à disposição das autoridades municipais que nos incluíram numa
lista como instituição disponível para emergências”, explica à Lusa o
secretário-geral da Casa de Portugal, Carlos de Oliveira, destacando que “as
autoridades locais ficaram bem impressionadas com a iniciativa da comunidade
portuguesa”.
Com
uma situação mais administrável do que La Matanza, as autoridades de La Plata
ainda não iniciaram o processo para que a instituição portuguesa se torne, na
prática, um centro de socorro, mas os primeiros passos já foram tomados perante
a contingência.
“Esvaziámos
o ginásio e os espaços que poderiam ser úteis. Está tudo vedado à espera de um
pedido das autoridades, mas ainda não há camas nem equipamentos. Estamos
prontos para o caso de sermos accionados”, avisa Carlos de Oliveira.
“Essas
iniciativas reflectem os valores portugueses da solidariedade e da partilha.
Nessas coisas, especialmente nas adversidades, os portugueses são exemplares. O
cidadão português no exterior revela-se tão bom cidadão do país que o acolhe
quanto do país de origem”, emociona-se o embaixador português na Argentina,
João Ribeiro de Almeida, em declarações à Lusa.
A
comunidade na Argentina é composta por 21 mil inscritos no Consulado, um número
que duplica com os lusodescendentes. In “O Século de Joanesburgo” – África do Sul com “Lusa”
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