Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Macau - Instituto Cultural acrescenta 55 manifestações ao património cultural intangível

Às doze manifestações já incluídas na lista do Património Cultural Intangível, o Instituto Cultural acrescentou ontem mais 55. Em declarações à Tribuna de Macau figuras relacionadas com a área cultural mostraram-se satisfeitas com as escolhas do Governo e esperam que a medida ajude efectivamente a salvaguardar as várias tradições portuguesas, macaenses e chinesas



O Instituto Cultural (IC) acrescentou 55 manifestações ao inventário do Património Cultural Intangível. As manifestações culturais estão subdivididas em várias categorias, nomeadamente expressões artísticas e manifestações de carácter performativo, práticas sociais e religiosas, rituais e eventos festivos e competências no âmbito das práticas e técnicas artesanais tradicionais.

Apesar da larga maioria estar relacionada com tradições chinesas, 11 dizem respeito a manifestações portuguesas e macaenses.

Segundo o IC, algumas manifestações foram objecto de um levantamento sistemático e de um processo de selecção ao longo dos últimos anos, através de trabalho de campo, entrevistas orais e avaliação de especialistas. Outras foram propostas por comunidades locais ou a título individual.

O organismo garantiu ainda que todas as manifestações cumprem os requisitos de inventariação nos termos da Lei de Salvaguarda do Património Cultural a nível das suas formas de expressão, estado de conservação e valor cultural, e que integraram a lista após o parecer do Conselho do Património Cultural.

Arlinda Frota, médica e pintora, vê esta decisão com natural agrado. “Não há dúvida da dimensão e importância da pegada cultural que Portugal aqui deixou e que por isso tem de ser salvaguardada”, começou por dizer, destacando o fabrico e a pintura de azulejo português como sendo “algo de notar”. “Ainda bem que Macau e o IC reconheceram isso e que isto possa ser apreciado por mais pessoas na medida em que o Instituto irá promover”, notou, em declarações à Tribuna de Macau.

A artista portuguesa espera que este reconhecimento possa trazer mais valias para a sua arte, nomeadamente no que diz respeito aos “poucos artistas de Macau”.

“Fico triste quando vejo azulejaria de características portuguesas que é feita de qualquer maneira em Macau, também”, não só empresas privadas, mas também com “índole público”, afirmou. Por isso, “acho que valeria a pena promover esta cultura, através de cursos de azulejaria no próprio âmbito do Instituto Cultural e dar formação às pessoas para que se conheça os vários tipos de azulejos”, disse, ao destacar as “belíssimas condições” da Casa de Portugal para esse efeito.

Além disso, Arlinda Frota lamenta que não haja qualquer divulgação do que é azulejaria portuguesa. Nesse sentido, seria importante contar com a participação activa do Governo de forma a promover e manter esta arte presente em Macau.

“E quando o fazem, mesmo nos casinos, mandam fazer à China porque é muito mais barato. Mas isso não é azulejo português, porque esse tem de ser feito à mão”, sublinhou.

Um quinto das tradições listadas tem matriz portuguesa

Carlos Marreiros mostrou-se igualmente bastante satisfeito com a decisão do IC de expandir a lista do Património Cultural Intangível, especialmente pelo facto de “destes 55, um quinto ser de matriz portuguesa e de Macau, porque somos uma minoria aqui”.

“Julgo que, de uma maneira geral, a população de Macau também vai amparar e apoiar esta nova listagem, e aplaudir”, afirmou o arquitecto, que entre as novas manifestações inscritas optou por destacar a procissão de Santo António que “hoje ficou circunscrita a uma voltinha na Praça Luís de Camões”.

O antigo presidente do IC recordou que, durante a infância, participava numa procissão dedicada ao santo que “cumpria as promessas”. Na ocasião, a Igreja das Flores enchia-se de fiéis que seguiam em procissão pelas ruas do centro histórico de Macau.

“Faziam-se grande peregrinações à zona de Santo António, por ser um santo muito respeitado. Chamavam-se ‘mamons’ porque se comia e bebia muito bem”, contou.

Também sobre os azulejos, o arquitecto reconheceu que, ao longo dos últimos 30 anos, tem havido um esforço para reabilitar os painéis presentes no território, dando como exemplo o painel no edifício do Leal Senado, sede do Instituto para os Assuntos Municipais. “O cerâmico vidrado dá um brilho aos dias cinzentos de Macau”, disse.

Entre as restantes manifestações, Carlos Marreiros destacou o Festival de Lanternas, “por razões óbvias”, e as “figurinhas de massa” da sua infância. No que toca às artes marciais, realçou o Wing Chun e o Choi Lei Fat.

O arquitecto espera que o IC possa acrescentar ao inventário do Património Cultural Intangível “a comida chinesa de Macau, que é diferente da comida cantonense”.

A lista integra ainda a sobremesa “Aluá”, um doce da Gastronomia Macaense. Luís Machado sublinha que apesar de a Gastronomia Macaense já constar da lista anterior, “é sempre bom” este destaque ao doce tradicional com influências indianas.

“Antigamente este doce comia-se muito nas festas, como o Natal ou baptizados, mas com o tempo foi caindo em desuso porque é um doce muito difícil de executar”, explicou o presidente da Confraria da Gastronomia Macaense.

“Ainda temos confreiras que fazem, mas é de louvar a perseverança para executar este bolo”, referiu, notando que, actualmente, há apenas “uma família, a Meadas, que mantém a tradição”.

Luís Machado espera que esta iniciativa do Governo estimule as pessoas a estarem mais atentas à gastronomia local.

No que toca a gastronomia, também os pastéis de nata passam a integrar a lista de Património Cultural Intangível de Macau, ao lado dos biscoitos de amêndoa, a confecção das frutas de conserva, de massas Jook-Sing ou os Bolos de Casamento Tradicional Chinês e dos Barcos de Dragão.

No total, o inventário do Património Cultural Intangível abrange agora 67 manifestações, incluindo o primeiro lote de itens inscritos em 2017. O IC garante que irá continuar a proceder ao levantamento e estudo do património cultural intangível de Macau e “à actualização do inventário, a fim de salvaguardar e difundir o valioso património cultural intangível da cidade”. Sofia Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

55 Entradas na lista do património intangível

Expressões Artísticas e de Carácter Performativo

Dança do Dragão
Dança do Leão
Dança Folclórica Portuguesa
Canções da Água Salgada
Percussão Baatyam

Práticas Sociais e Religiosas, Rituais e Eventos Festivos

Procissão do Senhor Morte
Procissão de Santo António
Arraial de São João
Procissão de São Roque
Festa de São Martinho
Festa da Imaculada Conceição
Festival da Primavera
Festival das Lanternas
Oferenda de Sacrifícios ao Tigre Branco no Dia do Despertar dos Insectos
Cheng Ming (Dia de Finados)
Tung Ng (Festival de Barcos-Dragão)
Regata de Barcos-Dragão
Qixi (Festa das Raparigas Solteiras)
Yu Lan (Festa dos Espíritos Esfomeados)
Chong Chao (Festival do Bolo Lunar)
Chong Yeong (Culto dos Antepassados)
Festividades do Solstício de Inverno
Celebrações de Seak Kam Tong
Abertura da Tesouraria de Kun Iam
Celebrações de Tai Wong
Celebrações de Pao Kung
Festividades de Kun Iam
Celebrações de Pak Tai
Festividades do Dia do Buda
Celebrações de Tam Kong
Celebrações de Sin Fong
Celebrações de Lou Pan
Celebrações de Kuan Tai
Celebrações de Hong Chan Kan
Celebrações de Va Kong

Conhecimentos e Práticas relativos à Natureza e ao Universo

Artes Marciais de Tai Chi
Artes Marciais de Wing Chun
Artes Marciais de Choi Lei Fat

Práticas e Técnicas Artesanais e Tradicionais

Fabrico e Pintura de Azulejos Portugueses
Fabrico de Porcelana Cantonense
Microgravura em Porcelana
Escultura de Figuras em Massas
Fabrico de Pivetes
Carpintaria Seong Ká
Confecção do Cheongsam Chinês
Confecção de Vestidos de Casamento Chineses
Confecção de Pastéis de Nata
Confecção de Doces de Barba de Dragão
Confecção de Pastelaria Chinesa
Confecção de Biscoitos de Amêndoa
Confecção de Bolos de Casamento Tradicional Chinês
Confecção de Molhos Tradicionais Chineses
Confecção de Frutas em Conserva
Gastronomia Macaense – Confecção do Aluá
Confecção de Massas de Jook-Sing

Sem comentários:

Enviar um comentário