Às doze manifestações já incluídas na lista do Património
Cultural Intangível, o Instituto Cultural acrescentou ontem mais 55. Em
declarações à Tribuna de Macau figuras relacionadas com a área cultural
mostraram-se satisfeitas com as escolhas do Governo e esperam que a medida
ajude efectivamente a salvaguardar as várias tradições portuguesas, macaenses e
chinesas
O
Instituto Cultural (IC) acrescentou 55 manifestações ao inventário do
Património Cultural Intangível. As manifestações culturais estão subdivididas
em várias categorias, nomeadamente expressões artísticas e manifestações de
carácter performativo, práticas sociais e religiosas, rituais e eventos
festivos e competências no âmbito das práticas e técnicas artesanais
tradicionais.
Apesar
da larga maioria estar relacionada com tradições chinesas, 11 dizem respeito a
manifestações portuguesas e macaenses.
Segundo
o IC, algumas manifestações foram objecto de um levantamento sistemático e de
um processo de selecção ao longo dos últimos anos, através de trabalho de
campo, entrevistas orais e avaliação de especialistas. Outras foram propostas
por comunidades locais ou a título individual.
O
organismo garantiu ainda que todas as manifestações cumprem os requisitos de
inventariação nos termos da Lei de Salvaguarda do Património Cultural a nível
das suas formas de expressão, estado de conservação e valor cultural, e que
integraram a lista após o parecer do Conselho do Património Cultural.
Arlinda
Frota, médica e pintora, vê esta decisão com natural agrado. “Não há dúvida da
dimensão e importância da pegada cultural que Portugal aqui deixou e que por
isso tem de ser salvaguardada”, começou por dizer, destacando o fabrico e a
pintura de azulejo português como sendo “algo de notar”. “Ainda bem que Macau e
o IC reconheceram isso e que isto possa ser apreciado por mais pessoas na
medida em que o Instituto irá promover”, notou, em declarações à Tribuna de
Macau.
A
artista portuguesa espera que este reconhecimento possa trazer mais valias para
a sua arte, nomeadamente no que diz respeito aos “poucos artistas de Macau”.
“Fico
triste quando vejo azulejaria de características portuguesas que é feita de
qualquer maneira em Macau, também”, não só empresas privadas, mas também com
“índole público”, afirmou. Por isso, “acho que valeria a pena promover esta
cultura, através de cursos de azulejaria no próprio âmbito do Instituto
Cultural e dar formação às pessoas para que se conheça os vários tipos de
azulejos”, disse, ao destacar as “belíssimas condições” da Casa de Portugal
para esse efeito.
Além
disso, Arlinda Frota lamenta que não haja qualquer divulgação do que é
azulejaria portuguesa. Nesse sentido, seria importante contar com a
participação activa do Governo de forma a promover e manter esta arte presente
em Macau.
“E
quando o fazem, mesmo nos casinos, mandam fazer à China porque é muito mais
barato. Mas isso não é azulejo português, porque esse tem de ser feito à mão”,
sublinhou.
Um quinto das tradições listadas tem matriz portuguesa
Carlos
Marreiros mostrou-se igualmente bastante satisfeito com a decisão do IC de
expandir a lista do Património Cultural Intangível, especialmente pelo facto de
“destes 55, um quinto ser de matriz portuguesa e de Macau, porque somos uma
minoria aqui”.
“Julgo
que, de uma maneira geral, a população de Macau também vai amparar e apoiar
esta nova listagem, e aplaudir”, afirmou o arquitecto, que entre as novas
manifestações inscritas optou por destacar a procissão de Santo António que
“hoje ficou circunscrita a uma voltinha na Praça Luís de Camões”.
O
antigo presidente do IC recordou que, durante a infância, participava numa
procissão dedicada ao santo que “cumpria as promessas”. Na ocasião, a Igreja
das Flores enchia-se de fiéis que seguiam em procissão pelas ruas do centro
histórico de Macau.
“Faziam-se
grande peregrinações à zona de Santo António, por ser um santo muito
respeitado. Chamavam-se ‘mamons’ porque se comia e bebia muito bem”, contou.
Também
sobre os azulejos, o arquitecto reconheceu que, ao longo dos últimos 30 anos,
tem havido um esforço para reabilitar os painéis presentes no território, dando
como exemplo o painel no edifício do Leal Senado, sede do Instituto para os
Assuntos Municipais. “O cerâmico vidrado dá um brilho aos dias cinzentos de
Macau”, disse.
Entre
as restantes manifestações, Carlos Marreiros destacou o Festival de Lanternas,
“por razões óbvias”, e as “figurinhas de massa” da sua infância. No que toca às
artes marciais, realçou o Wing Chun e o Choi Lei Fat.
O
arquitecto espera que o IC possa acrescentar ao inventário do Património
Cultural Intangível “a comida chinesa de Macau, que é diferente da comida
cantonense”.
A
lista integra ainda a sobremesa “Aluá”, um doce da Gastronomia Macaense. Luís
Machado sublinha que apesar de a Gastronomia Macaense já constar da lista
anterior, “é sempre bom” este destaque ao doce tradicional com influências
indianas.
“Antigamente
este doce comia-se muito nas festas, como o Natal ou baptizados, mas com o
tempo foi caindo em desuso porque é um doce muito difícil de executar”,
explicou o presidente da Confraria da Gastronomia Macaense.
“Ainda
temos confreiras que fazem, mas é de louvar a perseverança para executar este
bolo”, referiu, notando que, actualmente, há apenas “uma família, a Meadas, que
mantém a tradição”.
Luís
Machado espera que esta iniciativa do Governo estimule as pessoas a estarem
mais atentas à gastronomia local.
No
que toca a gastronomia, também os pastéis de nata passam a integrar a lista de
Património Cultural Intangível de Macau, ao lado dos biscoitos de amêndoa, a
confecção das frutas de conserva, de massas Jook-Sing ou os Bolos de Casamento
Tradicional Chinês e dos Barcos de Dragão.
No
total, o inventário do Património Cultural Intangível abrange agora 67
manifestações, incluindo o primeiro lote de itens inscritos em 2017. O IC
garante que irá continuar a proceder ao levantamento e estudo do património
cultural intangível de Macau e “à actualização do inventário, a fim de
salvaguardar e difundir o valioso património cultural intangível da cidade”. Sofia
Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
55 Entradas na lista do património intangível
Expressões Artísticas e de Carácter Performativo
Dança
do Dragão
Dança
do Leão
Dança
Folclórica Portuguesa
Canções
da Água Salgada
Percussão
Baatyam
Práticas Sociais e Religiosas, Rituais e Eventos Festivos
Procissão
do Senhor Morte
Procissão
de Santo António
Arraial
de São João
Procissão
de São Roque
Festa
de São Martinho
Festa
da Imaculada Conceição
Festival
da Primavera
Festival
das Lanternas
Oferenda
de Sacrifícios ao Tigre Branco no Dia do Despertar dos Insectos
Cheng
Ming (Dia de Finados)
Tung
Ng (Festival de Barcos-Dragão)
Regata
de Barcos-Dragão
Qixi
(Festa das Raparigas Solteiras)
Yu
Lan (Festa dos Espíritos Esfomeados)
Chong
Chao (Festival do Bolo Lunar)
Chong
Yeong (Culto dos Antepassados)
Festividades
do Solstício de Inverno
Celebrações
de Seak Kam Tong
Abertura
da Tesouraria de Kun Iam
Celebrações
de Tai Wong
Celebrações
de Pao Kung
Festividades
de Kun Iam
Celebrações
de Pak Tai
Festividades
do Dia do Buda
Celebrações
de Tam Kong
Celebrações
de Sin Fong
Celebrações
de Lou Pan
Celebrações
de Kuan Tai
Celebrações
de Hong Chan Kan
Celebrações
de Va Kong
Conhecimentos e Práticas relativos à Natureza e ao
Universo
Artes
Marciais de Tai Chi
Artes
Marciais de Wing Chun
Artes
Marciais de Choi Lei Fat
Práticas e Técnicas Artesanais e Tradicionais
Fabrico
e Pintura de Azulejos Portugueses
Fabrico
de Porcelana Cantonense
Microgravura
em Porcelana
Escultura
de Figuras em Massas
Fabrico
de Pivetes
Carpintaria
Seong Ká
Confecção
do Cheongsam Chinês
Confecção
de Vestidos de Casamento Chineses
Confecção
de Pastéis de Nata
Confecção
de Doces de Barba de Dragão
Confecção
de Pastelaria Chinesa
Confecção
de Biscoitos de Amêndoa
Confecção
de Bolos de Casamento Tradicional Chinês
Confecção
de Molhos Tradicionais Chineses
Confecção
de Frutas em Conserva
Gastronomia
Macaense – Confecção do Aluá
Confecção
de Massas de Jook-Sing
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