Quinze anos depois do Centro Histórico ter sido integrado
na Lista do Património Mundial da UNESCO, a Secretária para os Assuntos Sociais
e Cultura destaca que essa classificação reveste-se de “um significado
peculiar”. Por sua vez, a Comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros
considera que “enriquece a essência cultural de Macau” e aumenta a visibilidade
do território no palco internacional. Em 2005, o então Chefe do Executivo,
Edmund Ho, frisou que o conjunto de bens culturais mundialmente distinguido
“constitui um tesouro único e um dos símbolos do intercâmbio entre o mundo
ocidental e a civilização oriental”
Assinala-se
hoje o 15º aniversário da inscrição do Centro Histórico de Macau na Lista de
Património Mundial da UNESCO. Para o Gabinete da Secretária para os Assuntos
Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, essa classificação resultou da “importância
e apoio concedido pelo Governo Central” após a transferência de soberania de
Macau, revestindo-se de “um significado peculiar”.
Numa
resposta ao Jornal Tribuna de Macau, o Gabinete indica que este marco se
reflecte em três aspectos, entre os quais, o “aumento da projecção de Macau a
nível internacional e do seu estatuto cultural”. “Foi promovido o intercâmbio
cultural e turístico entre a RAEM e todo o mundo e foram injectadas forças
motrizes culturais no desenvolvimento social local”.
Paralelamente,
houve também um “despertar e o reforço da sensibilização de toda a população
para a salvaguarda do património cultural, contribuindo para o fortalecimento
da protecção, divulgação e continuação das especificidades únicas de Macau – a
integração das culturas chinesa e portuguesa e a coexistência das culturas
oriental e ocidental”, pode ler-se.
Por
outro lado, sublinha ainda a “inspiração e alerta para manter aberta a mente,
com tolerância e vontade de aprender com os outros, e com sentido de missão
para contribuir ainda mais para divulgar a cultura chinesa e promover a
cooperação e intercâmbio multicultural”.
Ao
longo dos últimos 15 anos, refere o Gabinete da titular da pasta da Cultura, “o
Governo da RAEM tem cumprido escrupulosamente as directrizes relativas à
conservação do património mundial, emitidas pela UNESCO e, contando com a
participação de toda a população, tem desenvolvido os trabalhos de conservação
do património mundial de Macau, sob a fiscalização e orientação das autoridades
do Governo Central”, entre as quais o Ministério da Cultura e Turismo, a
Administração Estatal do Património Cultural da República Popular da China e a
Comissão Nacional da China para a UNESCO.
Para
o futuro, garante que o Executivo “irá continuar a dar a maior importância ao
nosso património cultural, e, juntamente com a população de Macau, proteger a
nossa Casa com toda a diligência”.
Por
sua vez, a Comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, numa
mensagem escrita enviada à Tribuna de Macau, referiu que “o sucesso da
inscrição trata-se de uma grande causa e alegria, atingido através das
estreitas colaborações entre o Governo Central e o Governo da RAEM, sob o
enquadramento de ‘Um País, Dois Sistemas’, sendo um exemplo vivido da
combinação orgânica entre desempenhar o papel do país, enquanto suporte forte,
e aumentar a própria competitividade enquanto Região Administrativa Especial”.
Shen
Beili defende ainda que “o Património Mundial abre uma janela importante para
um país ou uma região mostrar o seu carisma natural, histórico e cultural único
ao exterior”.
“O
Centro Histórico de Macau é uma testemunha importante e uma combinação de
essências da história única de intercâmbio e aprendizagem mútua entre culturais
orientais e ocidentais e da coexistência multicultural que estendeu por mais de
quatro séculos”, destacou. Na perspectiva da Comissária, a inscrição na Lista
do Património Mundial “enriquece a essência cultural de Macau enquanto Centro
Mundial de Turismo e Lazer, aumentando a visibilidade e atractividade de Macau
no palco internacional”.
“Hoje
em dia, o Património Mundial já se tornou num fundo cultural evidente de Macau
e num cartão brilhante que esta cidade apresenta ao mundo”, acrescentou Shen
Beili. “No passado, Macau era um centro essencial da Rota Marítima da Seda, uma
ponte de ligação importante do intercâmbio cultural entre o Oriente e o
Ocidente e assim formou o Património Cultural, cujo carisma único é a fusão
multicultural”.
Por
sua vez, o Instituto Cultural (IC) começou por referir que o Centro Histórico
“engloba o mais antigo legado arquitectónico europeu existente em solo chinês
na actualidade”. “Coexistindo com a arquitectura tradicional chinesa de Macau,
constitui um testemunho de pluralismo cultural e retrata uma simbiose única de
tradições arquitectónicas ocidentais e orientais”. O organismo assegura que,
desde a inscrição na lista da UNESCO, “o Governo da RAEM promove, de forma
constante, os trabalhos de protecção do seu Património Mundial”.
A
título de exemplo, apontou a implementação da Lei de Salvaguarda do Património
Cultural, “para que o trabalho de protecção e de gestão tenha um apoio e
fundamentos legais”. Com base nela foi criado um mecanismo de vistoria e
monitorização “para conhecer o estado de protecção do Património Mundial,
proceder a reparações e manutenção de forma ordenada, emitir pareceres sobre
protecção do património cultural para manter e controlar a aparência do Centro
Histórico da cidade”.
O
IC menciona ainda o desenvolvimento do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro
Histórico “para optimizar a sua protecção e gestão, utilizar os recursos do
Património Mundial e integrá-los na vida dos residentes e promover a educação e
divulgação alusiva a este património, defendendo a conservação e apreciação do
mesmo e impulsionando a participação activa da sociedade na sua protecção”.
Por
outro lado, assegura que tem vindo a desenvolver trabalhos de levantamento e
classificação de imóveis e património intangível de acordo com a lei, adoptando
procedimentos do primeiro e do segundo grupo de classificação de imóveis e das
áreas dos estaleiros navais de Lai Chi Vun.
“As
construções e edifícios históricos e relíquias culturais protegidas de Macau
mantiveram-se, desde há mais de 30 anos, em 128. Actualmente, o número aumentou
para 147”, sublinha o IC.
O
Jornal Tribuna de Macau tentou ainda obter comentários do Gabinete de Ligação
do Governo Central na RAEM, contudo, sem sucesso até ao fecho desta edição.
O desfecho feliz de um longo processo
O
processo que culminou na classificação do Centro Histórico como Património
Mundial da UNESCO foi longo, tendo começado ainda durante a administração
portuguesa, e registou alguns sobressaltos mesmo na recta final. A 14 de Julho
de 2005, um dia antes da inclusão na Lista ser oficializada, o Jornal Tribuna
de Macau noticiou que o Comité do Património Mundial ameaçou retirar da Lista
os locais que se encontram em perigo ou em estado de degradação. Só no dia
seguinte a 29ª sessão do Comité do Património Mundial aprovou, por unanimidade,
a inscrição do Centro Histórico na Lista. Eram 16:10 em Macau.
O
então Chefe do Executivo, Edmund Ho, proferiu um discurso no qual disse estar
“muito feliz” por poder partilhar “com todo o povo chinês e a população de
Macau um momento tão especial que muito nos honra”. “Desde o início dos
trabalhos preparatórios, o Governo da RAEM contou sempre, até ao fim, com um
forte apoio do Governo Central para a apresentação da lista de bens culturais
de Macau como a única candidatura nacional”, começou por referir.
“O
momento da inclusão de Macau na lista de património mundial da UNESCO
reveste-se de um significado profundo que não nos deve, todavia, envaidecer. O
conjunto de bens culturais do território ora distinguido constitui um tesouro
único e um dos símbolos do intercâmbio entre o mundo ocidental e a civilização
oriental do nosso país”, frisou.
O
processo de candidatura “contribuiu também para uma maior sensibilização e
consciencialização de toda a população sobre a importância da protecção do
Património e o seu sucesso é sinónimo do trabalho e esforços conjuntos de todos
os cidadãos de Macau”. Neste sentido, “acreditamos que todos vão preservar e
cuidar, cada vez mais, desta terra que é o nosso lar, participando activamente
nas campanhas e actividades de protecção do Património”, disse Edmund Ho,
assegurando que o Governo continuaria “a defender a preservação e promoção
deste tesouro cultural regional e nacional para que mais pessoas possam
conhecer o valor histórico e cultural da RAEM”.
Também
o então Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura frisou que “a inscrição
do Centro Histórico na Lista do Património Mundial é, para nós e para a cultura
chinesa, um orgulho e, para os cidadãos de Macau, uma glória”. “Esta honra nada
fácil de alcançar é o culminar de um esforço colectivo para o qual todos
contribuíram ao longo de vários anos e é fruto de grande apoio do Governo
Central, do empenhamento do Governo da RAEM e do entusiasmo e participação
activa dos cidadãos de Macau”, sublinhou na altura Chui Sai On.
Além
disso, defendeu que a inclusão na lista permitiria aos cidadãos “um
aprofundamento da sua compreensão da história e da cultura de Macau e da
pátria, um fortalecimento da sua identidade cultural e interiorização de um
sentido de pertença, identidade e coesão”.
Património traduz “características únicas”
“É
do conhecimento de todos que o património mundial da humanidade traduz os
aspectos culturais e as características únicas de um povo, reflectindo fenómenos
sociais e singularidades dos povos dos diversos países e regiões, num
determinado período histórico. A classificação como património mundial encerra
o reconhecimento do valor universal excepcional de um bem, do seu estatuto
histórico e do seu valor cultural para o processo de evolução da humanidade”,
destacou Chui Sai On.
“É
nosso compromisso a protecção e a preservação dos bens hoje Património Mundial,
através da criação de mecanismos de gestão e coordenação e de uma planificação
científica da sua revitalização e reutilização”, enfatizou. Apontou também como
propósito do Governo “o reforço das competências e sensibilização dos cidadãos
para a participação e consciência colectiva da necessidade de preservação do
Património Mundial através da cooperação e apoio mútuo com a sociedade civil,
indivíduos e associações, congregando, assim, esforços para concretização desta
missão”.
Também
em 2005, o Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong aplaudiu a
classificação do Centro Histórico. “É um sentimento de satisfação por constatar
que a singularidade e características únicas que estão visíveis em Macau
contribuíram para que a decisão positiva por parte da UNESCO fosse tomada”,
destacou Pedro Moitinho de Almeida.
Para
o diplomata, a aprovação da candidatura constituiu o reconhecimento, pela
comunidade internacional, do “intercâmbio e da convivência pacífica entre os
povos português e chinês em Macau ao longo de cerca de 450 anos”. Inês
Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
Na
lista da Unesco:
Largo
do Lilau
Largo
da Barra
Largo
de Santo Agostinho
Largo
do Senado
Largo
da Sé
Largo
de São Domingos
Largo
da Companhia de Jesus
Largo
de Camões
Templo
de Á-Má
Quartel
dos Mouros
Casa
do Mandarim
Igreja
de São Lourenço
Igreja
e Seminário de São José
Teatro
Dom Pedro V
Biblioteca
Sir Robert Ho Tung
Igreja
de Santo Agostinho
Edifício
do Leal Senado (IAM)
Templo
de Sam Kai Vui Kun
Santa
Casa da Misericórdia
Igreja
da Sé
Casa
de Lou Kau
Igreja
de São Domingos
Ruínas
de São Paulo
Templo
de Na Tcha
Troço
das Antigas Muralhas de Defesa
Fortaleza
do Monte
Igreja
de Santo António
Casa
Garden
Cemitério
Protestante
Fortaleza
da Guia (incluindo a Capela e o Farol)
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