Liderada por Catarina Mesquita, a “Mandarina books”
lançou o terceiro livro infantil bilingue, reforçando a aposta num mercado que,
apesar das “muitas possibilidades”, estava inexplorado em Macau. À Tribuna de Macau,
a responsável da editora faz um balanço muito positivo do caminho “cimentado”
desde o lançamento da primeira obra, em Setembro
Mandarina,
segundo a tradição, é símbolo de felicidade e prosperidade, mas é também o nome
da editora de livros infantis local. O nome rima com o da promotora da
iniciativa, Catarina Mesquita, que à Tribuna de Macau resumiu um pouco da
jornada que arrancou em Setembro com o lançamento da primeira obra da editora.
Quando
chegou a Macau há cerca de sete anos, a madeirense já trazia uma experiência de
cinco anos de trabalho numa editora infantil em Portugal.
“Em
Macau, trabalhei enquanto jornalista e editora e percebi sempre que faltava
alguma coisa. Mas, fui fazendo outras coisas por sobrevivência também, e fui-me
envolvendo noutros projectos. Entretanto, tive um filho, e parei”, contou, ao
confessar que foi nessa altura que surgiu a oportunidade de avançar com um
projecto relacionado com os livros infantis.
Apesar
de alguns “medos” e “períodos longos de dúvidas”, arriscou e, por conta
própria, resolveu perseguir o sonho guardado na gaveta há, pelo menos, seis
anos.
“Quis
que a Mandarina books fosse um projecto pessoal. Por isso, nos primeiros livros
não pedi nenhum subsídio e, nesta terra de apoios, isso é um risco”, afirmou,
acrescentando que até agora entre “todos os cenários e mais alguns, tinha
criado não sei quantos problemas e dramas que nunca surgiram”. “Tem tudo
corrido de uma forma muito positiva”.
As
obras infantis são todas bilingues e têm em comum Macau e as suas
“particularidades”.
“Estou
super entusiasmada e, às vezes, tenho um discurso um bocadinho ingénuo e muito
apaixonado porque gosto muito do que estou a fazer”. Catarina Mesquita explicou
que além dessa vontade, conta com a experiência profissional de saber, em
termos práticos, o que exige a publicação de uma obra.
“Já
estava a fazer isso em Macau, mas destinado a adultos. A Mandarina acaba por
ser um reflexo da minha personalidade que é o espírito de comunidade. Acho que
Macau é um sítio pequeno e de oportunidades se as pessoas tiverem os olhos e o
coração abertos. Foi essa questão de pensar como posso juntar o que eu gosto,
com o que sei e quero fazer no meu dia a dia”, explicou.
A
autora lamenta que actualmente não seja possível viver da venda de livros em
Macau, mas espera que isso se trate de uma fase.
“Queremos
começar a fazer livros sem ser sobre Macau, para podermos abrir um bocadinho
mais o horizonte. Nós somos de Macau e estamos no mundo, não são só as editoras
dos outros sítios. É preciso mudar esta ideia, que parece que só produz para
dentro e que é só a cidade dos casinos”.
“O
desafio foi fazer livros 100% de Macau. Tudo é feito em Macau, com a excepção
da impressão que é feita na China Continental porque os preços são muito mais
competitivos”, disse ao explicar que os cinco profissionais da equipa estão, de
alguma forma, ligados ao território, incluindo “um ilustrador de Macau, que
vive no Brasil, a tradutora chinesa com hábitos portugueses, um escritor chinês
que se considera de Macau”.
A
editora lançou na semana passada a terceira obra intitulada “Na Rua”.
“Atrevo-me a dizer que a ideia para este livro surgiu na minha primeira semana
em Macau, quando andava nas ruas e pensava: ‘isto é o cenário perfeito para um
livro infantil’”, recordou ao revelar que o título está relacionado com a
actual situação pandémica.
“Estamos
em Macau numa altura em quase nos esquecemos que o mundo inteiro está fechado e
que nós podemos andar na rua. O livro serve para preservar a memória daquilo
que são e vão voltar a ser as ruas de Macau”, mencionou, referindo-se às
habituais multidões.
“Este
livro veio cimentar a nossa posição. Nós precisávamos de um livro de histórias,
mas também de algum reconhecimento por parte da comunidade”, afirmou.
“Tivemos
um processo evolutivo desde o primeiro livro. [O “Little Explores of Macau”]
não foi um livro muito profundo ao nível de conhecimentos, mas também não era
só um livro de autocolantes. Todas as páginas têm um texto que explicam o
património de Macau, que é acompanhado de uma actividade ou um jogo” que
desenvolve várias áreas cognitivas, salientou.
“Depois
lançámos o “Como se diz?”, porque achei que as línguas são muito
importantes, até porque são uma realidade em Macau. Faltava-nos um livro de
histórias”.
O turbilhão de ideias
Segundo
Catarina Mesquita, a editora foi feita um pouco à sua imagem, por isso, não
estabelece prazos para futuros projectos. “Sinto que é preciso fazer e quero
fazer. Sou um turbilhão e tenho milhares de ideias a cada microssegundo e o projecto
da Mandarina é pequenino. Somos uma equipa muito pequena, está muito centrado
em mim. Tenho as ideias, algumas são antigas, e depois ganham forma. No fundo,
é pôr em prática aquilo que me vai na cabeça. Só não ilustro. De resto, edito e
escrevo, além de todas as questões práticas”, contou.
Apesar
de todos os aspectos positivos, não deixou de notar algumas dificuldades que
tem vindo a sentir neste projecto que conta já com três obras publicadas antes
do primeiro ano. “Há um problema logístico em Macau. Além disso, também há os
‘óculos’ que nós pomos de que não há livrarias infantis em Macau, quando há
imensas. Por isso, quando há um volume de negócio um bocadinho maior não há
canais de distribuição organizados”, notou.
Catarina
Mesquita referiu ainda alguns entraves por parte das escolas, particularmente
de língua chinesa. Em questão estará a barreira linguística e alguma
resistência em receber livros que não conhecem.
Sobre
a editora, a autora refere que sente que está a “desbravar” um território por
explorar em Macau. “As pessoas não têm muito a cultura de livros infantis. Os
pais não ofereciam livros às crianças, até uma dada geração. O que acontece
agora é que os pais são pessoas que viajam e que também querem usar os livros
infantis para ensinar outras línguas às crianças”, destacou.
“As
coisas estão a mudar, mas Macau é muito particular. Nem sequer podemos comparar
com a China, porque em termos de livros infantis está a crescer brutalmente.
Macau é muito particular em termos de tudo, até nesta questão”.
O sentido de pertença
Tendo
como cenário Macau, Catarina Mesquita pretende que, através destas obras, os
mais pequenos conheçam de forma mais aprofundada a cidade onde nasceram,
despertando assim o sentido de pertença numa comunidade.
“Queria
chegar às escolas para que as crianças pudessem manusear os livros e que depois
cheguem a casa e digam ‘Mãe, aprendi isto sobre Macau porque li num livro’ e se
for num livro da Mandarina, excelente”, disse, convicta de que os mais pequenos
“não sabem nada sobre Macau”.
Por
isso, “se cada criança de Macau tiver um livro eu dou-me por muito contente,
não pelo número de exemplares, mas porque significa que chegamos a elas”.
Por
agora, Catarina Mesquita está muito satisfeita com os resultados, apesar de não
serem suficientes para a subsistência financeira da editora. “Quando eu digo
que já atingi 1000 crianças em Macau, para o número de crianças não é tão
significativo, mas para nós já é bastante, até porque conheci quase todas as
pessoas que compraram os livros. Consegui entregá-los em mão. Isso também é das
coisas mais importantes”, acrescentou. Sofia Rebelo – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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