Relatório Mundial sobre Crimes da
Vida Selvagem 2020 revela
que pandemia da Covid-19 mostra que delitos contra fauna e flora não são somente
riscos ao meio ambiente e biodiversidade, mas também levam à possibilidade de
doenças zoonóticas; Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal são destacados
por caças furtivas a elefantes, onça-pintada e pesca ilegal de enguias-de-vidro
Quando
animais selvagens são roubados de seu habitat natural, abatidos e vendidos,
ilegalmente, o potencial de transmissão de doenças zoonóticas pode
aumentar.
A
declaração consta do Relatório Mundial sobre Crimes da Vida Selvagem 2020,
lançado esta sexta-feira pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime, Unodc.
Risco
O
documento indica que as doenças zoonóticas representam até 75% de todas as
infecções emergentes incluindo a Covid-19 com um novo coronavírus.
A
agência da ONU cita o tráfico de pangolins, aves, tartarugas, tigres, ursos e
outros. Por serem proibidas, estas
espécies ficam fora de qualquer controlo sanitário ao serem traficadas e
vendidas. Com isso, aumentam os riscos de doenças infecciosas.
Os
pangolins, por exemplo, chegaram a ser identificados como uma fonte potencial
da Covid-19. Eles são os mamíferos selvagens mais traficados no mundo. A
apreensão de escamas desses animais subiu 10 vezes entre 2014 e 2018.
Países lusófonos
O
relatório cita vários países de língua portuguesa. O Brasil é mencionado por
causa da caça ilegal às onças pintadas, que são mortas, geralmente, em
conflitos com seres humanos. Outros países que preocupam na captura dessa
espécie são: Belize, Costa Rica, Honduras,
Panamá, Peru e Suriname.
Já
a Guiné-Bissau, no oeste da África, entrou para o documento por causa do
comércio ilegal da madeira kosso. Em 2017, Singapura apreendeu mais de mil
toneladas deste produto que saiu da Guiné-Bissau com destino ao Vietname.
O relatório
do Unodc ressaltou a caça furtiva a elefantes em Moçambique, especialmente na
região de Niassa e na reserva Selous. O mesmo ocorre com Gabão, República do
Congo e Camarões.
Portugal
foi mencionado devido à pesca ilegal de enguias-de-vidro. Segundo o estudo, as
apreensões globais desta espécie aumentaram desde 2011 e concentram-se também
na França e na Espanha. Os três países
totalizaram cerca de 80% de todas as apreensões.
Resultados
Segundo
a pesquisa, quase 6 mil espécies foram capturadas entre 1999 e 2019. Nenhuma é
responsável por mais de 5% das apreensões e nenhum país foi identificado como
fonte de mais de 9% do número total dos crimes. Os suspeitos de tráfico vinham
de 150 países.
Acabar
com o tráfico da vida selvagem é essencial para proteger a biodiversidade, mas
também para evitar futuras emergências de saúde pública.
A
diretora executiva do Unodc, Ghada Waly, disse que "redes transnacionais
de crime organizado estão colhendo os lucros destes crimes, mas são os pobres
que pagam o preço."
Para
ela, o relatório “pode ajudar a manter essa ameaça no topo da agenda internacional,
aumentar o apoio dos governos a legislação necessária e desenvolver a
coordenação entre as agências.”
Boas notícias
O
documento descreve ainda as principais tendências mundiais e analisa os
mercados de produtos como jacarandá, marfim, chifre de rinoceronte, escamas de
pangolim, répteis vivos e grandes felinos.
Segundo
a pesquisa, a procura por marfim africano e chifre de rinoceronte está em
declínio e o tamanho dos mercados ilícitos está a diminuir. Ainda assim, ao
rendimento ilícito anual gerado pelo tráfico destes produtos chegou a US$ 400
milhões em 2016 e US$ 230 milhões em 2018.
Por
outro lado, a procura por madeira tropical cresceu significativamente nas
últimas duas décadas, com destaque para o jacarandá africano. As apreensões de
produtos com tigres também aumentaram.
Digital
Como
muitos outros mercados, o comércio de animais selvagens e de seus produtos
também se expandiu para a internet como parte do crime cibernético.
As
vendas de determinados produtos, como répteis vivos e produtos de ossos de
tigre, passaram a ser realizadas online e em aplicativos de mensagens
criptografadas. O Unodc afirma que este tipo de comércio é particularmente
difícil de controlar devido à falta de transparência, regulações inconsistentes
e capacidade limitada da lei.
Por
tudo isto, o relatório pede um reforço dos sistemas de justiça criminal,
melhorando leis e fortalecendo os processos de investigação e acusação. Também
é necessário melhorar a cooperação internacional e investigações
transfronteiriças.
O
Unodc sugere que os Estados-membros classifiquem estes delitos na Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional como um crime grave. ONU
News – Nações Unidas
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