É
normal a imprensa ser detestada pelos corruptos e golpistas. Sempre existe um
repórter, atacado pelos extremistas, descobrindo e tornando públicos um negócio
escuso, uma trama, um desvio de dinheiro, uma conta secreta, um documento
escondido.
É
o caso do processo e condenação a cinco anos de prisão do ex-presidente francês
Nicolas Sarkozy, sob a acusação de organizador de uma associação de
malfeitores financiada pelo líbio Muamar Khadafi, por coincidência alguns dias
depois da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No
caso de Sarkozy, existe uma organização francesa de jornalistas investigativos
especializada em localizar e seguir, sempre denunciando e publicando, etapa por
etapa, os resultados de suas buscas. Ao mesmo tempo a condenação de Sarkozy
assinala mais uma vitória do chamado jornalismo de investigação, corporificado
e liderado na França pelo temido grupo de jornalistas do Mediapart, definido como uma espécie de fósforo cuja chama clareia
e revela o lugar onde ocorre o escândalo ou crime, ao mesmo tempo que provoca o
incêndio.
Mediapart
não quer a exclusividade na investigação do escândalo revelado, contenta-se em
mostrar e abrir o caminho para toda imprensa, seja o Le Monde, Libération, rádios e canais de
televisão.
O
caso Sarkozy começou há 14 anos com uma reportagem do jornalista Fabrice Arfi
até terminar com uma severa sentença de cinco anos contra o ex-presidente.
Mediapart foi também quem alertou a imprensa e a Justiça no recente caso de
corrupção, desvio de fundos públicos, envolvendo os assistentes parlamentares
do partido Reunião Nacional da líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen.
Condenada a quatro anos de prisão, Marine se tornará inelegível à presidência
da França, se seus recursos contra a sentença não forem aceites.
Foi
também Mediapart quem denunciou o ator Gérard Depardieu por agressão sexual,
também condenado. Por isso, o dirigente da ONG francesa anticorrupção Sherpa,
declarou ser hoje reconhecido pelos juízes franceses o fundamento das acusações
quando originárias de Mediapart.
Além
disso, ajuntou, Mediapart não deixa as acusações serem esquecidas, fazendo com
que avancem durante o passar dos anos com novas investigações e revelações,
como foi no caso de Sarkozy com o financiamento de parte de sua campanha
eleitoral pelo ditador líbio Muamar Kadhafi.
Embora
alguns possam julgar serem os políticos de direita ou extrema-direita os alvos
de Mediapart, uma rápida pesquisa afasta essa hipótese, pois a extrema-esquerda,
França Insubmissa e seu líder Jean-Luc Mélenchon já foram também alvo de
denúncias quanto às contas relacionadas com o
financiamento da campanha eleitoral de Mélenchon. Denúncias também
contra a deputada da França Insubmissa Sophia Chikirou por abuso de bens
sociais na última campanha eleitoral.
Apesar
de sua importância e força, Mediapart tem a estrutura de um jornal de
investigação numérico apenas online com 245 mil assinantes, menor
portanto que muitos canais brasileiros nas redes sociais. Foi criado em 2008
por um grupo de jornalistas liderado por Edwy Plenel e é presidido pela
jornalista Carine Fouteau. Rui Martins – Suíça
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Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da
Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça,
correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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