Em
paralelo às expulsões de imigrantes dos Estados Unidos aplicadas pelo ICE
(Immigration and Customs Enforcement), geralmente com o uso da força e, se
necessário, da violência, agora são os próprios indígenas norte-americanos,
como os Navajos, que temem ser presos pelo ICE e deportados não sabem para
onde.
De
acordo com dados oficiais, mais de 400 mil imigrantes sem papéis já foram
expulsos, entre eles mais de dois mil brasileiros. Outros, num total de um
milhão e seiscentos mil chamados de ilegais,
preferiram sair voluntariamente, alguns recebendo uma ajuda de custo.
De
acordo Jonathan Nez, ex-presidente dos Navajos do Arizona, numa reportagem do Le Temps, jornal suíço, muitos
indígenas mais velhos têm medo de sair do território da reserva e serem
apanhados pelo ICE, pois não têm nenhum documento, nasceram em casa e ficaram
sem uma certidão de nascimento.
Assim,
os ameríndios dos Estados Unidos temem serem deportados de suas terras
ancestrais. A administração Trump está anulando todas regras antes existentes
entre as diversas populações ameríndias e mesmo questionando sua cidadania.
Como
aconteceu no Brasil, os indígenas foram dizimados
ou transferidos para outras regiões menos produtivas pelos colonizadores. Foi
assim com os Cherokees, removidos para o Oeste pelo Indian Removal Act de 1830.
Seguido do Indian Appropriation Act.
Enquanto
no Brasil são missões religiosas norte-americanas encarregadas da assimilação
dos indígenas da Amazônia, houve nos EUA uma assimilação forçada de crianças
ameríndias em pensionatos, onde eram proibidas sua língua, religião e sua
cultura.
Uma
esperança surgiu com Joe Binden, responsável pela nomeação de uma primeira
ameríndia como ministra do Interior, Deb Haaland, responsável por utilizar
bilhões de dólares para melhorar as condições de vida nas reservas. Ela também
criou uma unidade especial para investigar os milhares de casos de desaparecimento e assassinatos de
indígenas.
Donald
Trump, no seu retorno à presidência, justamente no primeiro dia, revogou a
cidadania norte-americana por nascimento. Esse decreto visa também os
ameríndios que só tiveram direito a um passaporte em 1924. Trump cortou também
subvenções à cultura, escolas e universidade para ameríndios e anulou
investimentos em infraestruturas e energias limpas nas reservas, muitas delas
ainda sem eletricidade. Está programado o fim dos serviços médicos gratuitos
nas reservas com sua privatização.
E
assim chegamos ao livro Enterrem Meu Coração na Curva do Rio, de Dee Brown,1970, traduzido pelo
conhecido jornalista do Estadão, JT, Veja, Geraldo Galvão Ferraz, o Kiko,
trazido à atualidade pelo Eduardo
Bueno, também jornalista, tradutor e influencer.
Esse
livro conta uma parte da história de crimes cometidos pelos descobridores e
colonizadores imigrantes no que seriam os Estados Unidos, na chamada Conquista
do Oeste. Essa história da colonização dos Estados Unidos foi levada ao cinema
hollywoodiano, cujos filmes faroestes transformaram em heróis os massacradores
de ameríndios. Rui Martins – Suíça
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Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da
Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça,
correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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