“Motivo”
Eu canto porque o instante
existe
e a minha vida está
completa.
Não sou alegre nem sou
triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem
tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se
edifico,
se permaneço ou me
desfaço,
— não sei, não sei. Não
sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção
é tudo.
Tem sangue eterno a asa
ritmada.
E um dia sei que estarei
mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles – Brasil
In VIAGEM (Edições Ocidente)
| Cecília Meireles pelo traço de Luísa Fresta |
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Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 – 9 de novembro
de 1964) foi poeta, jornalista, professora, tradutora e pintora, considerada
uma das maiores vozes da literatura brasileira e uma das principais
representantes do Modernismo.
Desde
muito jovem, demonstrou amor pela leitura e pela educação, formando-se
professora aos 16 anos e iniciando a sua carreira no magistério público. Em
1934, fundou o Centro de Cultura Infantil, no Rio de Janeiro — a primeira
biblioteca infantil do Brasil — revelando o seu profundo compromisso com a
formação de leitores e o acesso à cultura desde a infância.
Publicou
o seu primeiro livro, Espectros, em 1919, e, ao longo de sua vida,
lançou mais de 50 obras entre poesias, crónicas e traduções, consolidando um
estilo neossimbolista, marcado por temas como o tempo, a espiritualidade, o
silêncio e a contemplação da vida. O seu livro Viagem (1939) recebeu o
Prémio de Poesia da Academia Brasileira de Letras e a consagrou como uma das
mais importantes poetas da língua portuguesa.
Como
educadora e intelectual, Cecília defendeu reformas no ensino e a criação de
bibliotecas públicas e infantis. Lecionou em universidades brasileiras e
estrangeiras, entre elas a Universidade do Texas, e foi convidada por
Jawaharlal Nehru, primeiro-ministro da Índia, para participar de um congresso
sobre Gandhi, onde recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de
Delhi (1953).
Também
se destacou como tradutora, difundindo para o português obras de autores como
Rabindranath Tagore, Virginia Woolf, García Lorca e Rainer Maria Rilke. A sua
produção ultrapassou fronteiras e foi traduzida para diversos idiomas.
Falecida
em 1964, Cecília Meireles deixou um legado de beleza, sensibilidade e
compromisso com a educação e a liberdade, sendo homenageada em escolas, prémios,
moedas e monumentos no Brasil e no exterior.
A
sua vida e obra continuam a inspirar gerações com versos que celebram o sonho,
a natureza e o espírito humano. In “Governo Municipal de Caraguatatuba”
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