As Casas da Taipa recebem, a partir de amanhã, mais uma edição do Festival da Lusofonia. Este ano, o país em destaque é Angola, que terá um stand em forma de máquina agrícola. Enquanto isto, a “barraquinha” de Portugal irá reproduzir “Os Impérios do Divino Espírito Santo”, pequenas construções religiosas dos Açores. O coordenador do evento, António Machado, disse ao Jornal Tribuna de Macau esperar que “as pessoas voltem a acorrer ao espaço, dando assim continuidade ao sucesso que o festival tem tido desde que foi criado”
As
previsões meteorológicas prevêem sol nos próximos dias, sem chuva, o que é
“desde já uma excelente notícia” para quem se prepara para acorrer amanhã às
Casas da Taipa, dia inaugural da edição deste ano do Festival da Lusofonia.
O
coordenador do evento disse ao Jornal Tribuna de Macau esperar que se confirmem
as previsões, “para que as pessoas voltem a acorrer ao espaço, dando assim
continuidade ao sucesso que o festival tem tido desde que foi criado”. António
Machado sublinha que “está tudo a postos para a festa”, considerando que o
programa “vai certamente ser do agrado do público, com muita diversidade
musical, gastronomia, jogos tradicionais e muito convívio entre pessoas das
mais variadas culturas”.
O
funcionário do Instituto Cultural responsável pelos pormenores da organização
do evento frisa que “este espírito entre as comunidades, o intercâmbio
cultural, sempre foi o nosso primeiro objectivo e penso que temos conseguido
divulgar ao público a cultura que está aqui enraizada há mais de 400 anos”.
Relembra
que foi o presidente da então Câmara das Ilhas, Madeira de Carvalho, em 1998, o
grande mentor do Festival da Lusofonia. “Nessa altura, o evento era de apenas
um dia e a organização individual, ou seja, uma festa entre amigos,
representando as comunidades lusófonas aqui radicadas, uma vez que não havia
ainda associações”, salienta.
Este
ponto de encontro, garante, “foi o início de uma festa popular, que passou no
ano seguinte a ter dois dias de duração e posteriormente três”. A ideia surgida
há 28 anos tem tido um “grande sucesso”, porque “toda a gente contribuiu para
isso, as associações, entretanto criadas, os visitantes, mantendo-se
inalteradas as componentes que presidiram à organização do festival desde o seu
início, mas com as melhorias que pretendemos no que diz respeito à qualidade
dos artistas presentes”, assinala.
O
alargamento do período do festival para dois fins-de-semana consecutivos, desde
o ano passado, “foi o resultado desse sucesso e sentimos que a população local
tem fome deste tipo de iniciativas com grande tradição no território”, observa.
Nos
últimos dias, tem aumentado a azáfama dos elementos ligados às respectivas
associações para ultimar pormenores, tendo em vista a finalização das
“barraquinhas”.
Da agricultura angolana aos símbolos açorianos
O
Jornal Tribuna de Macau já havia divulgado alguns dos temas das bancas que
estarão perfiladas ao longo da avenida onde se encontram as Casas da Taipa,
como A Bossa Nova do Brasil e o café de Moçambique, mas todas as associações
terão espaços temáticos para divulgar aos visitantes. Dois exemplos vêm da Casa
de Portugal, que apresenta como foco principal os “Impérios do Divino Espírito
Santo” dos Açores, e de Angola, que promove a agricultura, reproduzida num
tractor, ou máquina agrícola.
Ao
país africano foi dado o destaque da edição deste ano do Festival, por isso,
está em Macau uma cozinheira e um artista plástico. “A chefe Lisandra, de
Luanda, vai confeccionar pratos típicos angolanos, enquanto Armando Scott
estará a fazer pintura e retratos das pessoas”, disse ao JTM o presidente da
Associação Angola Macau, Anacleto Cabaça, acrescentando que a responsabilidade
de toda a parte artística da tenda cabe a Nelma Silvestre.
Quanto
à Casa de Portugal, a presidente Amélia António referiu ao nosso jornal que a
ideia de introduzir os “Impérios do Divino Espírito Santo”, original dos
Açores, vem na sequência de “tentar fazer algo diferente, depois de tantos anos
a participar”.
Presentes
em todas as ilhas açorianas, as pequenas construções religiosas, geralmente
coloridas e decoradas, ocupam um lugar central na vida das freguesias. Mais do
que edifícios, são espaços de encontro, partilha e celebração, tornam-se palco
das festas do Espírito Santo, entre Abril e Junho.
Segundo
um painel explicativo que estará exposto na “barraquinha” da Casa de Portugal,
“estas celebrações incluem coroações simbólicas, procissões e a generosa
distribuição de alimentos – pão, carne e a tradicional sopa do Espírito Santo –
oferecidos gratuitamente à comunidade”. São gestos que “reflectem os valores de
humildade, fraternidade e solidariedade que definem esta devoção”, adianta o
texto, informando que a tradição remonta ao século XV, trazida pelos primeiros
povoadores portugueses.
“Com
o tempo, essa tradição adquiriu uma expressão única nos Açores, misturando fé
cristã com práticas comunitárias, tendo evoluído de estruturas móveis e simples
para edifícios fixos, muitos deles ornamentados com coroas, pombas e bandeiras,
símbolos que enriquecem o património espiritual e visual das ilhas”, descreve o
painel.
Para
além deste tema central, a Casa de Portugal contará com espaços de gastronomia
junto no Largo no Carmo, através da comida do restaurante Lvsitanvs, e na parte
de baixo com café, doces, salgados e petiscos, mas também artesanato, cerâmica,
jogos tradicionais, orientados por Cândido de Azevedo, zona de entretenimento
para crianças e o habitual campeonato de matraquilhos.
Para
além das associações referidas acima, participam também no evento
representações de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, São Tomé e
Príncipe, Timor-Leste, Goa, Damão e Diu, para além da comunidade macaense.
Espectáculos na comunidade arrancam no Bairro Iao Hon
Alguns
dos artistas musicais que vão actuar no palco do festival, começam já hoje a
exibir-se no Bairro Iao Hon, inseridos no programa de espectáculos na
comunidade, estando agendadas, entre as 18h30 e as 20h30, desempenhos das
bandas de Memu Sunhu, da Guiné-Bissau, e Rui Orlando, de Angola, assim como
grupos de dança da China, de Guangdong, Negros Unidos, da Guiné Equatorial, e
Carimbó Paidégua, do Brasil.
Ao
longo do fim-de-semana haverá outros “shows” musicais, entre os quais dos
Kalema, no sábado, pelas 20h00, não faltando, durante a tarde dos três dias,
actuações de outros grupos, cantores e bandas locais.
Para
Amélia António, o Festival da Lusofonia continua a justificar-se cada vez mais.
“A comunidade portuguesa tem diminuído, mas a participação e a presença das
pessoas não diminui, tem até aumentado, porque a população local e os
visitantes interessam-se e gostam imenso desta festa, a qual é talvez aquela
que arrasta mais gente”, admite.
Comparando
o Festival da Lusofonia com a Semana Cultural, ambas dedicadas às tradições e
culturas dos países de expressão portuguesa, a dirigente lamenta que a Semana
Cultural tenha pouca gente, “porque teima em não fazer divulgação, repetindo-se
os mesmos erros todos os anos, num evento que implica esforço e despesa e que
continua a não ter o eco pretendido”.
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