“Orfandade”
Quando folhagem esparsa
respirava dia
Um cão de finta sacudia
desconforto
Plasmado na negrura do
frio mordendo
Irada parede órfã onde
a voz morria
Pesadelo de aço aos
ombros do nevoeiro
Só o grito afiado
daquele banjo à solta
Escrevia sacrílego
rasto de inocência
Nas rugas da pele
macerada de Janeiro
Ó tardio desterro
coalhado de esporas
Em sobressalto
inusitado na terra chã
Pelos anos perdidos
velando deus e medo
Sob ténue esgar de
afeição a desoras
Como seixos rolantes na
vaga alterada
Rodaram clamores contra
estorvo antigo
E nos cabelos soltos
das árvores sem tempo
Esperam por ti pássaros
da hora encantada.
Regina Correia – Portugal / Angola
In
Conjugação de Mapas, p.81 (Editorial Novembro)
____________
Regina
Correia, luso-angolana, é natural de Viseu. Licenciada
em Filologia Germânica, pela Faculdade de Letras de Lisboa, foi professora do
ensino secundário em Angola, Portugal e na Alemanha. Tem coordenado projetos
culturais e recitais poéticos, sobretudo junto de instituições cabo-verdianas.
Publicou seis obras literárias, duas de ficção (Os Enteados de Deus e Uma
Borboleta na Cidade) e quatro de poesia (Noite Andarilha, Sou
Mercúrio, Já Fui Água, Conjugação de Mapas, No Coração dos
Desertos e outros Oásis). Venceu os prémios Clarice Lispector “Melhor Poeta
do Ano de 2018” e “Melhor Livro de Poesia 2021”, pela Editora ZL (Brasil) e
ainda o “Prémio Destaque Literário” (2019), pela Literarte (Brasil). É membro
da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Participou na primeira Reunião
Multipartidária de Angola, em 1992.
UCCLA - Lançamento do livro "Conjugação de
Mapas" de Regina Correia
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