“Casamento”
Há
mulheres que dizem:
Meu
marido, se quiser pescar, pesque
mas
que limpe os peixes.
Eu
não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo
a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É
tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de
vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele
fala coisas como 'este foi difícil'
'prateou
no ar dando rabanadas'
e
faz o gesto com a mão.
O
silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa
a cozinha como um rio profundo.
Por
fim, os peixes na travessa,
vamos
dormir.
Coisas
prateadas espocam:
somos
noivo e noiva.
Adélia Prado – Brasil
In “Terra de
Santa Cruz” (Editora Record)
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Adélia Prado
nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, em 1935, onde reside até hoje. A sua
formação é em Magistério e Filosofia. Em 1976, publicou Bagagem. O ano
de 1978 marca o lançamento de O coração disparado, que é agraciado com o
Prémio Jabuti. Estreia-se em prosa no ano seguinte, com Solte os cachorros,
e logo depois publica Cacos para um vitral. Em 1981 lança Terra de
Santa Cruz. Os componentes da banda é publicado em 1984 e, a seguir,
O pelicano e A faca no peito. Em 1991 é publicada a sua Poesia
reunida. Em 1994, após anos de silêncio poético, ressurge com o livro O
homem da mão seca. Em 1999 são lançados Manuscritos de Felipa, Oráculos
de maio e a sua Prosa reunida. Em 2010 recebeu o Prémio Literário da
Fundação Biblioteca Nacional e o Prémio da Associação Paulista dos Críticos de
Arte. Em 2023 foi-lhe atribuído o Prémio Machado de Assis e em junho de 2024 o Prémio Camões. In “Wook”
Lusofonia - Poeta brasileira Adélia Prado vence Prémio
Camões 2024
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