Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Internacional - Programa norueguês financia projeto de doutoranda da Universidade do Porto no Ártico

A estudante e investigadora Eva Lopes está de regresso ao Ártico para estudar os efeitos do aquecimento global nas comunidades microbianas


Eva Lopes, estudante do Doutoramento em Ciência, Tecnologia e Gestão do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), conquistou o Arctic Field Grant (AFG), uma bolsa destinada a apoiar cientistas em início de carreira.

A jovem cientista de 28 anos está a estudar como é que os ecossistemas marinhos do Ártico — uma região que está a aquecer quatro vezes mais rápido do que o resto do planeta — irão responder a um ambiente em rápida transformação. “Este aquecimento provoca alterações profundas na dinâmica dos ecossistemas marinhos, incluindo o aumento da entrada de matéria orgânica na água, seja por degelo, maior produtividade primária ou mudanças na circulação oceânica”, explica Eva.

Com esta bolsa, a estudante está, pela primeira vez, na estação científica de Ny-Ålesund, em Svalbard, na Noruega, enquanto investigadora principal, o que considera um “feito bastante emocionante, motivador e motivo de orgulho”.

Eva tem feito experiências para simular cenários de alterações nos ecossistemas e para isso tem usado duas culturas de algas: diatomáceas e microalgas do género Phaeocystis. Durante um bloom (entrada de biomassa sazonal), há uma rápida assimilação de nutrientes inorgânicos como nitrato, fosfato e sílica por parte destes organismos, o que pode levar a desequilíbrios na disponibilidade relativa destes elementos.

“Estes microrganismos desempenham um papel central na conversão da matéria orgânica de volta a formas inorgânicas, isto é, repõem os nutrientes na coluna de água e influenciam a sua distribuição vertical”, detalha a investigadora.

As comunidades microbianas têm processos metabólicos que são vitais para os ecossistemas marinhos. A resposta microbiana à entrada de matéria orgânica vai afetar diretamente a eficiência da reciclagem de nutrientes e a disponibilidade futura para novos ciclos de produção primária e, por isso, é determinante a compreensão e estudo das mudanças que podem acontecer nestas comunidades.  

A estudante da FCUP tem estudado a composição e as interações das comunidades microbianas (procariotas e protistas), com foco na sua taxonomia e dinâmica ecológica e com este projeto pretende agora avaliar os mecanismos de adaptação e interação microbiana em cenários de mudança ambiental. 

Para Eva Lopes, esta bolsa, no valor de 10 mil euros, será “de grande relevância” para o seu doutoramento e será a base para o capítulo final da sua tese.

O projeto “Life on the Edge: Unraveling Arctic Microbial Transformations from Winter to Summer” decorre até 25 de outubro. A investigadora está integrada na equipa “Ecologia e Biogeoquímica dos Microbiomas do CIIMAR” e o seu doutoramento conta com a orientação da docente da FCUP e investigadora do CIIMAR, Catarina Magalhães e dos cientistas Miguel Semedo, do CIIMAR e Philipp Assmy, do Instituto Polar Norueguês.  

Um trabalho em constante evolução

Esta é a quinta vez que Eva Lopes participa em trabalho de campo no Oceano Ártico. A estudante tem trocado os verões quentes de Portugal pelos dias polares nesta região. Em 2023, quando começou o doutoramento, participou pela primeira vez numa campanha de monitorização pelágica sazonal. Esta consiste na recolha, semanal, entre maio até inícios de setembro, de amostras de água para a genómica microbiana, clorofila, nutrientes, fitoplâncton, zooplâncton, oxigénio e matéria orgânica numa estação a meio do fjord.

No ano seguinte, voltou ao Ártico para uma expedição científica a bordo do navio de investigação Mirai, do instituto Japan Agency Marine-Earth Science and Tecnology (JAMSTEC), com o objetivo de compreender os efeitos do aumento do fluxo de calor do Pacífico na diversidade e funções do plâncton nesta região. 

Atualmente, com este projeto, de cerca de três semanas de duração, a estudante recolheu amostras de genes, nutrientes e clorofila, a bordo do pequeno navio de investigação Jean Floc’h a 200 metros de profundidade através de uma garrafa de Niskin de 12L. A primeira experiência está a decorrer no laboratório da estação, mas toda a restante análise terá lugar no CIIMAR. Universidade do Porto - Portugal      


Sem comentários:

Enviar um comentário