Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Macau - Morreu chef António, “grande figura” da gastronomia portuguesa

O chef António faleceu em Macau, aos 77 anos. Considerado uma “grande figura” da gastronomia portuguesa, é recordado como uma pessoa “afável”, “brincalhona”, por vezes, “um pouco polémico nas opiniões”. António Neves Coelho foi galardoado com a medalha de mérito turístico pelo Governo da RAEM em 2013 e recebeu também a medalha de mérito das comunidades portuguesas do Governo Português


António Neves Coelho, mais conhecido por chef António, faleceu aos 77 anos, em Macau. Figura incontornável da gastronomia portuguesa no território, chegou a Macau pela primeira vez em 1970, onde cumpriu serviço militar obrigatório durante dois anos. Décadas depois, em 1997, decidiu começar um novo capítulo a Oriente. Um “autêntico artista” e “brincalhão”, pessoa “afável”, por vezes, “um pouco polémico nas opiniões”, o chef António é recordado como tendo dado “grandes contributos” na área da gastronomia.

Vera Alcobia trabalhou, durante cerca de cinco anos, como assistente de António Coelho no restaurante que tinha o seu nome, num espaço que projectou a qualidade da comida por ele confeccionada. “Ele era um autêntico artista, para além de ser um grande amigo, sempre muito brincalhão com toda a gente que trabalhava com ele e muito preocupado com os funcionários”, começou por referir ao Jornal Tribuna de Macau aquela que esteve ao lado do chef em muitos momentos da sua vida pessoal e profissional em Macau, e que o considerava “quase como um pai ou avô”.

Para Vera Alcobia, também ela ligada à restauração e à hotelaria, “ele tinha aquela forma de abrir as garrafas com uma espada e fazia sempre as suas demonstrações”, acrescentando que o António “usou sempre o lema de que não é preciso ralhar para ensinar bem as pessoas”.

Mesmo que “amado por uns e odiado por outros”, o chef António Coelho “foi uma figura que conseguiu manter a qualidade da comida portuguesa, fabricando tudo no próprio restaurante, incluindo o pão, os rissóis, tudo, primando pela qualidade”, considerou, adiantando que “ainda hoje há muitos funcionários espalhados por Macau que continuam com o trato dele na forma de cozinhar”.

O mais recente projecto do chef foi o Angela’s Café and Lounge, no Hotel Lisboeta. “Ele estava a adorar o novo desafio, de voltar a ver os clientes e servir as coisas que ele gostava de fazer”. Para Vera Alcobia, o amigo “partiu” numa altura em que também ela está de partida do território. “É triste”, conclui.

Foi também com “muita tristeza” que Santos Pinto, dono do restaurante “O Santos”, recebeu a notícia. “Mais um amigo que partiu… Vinha aqui muitas vezes [ao restaurante], acompanhei-o sempre de muito perto”, afirmou em declarações a este jornal, recordando todos os passos dados por António em termos profissionais.

“Éramos amigos próximos. Depois quando ele abriu o ‘António’ aqui na Taipa, ficou muito mais ocupado, já não tínhamos tanto tempo, mas havia sempre aquele abraço, com muita amizade”, acrescentou. Santos Pinto sublinhou que António “deu muitos contributos para Macau, concretamente à gastronomia portuguesa e macaense”.

Carlos Cabral, presidente da Confraria da Gastronomia Macaense – da qual António Coelho foi confrade -, disse que “é uma grande tristeza a perda de uma grande figura na gastronomia portuguesa aqui em Macau”. Durante anos, realçou Carlos Cabral, o chef “praticou e desenvolveu o seu trabalho sempre bem prestado à comunidade portuguesa e macaense, bem como aos turistas de vários cantos do mundo”.

Pedro Lobo recorda igualmente a “figura incontornável” de António na cozinha em Macau: “É uma perda muito grande na cena da gastronomia. Era alguém que dava o seu toque, o seu cunho pessoal na comida portuguesa, na maneira como servia os seus clientes, na maneira como respeitava os seus clientes”.

Segundo disse, “o chef António era uma das pessoas que conhecia a fundo a gastronomia portuguesa”. “Às vezes, era um pouco polémico nas opiniões que emitia, mas de qualquer dos modos era alguém que tinha valor e que ficará sempre marcado na história da gastronomia de Macau, nomeadamente na área da comida portuguesa”, prosseguiu Pedro Lobo.

Vincando que o chef gostava, por vezes, de “provocar discussões, no bom sentido”, Pedro Lobo sublinhou que “era uma pessoa sempre afável, impecável”. “Era uma pessoa muito amiga, com quem nós convivíamos, brincávamos, por isso será sempre alguém que será recordado com muita saudade”, apontou.

Galardoado com a medalha de mérito turístico pelo Governo da RAEM em 2013, António Neves Coelho recebeu também a medalha de mérito das comunidades portuguesas do Governo Português.

Quando chegou ao território pela segunda vez, já perto da transferência de soberania, trabalhou em vários restaurantes, tendo sido chefe de cozinha no Clube Militar e no restaurante “Espaço Lisboa”. Teve também uma breve passagem por Hong Kong.

Em 2007, abriu o restaurante com o seu nome, na Taipa Velha, o qual recebeu vários elogios internacionais. Foi ainda destacado, durante 12 anos consecutivos, com o “Guia Michelin Hong Kong e Macau”.

Além de confrade da Confraria da Gastronomia Macaense e membro da Associação Culinária de Macau, António Neves Coelho era também “Maitre Rotisseur” da Association Mondiale de la Gastronomie, de França. Catarina Pereira e Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


Sem comentários:

Enviar um comentário