O chef António faleceu em Macau, aos 77 anos. Considerado uma “grande figura” da gastronomia portuguesa, é recordado como uma pessoa “afável”, “brincalhona”, por vezes, “um pouco polémico nas opiniões”. António Neves Coelho foi galardoado com a medalha de mérito turístico pelo Governo da RAEM em 2013 e recebeu também a medalha de mérito das comunidades portuguesas do Governo Português
António
Neves Coelho, mais conhecido por chef António, faleceu aos 77 anos, em Macau.
Figura incontornável da gastronomia portuguesa no território, chegou a Macau
pela primeira vez em 1970, onde cumpriu serviço militar obrigatório durante
dois anos. Décadas depois, em 1997, decidiu começar um novo capítulo a Oriente.
Um “autêntico artista” e “brincalhão”, pessoa “afável”, por vezes, “um pouco
polémico nas opiniões”, o chef António é recordado como tendo dado “grandes
contributos” na área da gastronomia.
Vera
Alcobia trabalhou, durante cerca de cinco anos, como assistente de António
Coelho no restaurante que tinha o seu nome, num espaço que projectou a
qualidade da comida por ele confeccionada. “Ele era um autêntico artista, para
além de ser um grande amigo, sempre muito brincalhão com toda a gente que
trabalhava com ele e muito preocupado com os funcionários”, começou por referir
ao Jornal Tribuna de Macau aquela que esteve ao lado do chef em muitos momentos
da sua vida pessoal e profissional em Macau, e que o considerava “quase como um
pai ou avô”.
Para
Vera Alcobia, também ela ligada à restauração e à hotelaria, “ele tinha aquela
forma de abrir as garrafas com uma espada e fazia sempre as suas
demonstrações”, acrescentando que o António “usou sempre o lema de que não é
preciso ralhar para ensinar bem as pessoas”.
Mesmo
que “amado por uns e odiado por outros”, o chef António Coelho “foi uma figura
que conseguiu manter a qualidade da comida portuguesa, fabricando tudo no
próprio restaurante, incluindo o pão, os rissóis, tudo, primando pela
qualidade”, considerou, adiantando que “ainda hoje há muitos funcionários
espalhados por Macau que continuam com o trato dele na forma de cozinhar”.
O
mais recente projecto do chef foi o Angela’s Café and Lounge, no Hotel
Lisboeta. “Ele estava a adorar o novo desafio, de voltar a ver os clientes e
servir as coisas que ele gostava de fazer”. Para Vera Alcobia, o amigo “partiu”
numa altura em que também ela está de partida do território. “É triste”,
conclui.
Foi
também com “muita tristeza” que Santos Pinto, dono do restaurante “O Santos”,
recebeu a notícia. “Mais um amigo que partiu… Vinha aqui muitas vezes [ao
restaurante], acompanhei-o sempre de muito perto”, afirmou em declarações a
este jornal, recordando todos os passos dados por António em termos
profissionais.
“Éramos
amigos próximos. Depois quando ele abriu o ‘António’ aqui na Taipa, ficou muito
mais ocupado, já não tínhamos tanto tempo, mas havia sempre aquele abraço, com
muita amizade”, acrescentou. Santos Pinto sublinhou que António “deu muitos
contributos para Macau, concretamente à gastronomia portuguesa e macaense”.
Carlos
Cabral, presidente da Confraria da Gastronomia Macaense – da qual António
Coelho foi confrade -, disse que “é uma grande tristeza a perda de uma grande
figura na gastronomia portuguesa aqui em Macau”. Durante anos, realçou Carlos
Cabral, o chef “praticou e desenvolveu o seu trabalho sempre bem prestado à
comunidade portuguesa e macaense, bem como aos turistas de vários cantos do
mundo”.
Pedro
Lobo recorda igualmente a “figura incontornável” de António na cozinha em
Macau: “É uma perda muito grande na cena da gastronomia. Era alguém que dava o
seu toque, o seu cunho pessoal na comida portuguesa, na maneira como servia os
seus clientes, na maneira como respeitava os seus clientes”.
Segundo
disse, “o chef António era uma das pessoas que conhecia a fundo a gastronomia
portuguesa”. “Às vezes, era um pouco polémico nas opiniões que emitia, mas de
qualquer dos modos era alguém que tinha valor e que ficará sempre marcado na
história da gastronomia de Macau, nomeadamente na área da comida portuguesa”,
prosseguiu Pedro Lobo.
Vincando
que o chef gostava, por vezes, de “provocar discussões, no bom sentido”, Pedro
Lobo sublinhou que “era uma pessoa sempre afável, impecável”. “Era uma pessoa
muito amiga, com quem nós convivíamos, brincávamos, por isso será sempre alguém
que será recordado com muita saudade”, apontou.
Galardoado
com a medalha de mérito turístico pelo Governo da RAEM em 2013, António Neves
Coelho recebeu também a medalha de mérito das comunidades portuguesas do
Governo Português.
Quando
chegou ao território pela segunda vez, já perto da transferência de soberania,
trabalhou em vários restaurantes, tendo sido chefe de cozinha no Clube Militar
e no restaurante “Espaço Lisboa”. Teve também uma breve passagem por Hong Kong.
Em
2007, abriu o restaurante com o seu nome, na Taipa Velha, o qual recebeu vários
elogios internacionais. Foi ainda destacado, durante 12 anos consecutivos, com
o “Guia Michelin Hong Kong e Macau”.
Além
de confrade da Confraria da Gastronomia Macaense e membro da Associação
Culinária de Macau, António Neves Coelho era também “Maitre Rotisseur” da
Association Mondiale de la Gastronomie, de França. Catarina Pereira e Vítor
Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
Sem comentários:
Enviar um comentário