De
dançarinos celestiais a estátuas de Budas, o Camboja está a tentar recuperar
milhares de esculturas saqueadas de seus icónicos templos de Angkor e outros
monumentos, e vendidas a coleccionadores internacionais e até museus de
prestígio.
Autoridades
cambojanas teriam recuperado mais de 600 obras desde 1996, mas ainda têm um
longo caminho a percorrer para recuperar todas as peças perdidas.
Em
Maio, escreveram ao governo britânico, ao Museu Britânico e ao Museu Victoria
and Albert (V&A) sobre cerca de 150 obras khmer que podem ter sido
roubadas.
“Actualmente,
estamos cientes de milhares de estátuas em museus e colecções particulares fora
do Camboja”, disse Brad Gordon, advogado da Edenbridge Asia que assessora o
governo cambojano nos seus esforços de recuperação.
“Estamos
a rastrear propriedades culturais cambojanas saqueadas em vários países, como
Reino Unido, EUA, França, Alemanha e outros lugares. Também estamos a pesquisar
bens culturais cambojanos em mais de 100 museus, do Metropolitan Museum ao
British Museum e à National Gallery of Australia”, disse à EFE.
“Algumas
instituições estão a ser extremamente gentis e cooperativas, como a Galeria
Nacional da Austrália, enquanto outras são tímidas”.
A
maioria das peças roubadas pertence ao antigo Império Khmer, uma civilização
hindu-budista que dominou grandes áreas do Sudeste Asiático entre os séculos IX
e XV e construiu os impressionantes templos de Angkor, declarados Património da
Humanidade pela UNESCO.
A
pilhagem cambojana ocorreu principalmente na tumultuosa era da década de 1960,
durante a década de 1990 e até a década de 2000, incluindo a guerra civil
relacionada ao conflito no Vietname, o regime genocida do Khmer Vermelho e a
década seguinte sob ocupação vietnamita.
As
rotas daqueles que roubaram as esculturas passavam principalmente pela
Tailândia e instruíram os moradores locais a roubar as obras dos templos Khmer,
pagando cerca de 12 dólares norte-americanos por noite, escreveram Simon
Mackenzie e Tess Davis no artigo académico “Temple looting in Cambodia: Anatomy
of The Statue Trafficking Network”.
Numa
carta endereçada à secretária de cultura britânica Nadine Dorries em 12 de Maio,
o governo cambojano frisou que “lançou uma campanha mundial para a devolução
das suas antiguidades roubadas, muitas das quais foram removidas de antigos
templos do Camboja durante as décadas de guerra civil, guerra e genocídio em
nosso país”.
A
carta, assinada pela ministra da Cultura e Belas Artes Phoeurng Sackona, afirma
que algumas obras cambojanas saqueadas “durante um período de caos” acabaram
nos museus britânico e V&A-Victoria e Albert Museum. Também lembra a
Dorries que o contrabando de obras culturais é proibido pela Convenção de Haia
de 1954 e pela Convenção de 1970 sobre os Meios de Proibir e Prevenir a
Importação, Exportação e Transferência Ilícitas de Propriedade de Bens
Culturais, e pede sua ajuda para recuperar as obras.
Ainda
na carta, a ministra realçou que “muitas” peças passaram pelas mãos do
negociante de antiguidades britânico Douglas A. Latchford, que morreu em 2020
aos 88 anos. Em 2019, ele foi acusado em Nova Iorque de “fraude electrónica,
contrabando, conspiração e acusações relacionadas ao tráfico de antiguidades
cambojanas roubadas e saqueadas”, segundo o departamento de justiça dos EUA,
que acrescentou que estava foragido e residia na Tailândia.
No
ano passado, foi finalizado um acordo para a filha de Latchford, Nawapan Kriangsak,
devolver cerca de 125 obras ao Camboja avaliadas em cerca de 50 milhões de
dólares, segundo a Artnet News. Em Janeiro, o criador do Netscape, James H.
Clark, entregou 28 antiguidades ao Camboja, além de outras para a Índia,
Mianmar e Tailândia, que comprou do coleccionador britânico por cerca de 35
milhões entre 2003 e 2008.
Nas
cartas aos museus, as autoridades cambojanas pedem ao Museu Britânico que
verifiquem as autorizações e licenças de 100 peças que poderiam ter sido
saqueadas e pedem ao V&A que faça o mesmo com outras 50 obras.
A
esse respeito, Gordon diz que o Camboja não emitiu licenças de exportação de
património no passado, excepto em presentes feitos pelo seu rei.
“Se
existir fora do Camboja, é altamente provável que uma propriedade cultural
cambojana seja roubada”, comentou o advogado. In “Jornal
Tribuna de Macau” – Macau com “Agências
Internacionais”
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