Um algoritmo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) consegue prever surtos de dengue, zika e chikungunya com até três meses de antecedência. O estudo em que detalham a criação do modelo de aprendizado de máquina (machine learning) recebeu o prémio de melhor artigo no Workshop Internacional AI4Health, evento sobre aplicação de inteligência artificial em temas de saúde realizado na Itália
Para
criar a novidade, os cientistas utilizaram dados disponíveis da cidade do Rio
de Janeiro. O algoritmo baseia-se em informações como número de casos em
determinado bairro e nas regiões vizinhas, dados ambientais de temperatura e
precipitação, demografia da área, entre outros, para estimar a proximidade de
um próximo surto provocado pelas arboviroses.
O
modelo foi desenvolvido baseado na capital fluminense, mas os pesquisadores pretendem
adaptar para outros municípios do país. O algoritmo pode tornar-se uma importante
arma na luta contra as doenças, que ainda provocam números altos de casos no
Brasil. A dengue, por exemplo, foi responsável por mais óbitos nos primeiros seis
meses de 2022 que o dobro do total registado em 2021.
Em
comunicado, os criadores explicam que a ideia é que a inteligência artificial torne
mais rápida a análise de dados e auxilie as autoridades de saúde a prepararem-se
para novos surtos e tomarem medidas a tempo, otimizando recursos. Além dos pesquisadores
da USP, colaboraram no estudo cientistas do Instituto de Estudos de Políticas
de Saúde (IEPS) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“O
grande diferencial da inteligência artificial é, justamente, identificar
comportamentos e padrões dos dados históricos, para dar visibilidade ao que é
relevante para a análise e a elaboração de ações preventivas. Por exemplo: preocupar-se
com ações que lidam com focos de dengue pode trazer mais benefícios do que
construir um novo estabelecimento de saúde naquela região”, afirma Robson
Aleixo, pesquisador principal do estudo, em comunicado.
A
elaboração do algoritmo contou com uma análise de dados de 160 bairros do Rio de
Janeiro entre 2015 e 2020. Os responsáveis pela novidade explicam que já
existiam outros modelos, especialmente em países tropicais que também enfrentam
altas de arboviroses, como Indonésia e Tailândia, que utilizam informações de
precipitação, temperatura e humidade do ar para prever casos das doenças. No
entanto, os resultados eram precisos apenas com uma antecedência de um ou dois
meses, e somente para a dengue.
Raphael
Camargo, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) que orientou o
projeto, explica que a ideia é que o algoritmo auxilie um trabalho que já é
feito pelas prefeituras, de análise de dados para tentar encontrar padrões que
indiquem a chegada de um novo surto. Agora, para que se torne de facto uma
estratégia de saúde pública, o algoritmo precisa ser aprimorado e incorporado a
um sistema que possibilite que usuários sem domínio de linguagens de
programação consigam interpretá-lo e adotá-lo na prática cotidiana.
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