Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 28 de julho de 2022

“Um lugar do Caralho”: Uma história de Banda Desenhada de Thiago Krening

Uma história que tem com um som legal, fala de gente legal e cerveja barata e começou lá pelos anos 1990 ouvindo uma música da banda Júpiter Maçã

Esse pode ser um breve resumo do livro de banda desenhada de Thiago Krening, que tem o título “Um Lugar do Caralho”, emprestado da música de Flávio Basso, do Júpiter Maçã.

A trama toda se passa na região do Sul do Brasil, em Santa Maria, bem distante das capitais Rio e São Paulo (como diz a letra de outra banda gaúcha) e ambientada, principalmente na Boate do DCE, da Universidade Federal de Santa Maria, que marcou a vida de gerações de estudantes da década de 1970 até 2010, quando fechou suas portas.

E nesta entrevista para a série “Sociedade brasileira de escritoras e escritores vivos”, Krening, dono de estilo próprio, com uma obra criativa e aclamada por mais de 13 mil seguidores do Instagram, nos conta um pouco do processo de produção da HQ “Um lugar do Caralho”.

Entre um hesitante projeto de financiamento coletivo pelo sítio Catarse ao lançamento de Um Lugar do Caralho, foram dias de apreensão e de surpresas. No final, com as metas batidas antecipadamente e quase duplicada, foram impressos mais de 750 exemplares. Com isso, o designer e ilustrador pode investir e melhorar a qualidade da HQ que ganhou capa com lombada quadrada dura e colorida. O sucesso alertou a Editora Hipotética e a HQ se tornou o primeiro lançamento do grupo.

Um Lugar do Caralho, Uma história sobre descobertas, paixões, músicas e principalmente amizades, que ultrapassa a fronteira do Rio Grande do Sul e torna-se universal, podendo ter acontecido (ou ainda estar acontecendo) na USC, na UDC ou qualquer universidade pelo mundo.

Acompanhe os melhores momentos do bate-papo com Thiago Krening:

Por favor, explique aos leitores galegos e de toda a lusofonia a razão do título ser “Um lugar do caralho”. Caralho é uma palavra que ocupa o vocabulário das falantes da Língua Portuguesa, com diferentes sentidos em cada local, contexto e até entonação.

Vou explicar o sentido da expressão que usamos aqui no Brasil.

Até onde sei, a palavra originalmente designa aquele “cesto” que fica em cima do mastro de navios, onde os tripulantes subiam para ter uma visão melhor à distância.

Aqui no Brasil a palavra ganhou, de certa forma, dois usos.

Primeiro, uma (das tantas) expressões para o órgão sexual masculino.

A segunda é quase como uma interjeição. É uma maneira de dizer que uma coisa é muito boa, muito legal. O título “Um Lugar do Caralho” diz respeito a um lugar muito divertido, muito legal.

Além disso, é o título de uma música bastante conhecida aqui no Rio Grande do Sul, de um artista de Rock chamado Júpiter Maçã, falecido em 2015.

Por causa dessa característica da expressão e também por conta da música, a boate que é retratada na HQ era conhecida por muitos de seus frequentadores como “Um Lugar do Caralho”.

Como foi contar a história da Boate do DCE?

Há anos eu queria contar uma história que se passasse na Boate do DCE da UFSM (Boate do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Santa Maria), em Santa Maria no Rio Grande do Sul.

Foi um lugar que marcou muito não só a mim (na época da faculdade especialmente), mas a gerações de pessoas que passaram pela cidade.

Eu passei anos maturando as ideias, juntando histórias e organizando tudo até finalmente conseguir estruturar um roteiro e trabalhar na HQ.

Desde o início do processo, eu quis que a história abordasse a nostalgia, de várias formas. Tanto pela ambientação como algo relacionado aos personagens em si.

Foi um processo longo mas que resultou em um trabalho que tem tido bastante identificação não só de pessoas que frequentaram a boate como de outras tantas que veem ali um pouco dessa época das suas vidas. Acho que em certa medida, consegui tornar a história um pouco mais universal, não dependendo somente da identificação direta com o local retratado.

E o sucesso do financiamento coletivo pelo Catarse? Nos explique como foi passar do medo inicial de lançar o projeto até o sucesso absoluto, com muita gente participando e ultrapassando todas as expectativas.

Eu penso que, por mais que se tenha uma certa base de seguidores, leitores e apoiadores, é impossível prever com certeza se um projeto de financiamento coletivo vai dar realmente certo.

Acredito que uma insegurança e ansiedade iniciais são bem naturais e senti muito disso nos momentos que antecederam a criação do projeto no Catarse.

Tanto pelo fato de ser um tema muito querido por muitas pessoas como também por ter investido bastante energia na organização e divulgação do projeto, as metas iniciais de arrecadação foram rapidamente alcançadas, pra minha grata surpresa.

Com tantos apoiadores comprando a ideia, o projeto acabou batendo quase o dobro do valor inicial e, com isso, foi possível investir mais na publicação. A HQ acabou saindo em capa dura, com papel melhor e uma série de extras.

Isso foi algo muito gratificante pra mim.

Como a crítica e demais quadrinistas/artistas comentaram sobre o livro?

Tenho tido críticas bem positivas no geral.

Duas coisas que me alegraram bastante com esse projeto foram o fato de muitas pessoas que não costumam ler HQs terem lido, por causa da identificação com o tema, e também que tanta gente que não conhece o lugar tenha encontrado alguma familiaridade na história.

Recebi muitas mensagens de pessoas que leram e gostaram muito, inclusive muitos dizendo que choraram com a história. Isso pra mim faz valer todo o caminho até aqui.

Ler uma HQ (Banda desenhada nos demais países lusófonos) com trilha sonora é uma experiência muito prazerosa. Como surgiu a ideia de colocar as canções para acompanhar o texto?

A ambientação da Boate do DCE era algo impossível de ser feito sem música, na minha opinião.

Desde as primeiras ideias para a HQ a música sempre foi uma questão central.

O que acabou tomando um certo tempo foi justamente achar uma maneira de materializar apenas em imagem aquelas músicas.

A solução que encontrei foi utilizar as letras de uma forma quase ilustrativa, preenchendo as cenas assim como as músicas preenchiam o ambiente.

Existe plano de “Um lugar do Caralho 2”, ou seja, continuar a contar a trajetória das personagens? Por favor, fale sobre seus projetos futuros.

Vou mentir se disser que não me passou pela cabeça fazer algum tipo de continuação.

Mas essa não é uma prioridade pra mim no momento.

Tenho outros projetos em desenvolvimento para os próximos meses e tenho focado a atenção neles.

O próximo é uma série de tirinhas de humor com personagens originais chamada Edifício Celeste. Espero começar a postá-las nas minhas redes sociais muito em breve.

Você já tem alguma HQ lançada no exterior? Existe algum convite ou possibilidade de lançar no mercado europeu ou estadunidense?

O mais próximo que tive de quadrinhos lançados no exterior foi quando, há vários anos, fiz a arte final para algumas edições de uma HQ que um colega desenhava para uma pequena editora dos Estados Unidos. Estou aberto a convites de todos os países. Seria um sonho publicar material de minha autoria no exterior, e isso até é um plano, mas um pouco distante. Carlos da Silva – Brasil in “Portal Galego da Língua”

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Thiago Krening - É formado em Desenho Industrial pela UFSM. Já trabalhou com ilustrações editoriais, artes para games, animações e design gráfico para clientes nacionais e internacionais.

Publica histórias em quadrinhos de forma independente desde 2015, quando começou a série chamada Historietas Randômicas. Nos anos seguintes, lançou os fanzines Essência e Tellus, uma primeira coletânea de suas tirinhas e também duas HQ em colaboração com outros artistas: O Barão do Anhangá e seus Hipsters Maravilhosos e Ciclo. Em 2018 publicou o primeiro quadrinho por uma editora, Abandonados pelos deuses: Sigrid, e ilustrou a adaptação para livro infantil das tirinhas Sofia e Otto, criadas por Pedro Leite. Em 2020, publicou Caçadora de Fãs: Uma Aventura Acadêmica, com roteiro de Fabio Mesmo, baseado na tese de mestrado de Larissa Becko.

Thiago é especialista em cinema pela UFN e mestre em Design pela UFRGS, pesquisando quadrinhos digitais. Já ministrou disciplinas em graduações da UFSM, da UFN e em especialização da UFRGS.

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José Carlos da Silva - Desde 2008, José Carlos da Silva é correspondente do PGL no Brasil. Residente em Campinas (São Paulo), acredita que para a Galiza "Não existe paixão fora do Reintegracionismo." É periodista, produtor de conteúdo e revisor. Escreve contos, poemas e divagações, mas ainda não publicou livros.

 


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