Em regiões com vegetação natural e seminatural, a implementação de bordaduras florais é uma estratégia de sucesso para promover os polinizadores e a produtividade do girassol, conclui um estudo liderado por duas investigadoras da Universidade de Coimbra (UC). Os resultados acabam de ser publicados na revista Journal of Applied Ecology, especializada em Biologia da Conservação.
Este
estudo contribui para mitigar os efeitos da intensificação das paisagens
agrícolas, de modo a satisfazer a crescente procura por alimentos, na
biodiversidade e nos serviços dos ecossistemas, especialmente os vários grupos
de polinizadores, vitais para a manutenção das culturas dependentes de
polinização.
As
bordaduras florais são pequenas zonas, junto a campos agrícolas, que têm
recursos florísticos, «por exemplo, plantas com flor, com o objetivo de, entre
outros, fornecer alimento – pólen e néctar – aos insetos polinizadores,
especialmente quando a cultura agrícola não está em flor e os recursos
alimentares são escassos», explica Lucie Mota, primeira autora do artigo científico
e investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Neste
estudo em particular, que visou avaliar o efeito da implementação de bordaduras
florais junto de campos de girassóis em duas regiões de agricultura intensiva e
quantificar o seu impacto nas taxas de visita e na produtividade do girassol,
Sílvia Castro, coautora do estudo e também investigadora da FCTUC, esclarece
que as bordaduras florais foram obtidas «pelo semeio de uma mistura de sementes
de espécies de plantas selecionadas. Assim, os insetos polinizadores
alimentam-se do pólen e néctar destas flores, que florescem antes do girassol,
transitando depois para a cultura agrícola quando esta se encontrar em
floração».
O
trabalho foi realizado em duas regiões de Espanha (Burgos e Cuenca), em campos
de girassol com vegetação seminatural associada, com bordaduras florais
implementadas e sem vegetação. Ao longo de dois anos, a equipa da Universidade
de Coimbra, em colaboração com parceiros da Universidade Autónoma de Madrid e
da Universidade de Burgos (Espanha), registou as taxas de visita de
polinizadores, através de observações diretas, e quantificou, quer a produção
quer o peso das sementes, em 52 campos por ano.
As
conclusões do estudo evidenciam que a implementação de bordaduras florais ou a
manutenção de habitats seminaturais próximos de campos de girassol «mostraram
efeitos dependentes do contexto paisagístico nas taxas de visita e na
produtividade da cultura. Em agroecossistemas fortemente simplificados, estas
intervenções podem não ser suficientes ou necessitam de mais tempo para
produzirem efeitos significativos. Mas, em regiões onde existe vegetação
natural e seminatural, a implementação de bordaduras florais foi uma estratégia
de sucesso para promover os polinizadores e a produtividade do girassol»,
destacam.
Segundo
as duas investigadoras, este estudo chama a atenção para a importância da
conservação de zonas verdes, naturais ou seminaturais, numa paisagem agrícola.
«Estas infraestruturas verdes constituem habitats para os insetos
polinizadores, que são fundamentais à produção de alimentos. Neste caso
específico, a cultura do girassol permite, principalmente, a obtenção de óleos,
mas isso só é possível através de uma polinização eficiente», afirmam Lucie
Mota e Sílvia Castro.
Isto
significa que, notam, «a conservação de habitats naturais permite a manutenção
das comunidades de insetos polinizadores na zona agrícola e, assim, uma maior e
melhor produção agrícola. Em zonas cujos recursos florísticos disponíveis não
sejam suficientes, a implementação de bordaduras florais parece ser uma boa
estratégia agroambiental, combinada com a vegetação natural já existente.
Contudo, em zonas agrícolas em que exista pouca (ou nenhuma) vegetação natural,
esta estratégia por si só parece não ser suficiente; daí a importância da
preservação de algumas infraestruturas verdes naturais próximo dos campos
agrícolas».
Estre
trabalho faz parte de um projeto mais vasto, o Poll-Ole-GI
SUDOE, financiado pelo Programa Europeu Interreg-Sudoe e
pelo Programa de Apoio da União Europeia para a Investigação e a Inovação
Horizonte 2020 (Ecostack). Além da UC, participam no projeto a Universidade de
Burgos, instituição líder do projeto, a Universidade Autónoma de Madrid
(Espanha), o Institut Nationale de Recherche pour l'Agriculture, l'Alimentation
et l'Environment e o Centre National de la Recherche Scientifique (França). Universidade
de Coimbra - Portugal
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