José Serra, um dos portugueses que vivia há mais tempo em Timor-Leste, onde chegou em meados da década de 1960, morreu esta sexta-feira, aos 90 anos, em Maubara, oeste de Díli
Serra,
conhecido como o “avô”, desde que chegou a Timor-Leste nunca mais saiu do país.
Era natural de São Vicente da Beira, Joanas (Castelo Branco), e quando contou a
sua história de vida à Lusa, em 2015, recordou momentos de fugir primeiro à
guerra civil timorense e depois à ocupação indonésia.
“Cheguei
a Timor dia 13 ou 14 de dezembro. Não tinha nada a ver com o Fundão. Eu estava
em São Vicente da Beira, Joanas, e já cá tinha um irmão. Ele vivia menos mal e
como lá em Portugal também se vivia muito mal, vim”, contou à Lusa na altura.
O
irmão, que no início o tinha recebido muito bem, começou a tratá-lo mal, pelo
que decidiu ‘independentizar-se’, pedindo ajuda ao então governador, Alves
Aldeia, para lhe arranjar algumas cabeças de gado para poder viver.
“Deu-me
200 canos para puxar a água, deu-me cinco contos para tratar o café e 25
cabeças de gado. Tive de ir buscar o gado a Díli. Demorei uma semana a pé para
voltar”, recorda.
“Com
as 25 cabeças cheguei a ter 400. Estava todo contente. E então meteu-se a filha
da mãe da guerra. Chegou 1974 e começaram os partidos. Em 1975 já não pude
fugir”, lamenta.
Até
visitar Díli era algo pouco comum para o ‘avô’, que preferia a tranquilidade do
topo do monte do pequeno ‘suco’ de 10 aldeias a oito quilómetros da vila de
Maubara.
Em
1975 e nos anos seguintes chegou a pensar em fugir, escapando à guerra civil e
depois à ocupação indonésia, mas não conseguiu: o território estava
praticamente fechado.
Chegou
a ter viagem marcada, passaporte pronto e sapatos comprados para visitar o seu
país já neste século, aproveitando o programa do Governo português, Portugal no
Coração, que ajudava a que portugueses fora de Portugal há muito tempo fossem
fazer uma viagem à terra natal, mas disse que teve medo de não voltar.
“Queria
ir mesmo a Portugal. Todos me querem levar, mas eu digo: se for, já não volto,
estou velho. E fico triste por deixar aqui todos os que ajudei a criar”,
admitiu à Lusa.
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