O plano
do Governo japonês para despejar gradualmente no mar águas tratadas, mas ainda
radioactivas, da central nuclear destruída de Fukushima, está a gerar uma onda
de protestos na Coreia do Sul.
A
capital sul-coreana, Seul, foi palco de diversas manifestações de rua,
nomeadamente de grupos ligados ao meio ambiente e às pescas, que se
concentraram em frente à embaixada japonesa, e ainda de uma coligação de 25
associações laborais e cívicas, a Ação do Povo de Seul, que criticaram também
os Estados Unidos, por darem apoio ao plano japonês.
“A
decisão (da descarga de águas de Fukushima) foi tomada apenas três dias antes
da cimeira Estados Unidos-Japão. Portanto, pode-se especular que houve uma discussão
antecipada entre os dois lados e que os Estados Unidos estão a apoiar o Japão
em benefício próprio”, afirmou o grupo, citado pela agência sul-coreana Yonhap.
A
Federação da Liberdade da Coreia, uma organização pública conservadora,
juntou-se às críticas ao Japão ao realizar um protesto online, com a
participação de diretores de capítulos regionais, apelando ao Japão para que
reveja a decisão anunciada esta semana.
A
descarga de águas contaminadas pelo Japão, alertou a federação, poluirá
irreversivelmente o oceano e colocará um fardo fatal nas gerações futuras.
Tomada
ao fim de sete anos de discussão sobre o destino a dar às águas usadas para
arrefecer combustível da central nuclear, a decisão japonesa motivou protestos
da China, Coreia do Sul, Taiwan, e também de associações japonesas,
ambientalistas e ligadas às pescas.
Também
o Ministério das Relações Exteriores sul-coreano convocou esta semana o
embaixador japonês, Koichi Aiboshi, para um protesto formal, depois de Koo Yun
Cheol, ministro da Coordenação de Políticas Governamentais, afirmar que Seul
“se opõe firmemente” à decisão japonesa.
Na
quinta-feira, a China convocou o embaixador do Japão em Pequim para protestar
formalmente contra a decisão.
Segundo
o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, citado pela agência Kyodo, o
ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros, Wu Jianghao, expressou ao
embaixador japonês, Hideo Tarumi, a “forte insatisfação e oposição firme” da
China ao plano para as águas de Fukushima.
Na
sequência do anúncio do plano pelo Governo japonês, o porta-voz do Ministério
das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, exortou o Japão a não efectuar a
descarga “sem permissão” de outros países e da Agência Internacional de Energia
Atómica (AIEA), das Nações Unidas (ONU).
“A
China reserva-se o direito de dar novas respostas” à decisão do Japão, disse
Zhao à imprensa em Pequim, na terça-feira.
Pelo
contrário, os Estados Unidos mostraram concordância com o plano japonês,
considerando o processo de tomada de decisão de Tóquio “transparente”.
“Agradecemos
ao Japão pelos esforços transparentes na sua decisão de descartar as águas
tratadas de Fukushima Daiichi”, afirmou o secretário de Estado Antony Blinken,
através da rede social Twitter, apelando a coordenação contínua do Japão com a
AIEA.
A
Agência Internacional de Energia Atómica, das Nações Unidas, apoiou o plano do
Japão para despejar gradualmente no mar águas tratadas, considerando reunidas
as necessárias condições de segurança.
“Estou
confiante de que o governo [japonês] continuará a interagir com todas as partes
de uma forma transparente e aberta enquanto trabalha para implementar a decisão
de hoje”, disse o director-geral da AIEA, Rafael Grossi, em comunicado.
Salientado
que a descarga de águas está de acordo com a prática internacional e é
tecnicamente viável, a organização manifesta ainda disponibilidade para dar
apoio técnico na monitorização da implementação do plano.
De
acordo com a AIEA, as descargas controladas de águas radioactivas no mar são
usadas de forma rotineira por operadores de centrais nucleares em todo o mundo,
sob autorizações regulatórias específicas com base em avaliações de impacto
ambiental e de segurança.
O
Governo japonês já tinha afirmado que não era possível adiar a decisão por mais
tempo, dado que a capacidade de armazenagem dos tanques de água na central, que
continuam a receber líquido usado para arrefecer combustível nuclear, deverá
esgotar-se em 2022, 11 anos depois de a central ter sido gravemente afectada
por um terramoto e tsunami.
As
instalações de Fukushima Daiichi geraram toneladas de água contaminada que
tiveram de ser armazenadas depois de usadas para arrefecer os núcleos
parcialmente derretidos de três reactores. Desde há anos que a empresa
responsável pela central, a TEPCO, utiliza um sistema para filtrar aquela água
e eliminar todos os seus isótopos radioativos com exceção do trítio. In “Hoje
Macau” - Macau
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