SÃO
PAULO – O novo ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França,
em seu discurso de posse, deixou claro que, a partir de agora, haverá uma
mudança de orientação na diplomacia comercial, com uma guinada em relação às
ações de seu antecessor, Ernesto Araújo, que se destacou mais por criar
dificuldades do que por buscar maior participação do Brasil no comércio
internacional. Segundo o novo ministro, o governo irá buscar maior engajamento
no esforço de ampliar a cooperação internacional, “sem exclusões”, abrindo
novos caminhos, “sem preferências desta ou daquela natureza”. Ou seja, volta-se
a exercitar aquela velha máxima segundo a qual “entre países não há amizade,
mas interesses”.
A
partir daí, o que se espera é que o Brasil não só busque assinar acordos
comerciais com países e blocos representativos, como a União Europa e a
Associação Europeia de Livre Comércio (Efta), que reúne Islândia,
Liechtenstein, Noruega e Suíça, como procure ampliar o relacionamento com os
Estados Unidos, o maior mercado para as exportações dos produtos manufaturados
brasileiros. Neste caso, incluem-se negociações para acordos de livre-comércio,
de investimentos e para evitar dupla tributação.
Em
seu discurso, França destacou a importância das relações com a Argentina e, por
consequência, com os demais sócios do Mercosul, que, ao completar 30 anos neste
2021, precisa passar por uma etapa construtiva de integração, o que significa
ampliar o relacionamento comercial entre os parceiros. É de se lembrar que a agenda econômica do
bloco ficou paralisada por mais de uma década, devido a divergências políticas,
ainda que as trocas comerciais tenham seguido um ritmo aceitável, e só foi
retomada em 2017, quando foram assinados acordos sobre investimentos e compras
públicas.
Daqui
para a frente, portanto, o que se espera é ocorram negociações em busca de
livre-comércio completo, com o aperfeiçoamento da Tarifa Externa Comum (TEC) e
a derrubada das últimas barreiras não tarifárias. E que, finalmente, o Mercosul
possa firmar um acordo com a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e
México), e com a Parceria Transpacífica (Trans-Pacific Partnership – TPP), que
pode vir a se constituir uma ponte com os mercados asiáticos, já que reúne
Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Peru, Nova Zelândia,
Singapura e Vietnã, todos banhados pelo Oceano Pacífico.
De
todos esses objetivos, o principal seria estabelecer desde logo uma parceria
com a União Europeia, por meio do Mercosul, o que, de imediato, haveria de
ampliar a participação das exportações nacionais livres de barreiras no
comércio exterior de 8% para mais de 25%, segundo estudo da Confederação
Nacional da Indústria (CNI). Tudo isso sem deixar de trabalhar em favor da
assinatura de acordos que evitem dupla tributação com mercados estratégicos,
como Reino Unido e Alemanha.
Ao
se definir em seu discurso de posse como um “construtor de pontes”, França não
pode deixar de estimular também a participação do Brasil no Brics, acrônimo que
reúne também Rússia, Índia, China e África do Sul, até porque em países do
bloco há muitas grandes empresas multinacionais brasileiras, especialmente dos
setores da indústria e de serviços. Sem contar que a China, hoje o principal
parceiro comercial do Brasil, constitui um mercado extremamente importante para
o agronegócio.
Por
fim, mas não menos importante, é de se esperar que o Ministério das Relações
Exteriores intensifique o relacionamento com o Japão, a partir de uma parceria
com o Mercosul, que já vem sendo discutida desde 2017. Neste caso, é de se
lembrar que o Japão dispõe de uma estrutura para financiar investimentos em
infraestrutura no exterior, que seriam bem-vindos, especialmente nos setores de
logística e portos.
Tudo isso deverá ser levado em conta pelo novo ministro, conforme ficou claro em seu discurso de posse, ao deixar explícito que o comércio exterior é fundamental para acelerar o crescimento econômico, com a geração de empregos e renda para as famílias. Isso só será possível com o aumento da participação do País no comércio mundial, que está praticamente estagnada em 1,1% e que, em 2021, em função dos problemas causados pela pandemia de coronavírus (covid-19), poderá chegar até a menos de 1%, depois de ter alcançado 1,3% entre 2010 e 2013. Força, ministro. Adelto Gonçalves - Brasil
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Adelto Gonçalves, jornalista, é assessor de imprensa do Grupo Fiorde,
constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e
Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional (trading company). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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