“Seis Reitores do Liceu de Macau”, assim se intitula a obra que António Aresta vai publicar e que será apresentada dia 30 na Escola Portuguesa de Macau. O investigador revelou ao Jornal Tribuna de Macau alguns pormenores sobre a história desta escola e defendeu que os seis “ajudaram, cada um a seu modo, a consolidar a identidade e o prestígio da comunidade portuguesa no Extremo Oriente”. Aresta considera que cada um deles merecia, por si só, uma monografia. A edição é de Rogério Beltrão Coelho, sendo o prefácio escrito por Cecília Jorge
O
investigador e historiador António Aresta vai lançar a obra “Seis Reitores do
Liceu de Macau”, que será apresentada na Escola Portuguesa de Macau a 30 de
Abril, e, mais tarde, em Setembro, em Lisboa. Ao Jornal Tribuna de Macau, o
autor sublinha que, até ao fim do século passado, Macau possuiu três
estabelecimentos de ensino “verdadeiramente emblemáticos e com objectivos
educativos diferenciados”: o Seminário de S. José, a Escola Comercial Pedro
Nolasco e o Liceu Nacional Infante D. Henrique, mais conhecido por Liceu de
Macau.
António
Aresta refere que as três escolas tiveram “uma importância nuclear na
construção da história cultural de Macau”, tendo todas “ultrapassado os cem
anos de ininterrupta actividade” e formado “milhares de jovens dentro de um
grande espectro multicultural”. “Mas, ao mesmo tempo, também ajudaram a modelar
a identidade cultural de Macau, vincando a sua face europeia e luso-chinesa,
mas também latina e cristã. O emérito historiador de Macau, Monsenhor Manuel
Teixeira, foi professor nessas três escolas e sobre elas escreveu páginas
decisivas. Mas, como é evidente, ainda muito ficou por dizer e por historiar”,
acrescenta.
Os
reitores do Liceu de Macau sobre os quais Aresta se debruça são José Gomes da
Silva (que nasceu em 1853 e morreu em 1905), natural do Porto e médico militar;
Manuel da Silva Mendes (1867-1931), de Vila Nova de Famalicão, que estudou
Direito; Carlos Borges Delgado (1887-1941), de Chaves, que enveredou pela área
da Matemática; Énio da Conceição Ramalho (1916-2013), natural de Macau, da área
das línguas Germânicas; António Maria da Conceição (1910-1985), também natural
de Macau e que seguiu línguas Românicas; e, por fim, o lisboeta Túlio Lopes
Tomaz (1910-1995), que se formou em Físico-Química.
“Estes
seis reitores, que, a traços largos, são apresentados neste livro, perfilham
esta filosofia da educação, foram personalidades marcantes em Macau e ajudaram,
cada um a seu modo, a consolidar a identidade e o prestígio da comunidade
portuguesa no Extremo Oriente”, afirma. António Aresta diz mesmo que, com
excepção de Manuel Silva Mendes, que é já bastante estudado, cada um deles
“merecia um trabalho monográfico onde se pudesse evidenciar a sua vida, o seu
pensamento e a sua obra”.
Recordando
que o Liceu de Macau teve três dezenas de figuras que ocuparam a função de
reitor, o autor frisa que houve também “professores que deveriam ter sido
reitores e por caprichos do destino não o foram”. Aponta, por exemplo, o
professor Fernando Lara Reis, “figura ímpar a quem o Liceu e Macau muito
devem”.
“A
dimensão ultramarina da educação portuguesa tem sido pouco estudada, não só
pelas controvérsias ideológicas que lhe estão associadas mas sobretudo pelo
descaminho do imenso património documental e arquivístico, o que tem impedido o
aparecimento de trabalhos de investigação com a constância que seria
desejável”, defende Aresta. “Já estou a dar continuidade a este trabalho,
abrangendo mais dez figuras que ocuparam as funções de reitor. É um trabalho
lento, feito nos ócios do ofício”, acrescenta, em declarações a este jornal.
O
Liceu de Macau foi fundado em 27 de Julho de 1893. A inauguração foi feita a 28
de Setembro de 1894, com 57 alunos, altura em que o território era governado
por José Maria Horta e Costa.
“O
Liceu teve sempre uma vida muito atribulada, misturando-se um pouco de tudo:
escassez de alunos, polémicas na imprensa, insuficiência de recursos, querelas
políticas com deputados e senadores, problemas com o Leal Senado, quezílias com
o Governador, invejas com o Seminário e com a Escola Comercial. Mas conseguiu
superar todas as malquerenças e vicissitudes e lá foi singrando com acerto e
competência”, recorda. Por outro lado, o corpo docente era “muito bom” nesses
“tempos áureos”, representando a “intelligentzia portuguesa expatriada em
Macau”.
António
Aresta diz que a obra é dedicada a “uma multidão”: a todos os que trabalharam,
estudaram e ensinaram no Liceu de Macau, desde 1894 até 1998.
Rogério
Beltrão Coelho, da “Livros do Oriente”, editou o livro. Ao Jornal Tribuna de Macau, disse que “não houve um desafio específico relativo a esta edição”. “Há
um desafio global e constante, quando se fala hoje na edição de livros em
Português em Macau. O diminuto número de potenciais leitores locais, que
raramente chega à centena, não permite recuperar os encargos com a edição
através da venda de exemplares”, apontou.
Beltrão
Coelho sublinhou que, não havendo uma política de apoio à edição no território,
“qualquer obra que surja será sempre fruto do sacrifício do editor ou da sorte
de se ver bafejado por um patrocínio ocasional”.
A
divulgação e distribuição do livro em Portugal resume-se à Livraria da
Delegação Económica e Comercial de Macau, em Lisboa, que se encontra encerrada
devido à pandemia.
O
prefácio é de Cecília Jorge, onde escreve que o que distingue António Aresta
“além de uma erudição patente nos seus escritos, é o rigor e a seriedade da
comunicação assente em factos e em documentos”, “fugindo aos sensacionalismos,
e ao relato que apenas se fundamenta na ficção”. Catarina Pereira – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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