“Meu
Pai,
Cá
estamos nós novamente a celebrar aquele dia mágico! Cá estou eu, a chata do
costume, a escrever-te!
Esta
semana falei com um grupo maravilhoso de crianças e jovens sobre o 25 de Abril
e fiquei encantada com o interesse deles. Fiquei tão feliz por saber que há,
mesmo a 2000 km de Portugal, professores que fazem questão que as gerações
futuras dêem valor ao que vocês conquistaram naquele dia. No final, pedi-lhes
para lembrarem Abril todos os dias e não deixarem que a memória se apague.
Porque
esta é a minha mágoa! Ver os cravos ao alto nesta altura e os ideais esquecidos
o resto do ano. Ver pessoas a celebrarem democracia quando, ao longo da vida,
impõem ditaduras.
Vivemos
tempo complicados! A pandemia continua, as restrições continuam e os
desrespeitar de regras também! Os teus netos começaram os auto-testes na escola
para que não tenhamos que fechar novamente. Mas continuam as festas
clandestinas onde põem em risco não só a própria saúde como a de todos com que
se vão cruzar nos dias seguintes. Estivemos muito tempo com os centros de
cultura fechados, negócios fechados e limitados porque alguns se acham acima da
lei!
Esta
noite recebi uma mensagem de alguém a ofender-te e atacar-te!
Surpreendentemente (vais ficar orgulhoso de mim 🤣) não respondi e só pensei “foi também para isto que os
capitães saíram à rua)! Mas sabes o que me magoou? O facto de, sem a Revolução,
aquela alma não teria a ousadia de a enviar. Ou teria, porque seria um dos
outros.
Sabes
o que me deixa tranquila? Tu estás bem! Tu sabes o quanto foi importante para
nós aquela viagem a Lisboa. Vocês sabiam que algo tinha de mudar. Que os pais
não mereciam perder os filhos tão novos! Que Portugal não poderia continuar
isolado e que a liberdade não poderia continuar aprisionada! Vocês sabiam que
era “agora ou nunca” mesmo pondo as vossas vidas em risco! Vocês deixaram
mulheres, pais, filhos em casa apreensivos e foram para a “frente de batalha”
enquanto outros ficaram no quentinho e se auto-intitularam heróis atrás de
mentiras.
A
todos os que não cruzaram os braços, a todos os que desobedeceram e lutaram por
nós, a todos os que vivem sobre os ideais de Abril… MUITO OBRIGADA!
A
ti, meu Rei, obrigada por nunca teres desistido, obrigada por nunca teres
mudado após o 25 de Abril e MUITO OBRIGADA por me dares a honra de te chamar
PAI!
Da
filha que te ama,
Catarina,
Mau Feitio”
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