Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Angola – Faleceu o poeta, nacionalista e professor universitário Arlindo Barbeitos


Arlindo do Carmo Pires Barbeitos nasceu a 24 de Dezembro de 1940, em Catete, município de Icolo e Bengo, província de Luanda. Passou a infância entre Catete e o Dondo, no Cuanza-Norte, fez os estudos primários e secundários em Luanda. Aos 17 anos foi para Portugal, de onde saiu com 21 anos por motivos políticos, indo para França e Alemanha, onde fez estudos de Sociologia, Antropologia, além de Filosofia, Economia e Estatística na Universidade de Frankfurt.

Em 1971 aderiu ao MPLA, regressando a Angola integrado nas suas fileiras, dando aulas na Frente Leste. Em 1972, vítima de doença, vai tratar-se na Europa, onde volta a estudar, iniciando uma tese de doutoramento em Etnologia sobre “As realezas sagradas”. Na sequência do 25 de Abril, regressa ao país em 1975. Foi professor no ISCED (Lubango) e adido cultural na Argélia. A esposa, a escritora Maria Alexandre Dáskalos, faleceu no dia 20 de Março, em Luanda.

Academia Angolana de Letras lamenta

A Academia Angolana de Letras (AAL) lamentou a morte de Arlindo Barbeitos, que considera “figura ímpar da nossa intelectualidade” e que “deixou as suas impressões na vanguarda do nacionalismo angolano, destacando-se como incansável defensor da Cultura africana”.

Numa mensagem, a AAL lembra, ainda, que Arlindo Barbeitos foi primeiro tradutor do Presidente Agostinho Neto. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, deixa uma vasta obra literária, com realce para Angola, Angolê, Angolema (1976), Nzoji (1979), o Rio, Estórias de Regresso (1985) e Fiapos de Sonho (1992). A Academia Angolana de Letras expressa, em nome de cada um dos seus académicos, a sua solidariedade à família e sentimentos de pesar.

Ministro Jomo Fortunato consternado

O ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Jomo Fortunato, também se manifestou profundamente consternado com a morte do poeta, professor e investigador angolano, Arlindo Barbeitos, a quem considera um “intelectual de dimensão enciclopédica”. Benjamin Armindo – Angola in “Nova África” com “Jornal de Angola”


A literatura angolana sofreu uma enorme perda com a morte, por doença, da poetisa Maria Alexandre Dáskalos, ocorrida no dia 20 de Março, em Luanda.

Em 1993, aquando de mais uma edição do poemário "O Jardim das Delícias”, o poeta, ensaísta e crítico literário David Mestre escreveu: "… Pode a poesia angolana regozijar-se de abrir a presente década com uma nova voz ao nível do nosso melhor cancioneiro. (…) Tanto pelo tom helénico que a percorre como pela estratégia iniciática que a determina, encontra [a poesia de Maria Alexandre Dáskalos] lugar cativo na mais escolhida vertente da lírica local.”

Filha do poeta Alexandre Dáskalos -, "um dos grandes poetas da angolanidade revolucionária” (Alfredo Margarido) -, Maria Alexandre Dáskalos nasceu no Huambo em 1957. Formada em Letras, em 1992, com o retomar da guerra, foi viver em Portugal, onde trabalhou como jornalista na RDP África e fez o mestrado em História Contemporânea.

Publicou os livros de poesia "O Jardim das Delícias”, 1991; "Do Tempo Suspenso” (1998) e "Lágrimas e Laranjas”, 2001. Publicou também o livro, resultante da sua dissertação de mestrado, "A Política de Norton de Matos Para Angola (1912-1915)”.  Maria Alexandre Dáskalos era membro da União dos Escritores Angolanos.

Talvez o nosso corpo

seja pequeno

para ser a casa

do amor

 

que não guarde só indícios

e não troque só sinais

 e entregas

que não seja tranquilo

nem fiel à rosa

e ao fio da navalha

 

 

Regressámos ao anonimato

mais leves

Mas é minha a muda inquietação

esse temor

da armadilha do cinismo

 

A noite contempla-nos

despojados de sonhos

e, tu disseste

- tão próximas as estrelas –

tão longo o caminho para chegar a elas.

 

cheguei às portas secretas

atravessei as passagens

interditas

e no labirinto que negou os meus passos

vi tesouros que não eram meus

 

Não adianta chorar

as andorinhas

abalaram de vez.

 

Farão elas a arqueologia

dos seus ninhos?

 

 

Os anjos choram

 

Uma cidade caiu

e os homens perderam-se nos trilhos

das casas agora desabadas.

As mulheres de joelhos em cima do nada

 

já não sabem rezar.

 

Os anjos choram

e o bálsamo de todas as

feridas

não chega até nós.

 

O garoto corria corria

não podia saber

da diferença entre as flores.

O garoto corria corria

não podia saber

que na sua terra há

morangos doces

e perfumados,

o garoto corria corria

fugia.

 

Ninguém lhe pegou ao colo

ninguém lhe parou a morte.

 

In “Jornal de Angola” - Angola




 

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