Arlindo
do Carmo Pires Barbeitos nasceu a 24 de Dezembro de 1940, em Catete, município
de Icolo e Bengo, província de Luanda. Passou a infância entre Catete e o
Dondo, no Cuanza-Norte, fez os estudos primários e secundários em Luanda. Aos
17 anos foi para Portugal, de onde saiu com 21 anos por motivos políticos, indo
para França e Alemanha, onde fez estudos de Sociologia, Antropologia, além de
Filosofia, Economia e Estatística na Universidade de Frankfurt.
Em
1971 aderiu ao MPLA, regressando a Angola integrado nas suas fileiras, dando
aulas na Frente Leste. Em 1972, vítima de doença, vai tratar-se na Europa, onde
volta a estudar, iniciando uma tese de doutoramento em Etnologia sobre “As
realezas sagradas”. Na sequência do 25 de Abril, regressa ao país em 1975. Foi
professor no ISCED (Lubango) e adido cultural na Argélia. A esposa, a escritora
Maria Alexandre Dáskalos, faleceu no dia 20 de Março, em Luanda.
Academia Angolana de Letras lamenta
A
Academia Angolana de Letras (AAL) lamentou a morte de Arlindo Barbeitos, que considera
“figura ímpar da nossa intelectualidade” e que “deixou as suas impressões na
vanguarda do nacionalismo angolano, destacando-se como incansável defensor da
Cultura africana”.
Numa
mensagem, a AAL lembra, ainda, que Arlindo Barbeitos foi primeiro tradutor do
Presidente Agostinho Neto. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos,
deixa uma vasta obra literária, com realce para Angola, Angolê, Angolema
(1976), Nzoji (1979), o Rio, Estórias de Regresso (1985) e Fiapos de Sonho
(1992). A Academia Angolana de Letras expressa, em nome de cada um dos seus
académicos, a sua solidariedade à família e sentimentos de pesar.
Ministro Jomo Fortunato consternado
O
ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Jomo Fortunato, também se manifestou
profundamente consternado com a morte do poeta, professor e investigador
angolano, Arlindo Barbeitos, a quem considera um “intelectual de dimensão
enciclopédica”. Benjamin Armindo – Angola in “Nova
África” com “Jornal de Angola”
A
literatura angolana sofreu uma enorme perda com a morte, por doença, da poetisa
Maria Alexandre Dáskalos, ocorrida no dia 20 de Março, em Luanda.
Em
1993, aquando de mais uma edição do poemário "O Jardim das Delícias”, o
poeta, ensaísta e crítico literário David Mestre escreveu: "… Pode a
poesia angolana regozijar-se de abrir a presente década com uma nova voz ao
nível do nosso melhor cancioneiro. (…) Tanto pelo tom helénico que a percorre
como pela estratégia iniciática que a determina, encontra [a poesia de Maria
Alexandre Dáskalos] lugar cativo na mais escolhida vertente da lírica local.”
Filha
do poeta Alexandre Dáskalos -, "um dos grandes poetas da angolanidade
revolucionária” (Alfredo Margarido) -, Maria Alexandre Dáskalos nasceu no
Huambo em 1957. Formada em Letras, em 1992, com o retomar da guerra, foi viver
em Portugal, onde trabalhou como jornalista na RDP África e fez o mestrado em
História Contemporânea.
Publicou
os livros de poesia "O Jardim das Delícias”, 1991; "Do Tempo
Suspenso” (1998) e "Lágrimas e Laranjas”, 2001. Publicou também o livro,
resultante da sua dissertação de mestrado, "A Política de Norton de Matos
Para Angola (1912-1915)”. Maria
Alexandre Dáskalos era membro da União dos Escritores Angolanos.
Talvez
o nosso corpo
seja
pequeno
para
ser a casa
do
amor
que
não guarde só indícios
e
não troque só sinais
e entregas
que
não seja tranquilo
nem
fiel à rosa
e
ao fio da navalha
Regressámos
ao anonimato
mais
leves
Mas
é minha a muda inquietação
esse
temor
da
armadilha do cinismo
A
noite contempla-nos
despojados
de sonhos
e,
tu disseste
-
tão próximas as estrelas –
tão
longo o caminho para chegar a elas.
cheguei
às portas secretas
atravessei
as passagens
interditas
e
no labirinto que negou os meus passos
vi
tesouros que não eram meus
Não
adianta chorar
as
andorinhas
abalaram
de vez.
Farão
elas a arqueologia
dos
seus ninhos?
Os
anjos choram
Uma
cidade caiu
e
os homens perderam-se nos trilhos
das
casas agora desabadas.
As
mulheres de joelhos em cima do nada
já
não sabem rezar.
Os
anjos choram
e
o bálsamo de todas as
feridas
não
chega até nós.
O
garoto corria corria
não
podia saber
da
diferença entre as flores.
O
garoto corria corria
não
podia saber
que
na sua terra há
morangos
doces
e
perfumados,
o
garoto corria corria
fugia.
Ninguém
lhe pegou ao colo
ninguém
lhe parou a morte.
In “Jornal
de Angola” - Angola
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