Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Portugal - Investigadora do CIIMAR lidera projeto para estudar o mar profundo

O projeto TwinDEEPS, liderado por Joana Xavier, tem como objetivo promover a exploração e observação do mar profundo em Portugal


A investigadora Joana Xavier, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), é a responsável pelo TwinDEEPS, um novo projeto TWINNING do Horizonte Europa, que vai aplicar 1.5 milhões de euros na exploração e observação do oceano profundo em Portugal.

Tendo como principal objetivo aumentar a capacidade de investigação do CIIMAR no domínio da exploração e observação do mar profundo, o projeto TwinDEEPS “Twinning deep-ocean exploration and observation capacity for sustainable development” resulta da parceria entre o CIIMAR-UP e três centros europeus de excelência nesta área de investigação: o Instituto de Investigação Marinha (IMR) na Noruega, o Instituto Real Holandês de Investigação Marinha (NIOZ) na Holanda, e o Instituto Alfred Wegener de Investigação Polar e Marinha (AWI) na Alemanha.

O consórcio, altamente multidisciplinar, aportará conhecimento complementar em matérias de exploração e mapeamento de ecossistemas de profundidade, observação e monitorização a longo prazo, gestão de dados oceânicos, genómica marinha e interações ciência-política-sociedade para a gestão e conservação do oceano.

O mar profundo Português

O mar profundo contempla a coluna de água e leitos marinhos abaixo dos 200 metros de profundidade que constituem o maior espaço habitável do nosso planeta, cobrindo cerca de 67% da superfície terrestre.

Esta porção do Oceano “é cada vez mais reconhecida por desempenhar papéis fundamentais no funcionamento dos ecossistemas à escala planetária, entre eles a reciclagem e armazenamento dos principais nutrientes (incluindo carbono), ao fornecimento de habitat, áreas de berçário e alimentação para espécies exploradas comercialmente, à regulação do clima, e como principal fonte de produtos naturais marinhos, recursos genéticos e minerais, e biomateriais” destaca Joana Xavier, investigadora principal e coordenadora da equipa investigação em Biodiversidade e Conservação de Mar Profundo do CIIMAR.

Em Portugal, o mar profundo corresponde a mais de 96% da área marítima sob jurisdição nacional, tendo por isso uma enorme relevância para a Estratégia Nacional para o Mar, cujo objetivo é potenciar o contributo do mar enquanto motor de desenvolvimento económico e social, alinhado com a sustentabilidade ambiental. No entanto, a maioria da investigação marinha feita em Portugal ainda está restrita às zonas costeiras. 

Joana Xavier justifica esta discrepância pelos custos avultados que este tipo de investigação implica. “Apesar do progresso feito principalmente na última década, o esforço de investigação de grande parte da comunidade científica tem-se focado nos menos de 4% que constituem as zonas costeiras marinhas e estuarinas. Isto deve-se em parte aos custos elevados e por conseguinte um acesso limitado a plataformas e equipamentos de investigação oceânica (navios, veículos autónomos ou remotamente operados, observatórios). E isto representa um grande desafio para o desenvolvimento não só de competências, mas também de conhecimento e até tecnologia nesta área”, explica.

Capacitar para explorar

Segundo a a investigadora do CIIMAR e líder do projeto, TwinDEEPS vem desenvolver um conjunto de atividades para estas limitações. “Por um lado, pretendemos avaliar a capacidade humana, científica e tecnológica já existentes no país para a investigação em mar profundo e promover a formação de uma nova geração de investigadores, nas várias fases da carreira científica, através de atividades de capacitação que vão desde a participação e organização de campanhas de exploração, a um conjunto de cursos avançados para o desenvolvimento e integração de competências, nomeadamente ao nível da liderança”.

Este será um aspeto decisivo para o segundo grande objetivo deste projeto Twinning, o qual passa por “definir um conjunto de ações que permitam expandir e acelerar a exploração e observação do mar profundo em Portugal através de uma abordagem participativa e de “co-design”, envolvendo outros centros e institutos de investigação, academia, indústria, agências governamentais, e a sociedade civil”. Este projeto e abordagem vem também ao encontro dos objetivos da Década das Ciências Oceânicas para o Desenvolvimento Sustentável que decorre entre 2021-2030, e na qual Portugal também tem tido uma participação muito ativa. 

A transferência de conhecimento, acesso a infraestruturas, e o intercâmbio entre os parceiros, que estão entre as mais prestigiadas equipas de investigação em mar profundo da Europa, resultará numa nova geração de investigadores e gestores de ciência altamente qualificados em mar profundo, melhorando a reputação, o perfil de investigação e a atratividade do CIIMAR, e promovendo a mobilidade de investigadores altamente qualificados. E foi precisamente este foco centrado na qualificação de recursos humanos, na transferência de conhecimento e no desenvolvimento de redes de colaboração robustas entre os parceiros que integram o projeto que destacou o TwinDEEPS entre as candidaturas submetidas à European Research Executive Agency.

Destacar Portugal na proteção do Mar profundo

Portugal tem tido um papel muito relevante no desenvolvimento e implementação de políticas públicas, quer nacionais, europeias e globais, de proteção do Oceano como um todo. Um melhor conhecimento da biodiversidade e funções da vasta área marítima de mar profundo sob jurisdição nacional será por isso crucial para a gestão e proteção efetiva de 30% do Oceano até 2030, um objetivo ambicioso, mas necessário e com o qual estamos comprometidos.

“Queremos com este projeto também aproximar a sociedade a esta vasta componente do Oceano, da qual o seu bem-estar depende, e promover uma participação mais ativa e informada em prol da gestão sustentável desta herança marítima para as gerações futuras”, conclui Joana Xavier. Universidade do Porto - Portugal


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