João (nome fictício), de 16 anos, é um dos muitos jovens timorenses que trabalha para aumentar o rendimento para ajudar a família a conseguir comprar comida e combater a pobreza, que persiste em Timor-Leste.
Conduz
em Liquiçá, a cerca de 31 quilómetros de Díli, um “tum-tum” (equivalente a um
‘tuk-tuk’ em Portugal), comprado pela tia, que lhe paga mensalmente 50 dólares
(cerca de 46 euros) por trabalhar várias horas por dia, às vezes das 06:00 até
às 19:00. “Trabalho para ajudar a minha mãe e para conseguir ir à escola”,
disse à Lusa João, perante os olhares curiosos e o “gozo” dos seus colegas de
profissão, também jovens, por estar a falar com um “malae” (estrangeiro, em
tétum).
Em
Díli, Mário (nome fictício), também com 16 anos, vende pacotinhos de amendoim
para “levar dinheiro para casa”. Vai à escola, mas gosta mesmo é de futebol, da
seleção de Portugal, do Ronaldo e do Messi, explicou à Lusa.
Na
capital timorense, as crianças e jovens que trabalham são visíveis ao início da
manhã ou ao final da tarde, trabalhadores-estudantes, que no seu tempo livre
vendem vários alimentos, incluindo amendoins, ovos cozidos, pipocas, para
engrossar o parco rendimento das famílias. “É uma situação muito preocupante.
Consideramos que o nosso país é democrático, onde o direito e as liberdades do
cidadão são garantidas e onde a Constituição atribui uma obrigação ao Estado
para garantir que os seus cidadãos, especialmente as crianças, gozem do seu
direito de brincar, de desenvolver-se e o Estado tem obrigação de proibir o
trabalho infantil”, afirmou o Provedor da Justiça e dos Direitos Humanos,
Virgílio Guterres. “Infelizmente, continuamos a viver nesta situação, muitas
crianças na rua, muitas a envolverem-se no trabalho infantil”, lamentou o
provedor timorense.
Segundo
Virgílio Guterres, persiste também ainda a tradição de envolver os filhos e as
filhas nas atividades para sustentar a família. “Eu no passado também ajudei a
minha família a fazer negócio, mas agora estamos noutra era, num novo regime,
onde há garantias constitucionais e, como provedor, vejo com grande preocupação
esta situação”, afirmou.
Para
o Provedor da Justiça e dos Direitos Humanos, os sucessivos Governos do país
falharam em desenvolver setores como a educação, saúde e agricultura,
principalmente desde que Timor-Leste começou a utilizar o dinheiro do Fundo
Petrolífero.
Em
Timor-Leste, a maioridade atinge-se aos 17 anos e o código de trabalho prevê
que a idade mínima de admissão ao trabalho é de 15 anos, mas os menores entre
os 13-15 podem prestar “trabalho leve”.
Segundo
um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que cita
dados recolhidos pelas autoridades timorenses em 2016, 16,1% das crianças e
jovens entre os cinco e os 17 anos estavam empregadas, sendo a prevalência
maior em áreas rurais. Daquelas 16,1%, 12,5%, ou seja, cerca de 52651 crianças,
representavam trabalho infantil e 3,6% (15037 crianças) representavam formas
permitidas de trabalho. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”
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