A
frase é antológica "bandido bom é bandido morto", mas quem é pobre ou
negro numa favela se torna automaticamente suspeito, podendo ser agredido,
ameaçado e exposto à humilhação pública até no Youtube, mesmo sendo inocente.
Será
esse o credo e o modo de funcionamento da PM de São Paulo, autorizados pelo
secretário da segurança Guilherme Derrite, que vem ganhando ao mesmo tempo
popularidade e rejeição, com a banalização da violência e morte no combate ao
banditismo, desde os massacres nas favelas do Guarujá?
É
com esse estilo de repressão policial que o governador Tarcísio de Freitas
pretende ganhar apoio e popularidade para disputar a presidência em 2026?
Essas
perguntas afloram diante do vídeo gravado por um youtuber norte-americano, o
texano Gen Kimura, dentro de uma viatura da Polícia Militar e nas favelas
paulistanas, mostrando os policiais em ação. Não se tratava de um jornalista norte-americano
em reportagem.
É
um absurdo terem sido dados ao youtuber um colete à prova de balas e até um
revólver para documentar, como um visitante curioso, o combate "mesmo num
domingo sangrento" dos valentes policiais.
O
vídeo de uns 40 minutos já foi visto por mais de 1,7 milhão nos EUA, no canal
de Gen Kimura com 385 mil inscritos. O vídeo foi filmado durante ações da PM em
três favelas e o youtuber Gen Kimura teve acesso ao depósito de armamentos da
PM, chegando a ser filmado com um revólver na mão. No Brasil, trechos do vídeo
viralizaram nos noticiários e nas redes sociais.
Outro
aspecto escandaloso da filmagem permitida e protegida por policiais foi o de
colocar pessoas pobres inocentes ou suspeitas numa espécie de pelourinho num
parque de diversões, mesmo porque para o youtuber Gen Kimura, sempre sorrindo,
tudo parecia muito divertido. Um dos policiais contou a Kimura que "as
mortes dos bandidos são comemoradas com charutos e cerveja".
Entretanto,
embora a Secretaria de Segurança afirme não permitir esse tipo de filmagem
ainda mais com estrangeiro, devendo punir os responsáveis, o vídeo tem um
aspecto positivo: documenta e deixa evidente ser o método violento o cotidiano
na PM.
O
comentarista Reinaldo Azevedo do Uol, depois de mostrar revoltado um trecho do
vídeo, vai mais longe: para ele os responsáveis pela filmagem e exposição da
banalização da violência da polícia paulista, num Canal do Youtube destinado a
visualizações nos EUA, acreditavam agradar ao chefe capitão Guilherme Derrite e
ao governador Tarcísio, já conhecido por um "dane-se" e por dizer
"pode ir na ONU, no raio que o parta, não tô nem aí" sobre denúncias
de abuso da PM no litoral.
A
Rádio Jovem Pan, que se tornou a rádio de referência para os seguidores do
ex-presidente, é bem informada sobre os líderes da extrema-direita, e, agora
menos bolsonarista e aparentemente sem fake-news, tem uma resposta para
o populismo da violência próprio do Secretário da Segurança (Derrite, linha
dura, até se licenciou do cargo no governo Tarcísio para ir votar na Câmara
Federal contra as "saidinhas") - quando Tarcísio deixar o cargo para
se candidatar à sucessão de Lula, será Guilherme Derrite o candidato à sua
sucessão.
Para
o veterano da Jovem Pan, José Maria Trindade, fiel aos anos bolsonaristas,
"ações como essa (mostrada no vídeo) aproximam os policiais da população e
mostram como a polícia trabalha no dia a dia, e é importante fazer esse tipo de
aproximação".
Para
completar o quadro da violência e truculência, o programa É da Coisa, da
Band, mostrou um vídeo da polícia de Goiás, no qual numa ordem unida da polícia
militar os soldados repetem comandos de morte inclusive do assassinato da
testemunha do crime. A polícia de Goiás era chefiada pelo tenente-coronel Edson
de Melo, atualmente segurança do coach Pablo Marçal, pré-candidato à prefeitura
de São Paulo. Rui Martins – Suíça
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Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da
corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do
Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de
Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de
Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso
de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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