Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Moçambique – Arqueólogo quer parceria com Portugal para proteger passado naufragado

O arqueólogo Ricardo Teixeira Duarte defendeu uma parceria oficializada com Portugal sobre o património subaquático na ilha de Moçambique, que conta a história dos dois países e está ameaçado pela acção do homem e até das alterações climáticas. Este especialista da UNESCO para o património subaquático falava à agência Lusa em Lisboa, onde participou na conferência sobre “A Arqueologia Subaquática em Moçambique”, organizada pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS).


“É um património que está em grande risco, ligado com actividades ilegais, de pessoas que mergulham e tiram coisas, o próprio desenvolvimento industrial e marítimo, ligado às explorações de recursos marítimos, tudo isto é um património que está em grande risco e é um património muito importante da humanidade”, disse.

Em Lisboa, o investigador e Yolanda Teixeira Duarte, também moçambicana, vão apresentar aos colegas o que estão a fazer para proteger este património e desafiá-los a uma colaboração, em conjunto com a UNESCO e outros parceiros.

Ricardo Teixeira Duarte defende uma parceria oficializada para que se proteja, em conjunto com Portugal, esse património, uma vez que “está lá uma grande quota-parte de Portugal também, da contribuição de Portugal”. “É um património que pertence a Moçambique, porque está lá e Moçambique é um país soberano, mas também é património de Portugal”, observou.

E recordou que nas águas moçambicanas encontra-se um dos poucos galeões que testemunham a Carreira da índia, a rota marítima do século XVI entre Lisboa e a Índia que Portugal assegurou após a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama.

Mas não só. Nas águas da costa de Moçambique também se encontra o navio L’Aurore, construído em França e um dos mais famosos navios de escravos que se afundou com 300 escravos, que morreram todos.

O investigador considera que, além do património material que continua a trazer respostas sobre o passado, trata-se de “uma memória que é preciso divulgar, uma memória de um passado importante que está ali, debaixo de água”.

E sobre a escravatura, acredita que os objectos que vão sendo encontrados também contribuem para um maior conhecimento do que se passou, afirmando que um dos artigos que mais o impressionou foram umas algemas com que os escravos eram presos aos navios negreiros e que foi encontrado no navio São José, naufragado em 1794 ao largo da África do Sul, e que estão expostas num museu em Washington, Estados Unidos.

“É fundamental abordar esse assunto. Não vamos pôr uma pedra em cima de um passado que existiu, de uma história que existiu. Era assim naquela altura. Não podemos dizer que os portugueses eram uns criminosos, uns assassinos, explorou… Não foi só Portugal, era o sistema económico daquela época. A escravatura não foi só exportar os escravos. A própria economia dos países onde os escravos saíam era baseada na mão escrava e na escravatura. E não foram só os portugueses, não foram só os europeus”.

“A humanidade acordou para esse problema e foi a pouco e pouco resolvendo esse problema”, concluiu. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”

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