O Ministro da Energia e Águas de Angola assinou em Macau dois importantes acordos de entendimento com empresas chinesas estatais do sector da energia, concretamente a “Power China” e “State Grid”, na sequência da sua deslocação ao território para participar no Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas. Em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, João Baptista Borges destacou o papel da RAEM como ponte para a concretização de vários projectos de desenvolvimento em Angola apoiados pela China
Utilizar
Macau como “ponte” para a concretização de acordos com empresas chinesas, tendo
em vista o apoio a projectos de desenvolvimento em Angola, concretamente na
área da energia, é para o Ministro da Energia e Águas do país africano de
expressão portuguesa uma vantagem que se deve aproveitar.
“Nós,
os que falamos português, que temos este património que é a língua, digamos que
o facto de Macau falar também o português pode ajudar, e muito, a conhecermos
particularidades da cultura, dos hábitos, do modo de ser da China e do povo
chinês, que tem, como se sabe, uma cultura muito distante da nossa”, frisou.
Essa aproximação “implica também conhecermos um pouco essa forma de ser e de
estar e Macau pode ajudar-nos muito nisso, até porque aqui estão instaladas
muitas das grandes empresas chinesas”, referiu João Baptista Borges ao Jornal Tribuna
de Macau.
O
governante angolano deslocou-se ao território para participar no Fórum
Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas (IIICF),
onde assinou alguns acordos com companhias chinesas, entre as quais a “Power
Construction Corporation of China” (“Power China”), empresa totalmente estatal
dedicada à indústria de construção civil e engenharia pesada, e a “China State
Grid”, que é a Companhia Nacional da Rede Eléctrica da RPC, responsável pela
maior parte da operação do sector no Continente.
Os
protocolos de entendimento “têm para já um efeito ‘umbrella’”, como diz
o Ministro, ou seja, uma protecção e segurança que representam a natureza
empresarial e comercial de um acordo. “É um conjunto de acordos ou de contratos
para a futura construção de sistemas de transporte de electricidade”, explicou.
João
Baptista Borges reconhece que a grande prioridade em Angola é expandir os
sistemas eléctricos, quer para sul, quer para os países da região. “A
perspectiva é vermos as trocas de energia serem uma realidade de elevada
importância na nossa região, até porque vivemos uma época, uma realidade, em
que os efeitos das alterações climáticas estão cada vez mais presentes”,
comenta, acrescentando que Angola tem “períodos de estiagens e de grandes
cheias”. Nesse sentido, “sem dúvida, que a segurança energética, a segurança
hídrica, são importantes”.
Os
acordos assinados ontem têm por finalidade “promover também essas trocas com a
construção de infra-estruturas que permitam, então, que tenhamos economias mais
resilientes e trocas comerciais por via da energia eléctrica mais efectivas”,
acentuou.
Por
outro lado, João Baptista Borges referiu que o Governo de Angola, liderado por
João Lourenço, pretende reforçar a expansão do acesso à electricidade por parte
da população. “Na África subsaariana, como se sabe, as taxas de acesso à
electricidade estão abaixo dos 50%, particularmente em Angola temos 43%, e nós
almejamos fazê-la subir rapidamente e atingir 50% até ao final de 2027, ou
seja, queremos que aproximadamente 16 milhões de habitantes tenham acesso à
electricidade”, afirmou.
Para
isso, acrescentou, “é preciso primeiro produzirmos uma energia cada vez mais
barata e mais verde, utilizando, no fundo, abundantes recursos hídricos que o
nosso país dispõe, mas também recursos solares, empregando tecnologias baratas,
e, como sabemos, a China é pioneira no desenvolvimento da tecnologia solar e
outras tecnologias de baixo custo”.
Investimentos na energia atingem 20 mil milhões USD
Angola
tem feito grandes investimentos no sector da energia nos últimos anos, com
recurso à linha de crédito da China. “Em Angola, seguramente, já foram
investidos mais de 20 mil milhões de dólares com o apoio chinês”, afirmou o
governante.
Só
num projecto, a construção da central hidroeléctrica de Caculo Cabaça, no norte
do país, naquela que é a maior hidroeléctrica que Angola está a desenvolver, e
uma das maiores da África, com 2170 megawatts, o valor global do investimento
ascende a cerca de 4,5 mil milhões de dólares. “É, provavelmente, o maior
financiamento chinês para um só projecto no nosso país e na região, o que
atesta aquilo que tem sido o nível de cooperação e o suporte que a China tem
dado na construção de infra-estruturas”, salientou.
Relativamente
à presença de Angola neste Fórum em Macau, João Baptista Borges indicou ser a
“expressão do nosso interesse em ver reforçados os laços com a República
Popular da China”. Lembrando que Angola celebrou recentemente 40 anos de
estabelecimento de relações diplomáticas com a RPC e que em Março o Presidente
angolano, João Lourenço, se deslocou a Pequim, “onde se celebraram importantes
acordos”, o governante sustentou que essas acções “traduzem o interesse que
existe em ver cada vez mais investimento privado em Angola, sobretudo em
infra-estruturas”.
Representando
o sector da energia e da água, o Ministro frisou que se trata de “duas
infra-estruturas básicas, nas quais assenta o desenvolvimento económico do país
e também social”. Por isso, “a nossa participação no Fórum visa, sobretudo, não
só conhecer melhor as potencialidades da indústria e a tecnologia chinesas,
como também conhecer melhor as empresas chinesas que actuam nestas áreas”,
avançou.
De
Macau, onde está pela primeira vez, João Baptista Borges levará a imagem “de
uma cidade com uma velocidade de construção de edifícios surpreendente e uma
cidade de beleza arquitectónica notável”.
O
programa da 15ª edição do Fórum IIICF incluiu um seminário destinado à
Cooperação em Infra-estruturas entre a China e os PLP, organizado pelo
Secretariado Permanente do Fórum de Macau. Destaque para as palavras do
presidente da Associação dos Construtores Civis Internacionais da China, que
considerou que “as infra-estruturas têm sido uma área chave de cooperação” e
que, ao longo dos anos, a China e os países lusófonos têm cooperado nos
domínios dos transportes, comunicações, conservação da água, electricidade,
entre outros, “promovendo a conectividade das infra-estruturas, das regras e
normas e da amizade com os povos dos PLP”.
O
Fórum, que hoje termina, é subordinado ao tema “Inovação Ecológica,
Conectividade Digital” e junta 3000 convidados provenientes de 69 países e
regiões, incluindo ministros ou quadros superiores das instituições
financeiras. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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