Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Angola - Utiliza Macau como “ponte” para acordos com empresas chinesas

O Ministro da Energia e Águas de Angola assinou em Macau dois importantes acordos de entendimento com empresas chinesas estatais do sector da energia, concretamente a “Power China” e “State Grid”, na sequência da sua deslocação ao território para participar no Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas. Em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, João Baptista Borges destacou o papel da RAEM como ponte para a concretização de vários projectos de desenvolvimento em Angola apoiados pela China


Utilizar Macau como “ponte” para a concretização de acordos com empresas chinesas, tendo em vista o apoio a projectos de desenvolvimento em Angola, concretamente na área da energia, é para o Ministro da Energia e Águas do país africano de expressão portuguesa uma vantagem que se deve aproveitar.

“Nós, os que falamos português, que temos este património que é a língua, digamos que o facto de Macau falar também o português pode ajudar, e muito, a conhecermos particularidades da cultura, dos hábitos, do modo de ser da China e do povo chinês, que tem, como se sabe, uma cultura muito distante da nossa”, frisou. Essa aproximação “implica também conhecermos um pouco essa forma de ser e de estar e Macau pode ajudar-nos muito nisso, até porque aqui estão instaladas muitas das grandes empresas chinesas”, referiu João Baptista Borges ao Jornal Tribuna de Macau.

O governante angolano deslocou-se ao território para participar no Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas (IIICF), onde assinou alguns acordos com companhias chinesas, entre as quais a “Power Construction Corporation of China” (“Power China”), empresa totalmente estatal dedicada à indústria de construção civil e engenharia pesada, e a “China State Grid”, que é a Companhia Nacional da Rede Eléctrica da RPC, responsável pela maior parte da operação do sector no Continente.

Os protocolos de entendimento “têm para já um efeito ‘umbrella’”, como diz o Ministro, ou seja, uma protecção e segurança que representam a natureza empresarial e comercial de um acordo. “É um conjunto de acordos ou de contratos para a futura construção de sistemas de transporte de electricidade”, explicou.

João Baptista Borges reconhece que a grande prioridade em Angola é expandir os sistemas eléctricos, quer para sul, quer para os países da região. “A perspectiva é vermos as trocas de energia serem uma realidade de elevada importância na nossa região, até porque vivemos uma época, uma realidade, em que os efeitos das alterações climáticas estão cada vez mais presentes”, comenta, acrescentando que Angola tem “períodos de estiagens e de grandes cheias”. Nesse sentido, “sem dúvida, que a segurança energética, a segurança hídrica, são importantes”.

Os acordos assinados ontem têm por finalidade “promover também essas trocas com a construção de infra-estruturas que permitam, então, que tenhamos economias mais resilientes e trocas comerciais por via da energia eléctrica mais efectivas”, acentuou.

Por outro lado, João Baptista Borges referiu que o Governo de Angola, liderado por João Lourenço, pretende reforçar a expansão do acesso à electricidade por parte da população. “Na África subsaariana, como se sabe, as taxas de acesso à electricidade estão abaixo dos 50%, particularmente em Angola temos 43%, e nós almejamos fazê-la subir rapidamente e atingir 50% até ao final de 2027, ou seja, queremos que aproximadamente 16 milhões de habitantes tenham acesso à electricidade”, afirmou.

Para isso, acrescentou, “é preciso primeiro produzirmos uma energia cada vez mais barata e mais verde, utilizando, no fundo, abundantes recursos hídricos que o nosso país dispõe, mas também recursos solares, empregando tecnologias baratas, e, como sabemos, a China é pioneira no desenvolvimento da tecnologia solar e outras tecnologias de baixo custo”.

Investimentos na energia atingem 20 mil milhões USD

Angola tem feito grandes investimentos no sector da energia nos últimos anos, com recurso à linha de crédito da China. “Em Angola, seguramente, já foram investidos mais de 20 mil milhões de dólares com o apoio chinês”, afirmou o governante.

Só num projecto, a construção da central hidroeléctrica de Caculo Cabaça, no norte do país, naquela que é a maior hidroeléctrica que Angola está a desenvolver, e uma das maiores da África, com 2170 megawatts, o valor global do investimento ascende a cerca de 4,5 mil milhões de dólares. “É, provavelmente, o maior financiamento chinês para um só projecto no nosso país e na região, o que atesta aquilo que tem sido o nível de cooperação e o suporte que a China tem dado na construção de infra-estruturas”, salientou.

Relativamente à presença de Angola neste Fórum em Macau, João Baptista Borges indicou ser a “expressão do nosso interesse em ver reforçados os laços com a República Popular da China”. Lembrando que Angola celebrou recentemente 40 anos de estabelecimento de relações diplomáticas com a RPC e que em Março o Presidente angolano, João Lourenço, se deslocou a Pequim, “onde se celebraram importantes acordos”, o governante sustentou que essas acções “traduzem o interesse que existe em ver cada vez mais investimento privado em Angola, sobretudo em infra-estruturas”.

Representando o sector da energia e da água, o Ministro frisou que se trata de “duas infra-estruturas básicas, nas quais assenta o desenvolvimento económico do país e também social”. Por isso, “a nossa participação no Fórum visa, sobretudo, não só conhecer melhor as potencialidades da indústria e a tecnologia chinesas, como também conhecer melhor as empresas chinesas que actuam nestas áreas”, avançou.

De Macau, onde está pela primeira vez, João Baptista Borges levará a imagem “de uma cidade com uma velocidade de construção de edifícios surpreendente e uma cidade de beleza arquitectónica notável”.

O programa da 15ª edição do Fórum IIICF incluiu um seminário destinado à Cooperação em Infra-estruturas entre a China e os PLP, organizado pelo Secretariado Permanente do Fórum de Macau. Destaque para as palavras do presidente da Associação dos Construtores Civis Internacionais da China, que considerou que “as infra-estruturas têm sido uma área chave de cooperação” e que, ao longo dos anos, a China e os países lusófonos têm cooperado nos domínios dos transportes, comunicações, conservação da água, electricidade, entre outros, “promovendo a conectividade das infra-estruturas, das regras e normas e da amizade com os povos dos PLP”.

O Fórum, que hoje termina, é subordinado ao tema “Inovação Ecológica, Conectividade Digital” e junta 3000 convidados provenientes de 69 países e regiões, incluindo ministros ou quadros superiores das instituições financeiras. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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