Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Macau - “Temor” e “perigos” serviram de mote a concurso de eloquência em português

A 21ª edição do Concurso de Eloquência em Língua Portuguesa distinguiu ontem três alunos, dois da Universidade Politécnica e uma da Universidade Cidade de Macau. O mote foi “Nos perigos grandes, o temor é muitas vezes maior que o perigo”, de “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões. Os estudantes interpretaram a frase, tendo abordado temas como os Descobrimentos, os 50 anos do 25 de Abril de 1974 ou até mesmo experiências pessoais relacionadas com medos e anseios


É preciso “superar o medo e ter coragem”, por isso, estudantes universitários de Macau subiram ontem ao palco no âmbito da 21ª edição do Concurso de Eloquência em Língua Portuguesa, organizado pela Universidade de Macau (UM), e deixaram de lado o nervosismo. O mote foi precisamente sobre o medo: “Nos perigos grandes, o temor é muitas vezes maior que o perigo”, retirado de “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões.

No dia em que se celebraram os 50 anos do 25 de Abril, alguns dos 11 estudantes participantes invocaram a data e os desafios vividos naquele dia de 1974 em Portugal. Outros olharam para dentro, para as suas experiências, medos e ansiedades, e outros abordaram os Descobrimentos, por exemplo. No fim, saíram todos vencedores, como sublinharam os docentes que os acompanharam.

Humberto Zhang Hongyun mostrou-se “muito feliz” por ter conquistado o primeiro prémio, oferecido pela Fundação Macau, no valor de 10000 patacas. Aluno do terceiro ano do curso de Tradução Chinês-Português da Universidade Politécnica de Macau (UPM), Humberto contou ao Jornal Tribuna de Macau que tem “muita paixão” pela Língua de Camões.

“Para mim, a cultura ibérica, especialmente a cultura portuguesa, faz-me sentir muita paixão, e gosto também de muitas obras-primas da literatura portuguesa, de poesia”. Por essa razão, quis “explorar o mundo da Língua Portuguesa”.

Humberto levou a concurso o texto intitulado “Romper as correntes do temor”. “Indiquei os mecanismos do temor, que é algo psicológico, e, no fim do discurso, apresentei uma resolução para este problema: a resiliência, que é também algo psicológico. Porque todos nós temos uma barreira psicológica e por isso a resiliência é o melhor antídoto para este problema”, apontou.

O estudante da UPM, natural da província de Chongqing, declamou ainda parte de um poema de Ary dos Santos: “Serei tudo o que disserem/ por temor ou negação:/ demagogo, mau profeta/ falso médico, ladrão/ prostituta, proxeneta/ espoleta, televisão./ Serei tudo o que disserem:/ Poeta castrado não!”.

Patrocinado pelo Jornal Tribuna de Macau, o segundo prémio, no valor de 3000 patacas, foi conquistado por Alex Gan Tianer, também estudante da UPM e do terceiro ano, mas do curso de licenciatura em Português. “Nunca pensei que pudesse ganhar”, confessou.

“Como disse no meu discurso, falhei uma vez num concurso de eloquência de inglês, na minha escola secundária. Desta vez, estar no palco já fez de mim uma vencedora”, afirmou, apontando que o prémio foi um “extra”. “Coragem, pura e livre” foi o título que deu ao seu discurso, durante o qual falou então da sua experiência pessoal e do medo que sentia de subir ao palco.


Natural da Mongólia Interior, Alex Gan Tianer contou que só teve contacto com a Língua Portuguesa quando entrou para a universidade. “Escolhi aprender Língua Portuguesa porque gosto muito de aprender línguas estrangeiras e sei que Macau é uma plataforma de contacto entre a China e os países lusófonos. Por isso, escolhi Macau para estudar”, acrescentou a estudante.

O terceiro lugar, por sua vez, patrocinado pelo Banco Nacional Ultramarino (BNU) e no valor de 1000 patacas, coube a Aurora Cheng Ziyu, estudante na Universidade Cidade de Macau. “Este é o terceiro ano que estudo Português, e estudo porque adoro estudar línguas estrangeiras. Estudei espanhol durante seis anos na minha escola secundária”, contou a aluna.

“O perigo e o temor” foi o título escolhido por Aurora Cheng Ziyu. Na sua apresentação, a estudante natural da província de Tianjin falou sobre o temor ser muitas vezes maior que o perigo. “Temos de superar o medo com coragem”, acrescentou, nas declarações a este jornal.

A estudante frisou que “cultura ocidental é muito interessante e tem muitas diferenças em relação à cultura chinesa”, o que a levou também a interessar-se pelo Português. O curso de licenciatura em Português da Universidade Cidade de Macau vai formar, este ano, os primeiros graduados nesta área.

“Estou muito contente. Nunca pensei que pudesse ganhar, foi uma surpresa”, conclui Aurora Cheng Ziyu, acrescentando que “estava muito nervosa”, até porque foi logo a primeira a subir ao palco.

José Pascoal, docente da UM e organizador do concurso, explicou que o objectivo da iniciativa é levar a que os alunos se apropriem de uma língua que é também deles. “Ninguém se apropria da língua se não falar a língua. o concurso é uma das muitas outras vias possíveis para eles se apropriarem desta língua que é nossa, mas também é deles. Esta é a principal razão”, afirmou a este jornal.

Quanto à escolha do mote desta edição, uma frase de “Os Lusíadas”, de Camões, o docente disse que é uma forma de celebrar os 500 anos do nascimento do poeta. “É um desafio para os alunos interpretar aquela frase de Camões, sobre os perigos, os medos, o que fazemos com eles, como os encaramos e ultrapassamos”, observou, acrescentando que “há metáforas fantásticas” nos textos produzidos este ano.

O júri foi composto este ano pelo advogado Frederico Rato, pelo advogado e dramaturgo Miguel de Senna Fernandes, e pela docente e cantautora Maria Paula Monteiro. Durante a sessão, houve ainda momento para ouvir “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, por Maria Paula Monteiro, bem como para ver o documentário “25 de Abril – Uma Aventura para a Democracia”, de Edgar Pêra. Na cerimónia esteve também presente o director do Departamento de Português da UM, João Veloso, bem como outros docentes, alunos e convidados. Os Serviços de Correios e os Serviços de Turismo, tal como o BNU, ofereceram presentes aos participantes. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”




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