A 21ª edição do Concurso de Eloquência em Língua Portuguesa distinguiu ontem três alunos, dois da Universidade Politécnica e uma da Universidade Cidade de Macau. O mote foi “Nos perigos grandes, o temor é muitas vezes maior que o perigo”, de “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões. Os estudantes interpretaram a frase, tendo abordado temas como os Descobrimentos, os 50 anos do 25 de Abril de 1974 ou até mesmo experiências pessoais relacionadas com medos e anseios
É
preciso “superar o medo e ter coragem”, por isso, estudantes universitários de
Macau subiram ontem ao palco no âmbito da 21ª edição do Concurso de Eloquência
em Língua Portuguesa, organizado pela Universidade de Macau (UM), e deixaram de
lado o nervosismo. O mote foi precisamente sobre o medo: “Nos perigos grandes,
o temor é muitas vezes maior que o perigo”, retirado de “Os Lusíadas”, de Luís
Vaz de Camões.
No
dia em que se celebraram os 50 anos do 25 de Abril, alguns dos 11 estudantes
participantes invocaram a data e os desafios vividos naquele dia de 1974 em
Portugal. Outros olharam para dentro, para as suas experiências, medos e
ansiedades, e outros abordaram os Descobrimentos, por exemplo. No fim, saíram
todos vencedores, como sublinharam os docentes que os acompanharam.
Humberto
Zhang Hongyun mostrou-se “muito feliz” por ter conquistado o primeiro prémio,
oferecido pela Fundação Macau, no valor de 10000 patacas. Aluno do terceiro ano
do curso de Tradução Chinês-Português da Universidade Politécnica de Macau
(UPM), Humberto contou ao Jornal Tribuna de Macau que tem “muita paixão” pela
Língua de Camões.
“Para
mim, a cultura ibérica, especialmente a cultura portuguesa, faz-me sentir muita
paixão, e gosto também de muitas obras-primas da literatura portuguesa, de
poesia”. Por essa razão, quis “explorar o mundo da Língua Portuguesa”.
Humberto
levou a concurso o texto intitulado “Romper as correntes do temor”. “Indiquei
os mecanismos do temor, que é algo psicológico, e, no fim do discurso,
apresentei uma resolução para este problema: a resiliência, que é também algo
psicológico. Porque todos nós temos uma barreira psicológica e por isso a
resiliência é o melhor antídoto para este problema”, apontou.
O
estudante da UPM, natural da província de Chongqing, declamou ainda parte de um
poema de Ary dos Santos: “Serei tudo o que disserem/ por temor ou negação:/
demagogo, mau profeta/ falso médico, ladrão/ prostituta, proxeneta/ espoleta,
televisão./ Serei tudo o que disserem:/ Poeta castrado não!”.
Patrocinado
pelo Jornal Tribuna de Macau, o segundo prémio, no valor de 3000 patacas, foi
conquistado por Alex Gan Tianer, também estudante da UPM e do terceiro ano, mas
do curso de licenciatura em Português. “Nunca pensei que pudesse ganhar”,
confessou.
“Como
disse no meu discurso, falhei uma vez num concurso de eloquência de inglês, na
minha escola secundária. Desta vez, estar no palco já fez de mim uma
vencedora”, afirmou, apontando que o prémio foi um “extra”. “Coragem, pura e
livre” foi o título que deu ao seu discurso, durante o qual falou então da sua
experiência pessoal e do medo que sentia de subir ao palco.
Natural
da Mongólia Interior, Alex Gan Tianer contou que só teve contacto com a Língua
Portuguesa quando entrou para a universidade. “Escolhi aprender Língua Portuguesa
porque gosto muito de aprender línguas estrangeiras e sei que Macau é uma
plataforma de contacto entre a China e os países lusófonos. Por isso, escolhi
Macau para estudar”, acrescentou a estudante.
O
terceiro lugar, por sua vez, patrocinado pelo Banco Nacional Ultramarino (BNU)
e no valor de 1000 patacas, coube a Aurora Cheng Ziyu, estudante na
Universidade Cidade de Macau. “Este é o terceiro ano que estudo Português, e
estudo porque adoro estudar línguas estrangeiras. Estudei espanhol durante seis
anos na minha escola secundária”, contou a aluna.
“O
perigo e o temor” foi o título escolhido por Aurora Cheng Ziyu. Na sua
apresentação, a estudante natural da província de Tianjin falou sobre o temor
ser muitas vezes maior que o perigo. “Temos de superar o medo com coragem”,
acrescentou, nas declarações a este jornal.
A
estudante frisou que “cultura ocidental é muito interessante e tem muitas
diferenças em relação à cultura chinesa”, o que a levou também a interessar-se
pelo Português. O curso de licenciatura em Português da Universidade Cidade de
Macau vai formar, este ano, os primeiros graduados nesta área.
“Estou
muito contente. Nunca pensei que pudesse ganhar, foi uma surpresa”, conclui
Aurora Cheng Ziyu, acrescentando que “estava muito nervosa”, até porque foi
logo a primeira a subir ao palco.
José
Pascoal, docente da UM e organizador do concurso, explicou que o objectivo da
iniciativa é levar a que os alunos se apropriem de uma língua que é também
deles. “Ninguém se apropria da língua se não falar a língua. o concurso é uma
das muitas outras vias possíveis para eles se apropriarem desta língua que é
nossa, mas também é deles. Esta é a principal razão”, afirmou a este jornal.
Quanto
à escolha do mote desta edição, uma frase de “Os Lusíadas”, de Camões, o
docente disse que é uma forma de celebrar os 500 anos do nascimento do poeta.
“É um desafio para os alunos interpretar aquela frase de Camões, sobre os
perigos, os medos, o que fazemos com eles, como os encaramos e ultrapassamos”,
observou, acrescentando que “há metáforas fantásticas” nos textos produzidos
este ano.
O
júri foi composto este ano pelo advogado Frederico Rato, pelo advogado e
dramaturgo Miguel de Senna Fernandes, e pela docente e cantautora Maria Paula
Monteiro. Durante a sessão, houve ainda momento para ouvir “Grândola, Vila
Morena”, de Zeca Afonso, por Maria Paula Monteiro, bem como para ver o
documentário “25 de Abril – Uma Aventura para a Democracia”, de Edgar Pêra. Na
cerimónia esteve também presente o director do Departamento de Português da UM,
João Veloso, bem como outros docentes, alunos e convidados. Os Serviços de
Correios e os Serviços de Turismo, tal como o BNU, ofereceram presentes aos
participantes. Catarina Pereira – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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