Casa
Materna
1.
Posso
cantar, falar, escrever
Comunicar
e trabalhar
Lembrar
e esquecer
Alinhar
sons como soldados a marchar
Posso
dissertar e compreender
Ser
suave cântico em vespertina missa
Ruminar
sotaques e aprender
Ser
frio mármore ou vela mortiça
Posso
viajar e derreter
Sob
aparente quietude
Ou
em chão escaldante ser
Palavra
magra e rude
Mas
só na minha língua verdadeiramente sinto
Só
nesta casa antiga divago, sonho e pinto
Só
em português eu posso ser.
2.
[Terá
ficado alguma coisa por contar
Que
as palavras abrem mundos; porém
Outras
línguas me tomam como refém
Nelas
não posso ser −mas posso estar]
Em
francês vivo delírios −muitos, outros
Experimentando
sempre novas sensações
Em
tímidos avanços e empurrões
Cavalgando
livre como um potro
Seria
língua minha, adotada, se a bebesse
Por
inteiro; acontece que EU lhe pertenço
E
não o contrário: sou desse imenso
Rosário
de amantes que em seu regaço floresce
[O
espanhol deu-me as Américas]
De
Espanha, o formalismo e a correção
Em
Cuba sou Atlântico, desnorte e coração
Leio,
canto e fico em personagens feéricas
Da
literatura ao feijão, arroz ou plátano
Prazeres
da mesma dimensão e natureza
Da
música que acende espírito e palato
Nas
mãos casca de fruta, gula e beleza
Do
inglês guardei a norma e o rigor
Sou
ferramenta e chave-mestra
Em
língua molde que adestra
Desdobrando
braços para o exterior
Mas
guardo também o gosto pela poesia
Emily
Dickinson é palavra redonda e serena
Contida,
eclética −como as flores da verbena
Alguém-ninguém
que ficou nas coisas que dizia
E
o crioulo? Essa mescla tão inesperada de sentidos
Coisas
que abarco com textura e medo
Sabores
que provo e acrescento em segredo
Ingenuamente
em acordes, sombras e ruídos
Essa
língua que me rouba a paz e em tudo faz
Parecer
parecida a outra que me traz ao colo
É
uma língua que alimenta e satisfaz; um desconsolo
E
um deslumbramento de fogo e chuva pertinaz
Restam-me
as línguas viscerais; não são maternas
São
naturais no sangue desde o começo dos tempos
Antes
de nascer família, história e efémeros eventos
Eram
internas raízes a aflorar à boca −sempiternas
Há
um pudor maior em cantá-las; são uma vela
Que
não soprei ainda −suguei açúcar das canas
Ouvi
avós nos quintais e trauteei melodias angolanas
[Em
kimbundo profundo, kikongo, lingala ou umbundo de Benguela].
Luísa Fresta – Portugal / Angola in “Casa
Materna” Editorial Novembro
Onze
anos é algum tempo, o suficiente para afirmar que os objetivos, para o qual o
blogue “Baía da Lusofonia” foi criado, estão a ser alcançados. Os três países
lusófonos que apresentam mais visitas ao blogue, Brasil, Moçambique e Portugal,
representam 7% de um total superior a 1,5 milhão de visitantes. Os restantes,
93% estão distribuídos por quase duas centenas de países e territórios, dos
quais salientamos na América, Canadá e Estados Unidos, na Europa
a Alemanha, Áustria, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Países
Baixos, Reino Unido, Rússia, Suécia e Ucrânia, em África, Angola, Cabo
Verde, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Quénia, Senegal e Tanzânia, por fim na Ásia,
China, Coreia do Sul, Hong Kong, Indonésia, Japão, Macau, Singapura e Turquia.
São
os responsáveis dos países africanos de língua portuguesa que mais reivindicam
que o idioma que nos une, tem de ser uma língua de ciência. Enquanto na área da
cultura, assistimos diariamente a apresentação de literatura, poesia em língua
portuguesa, na área da ciência verificamos estudiosos, investigadores,
cientistas, a Academia apresentarem todos os documentos em língua inglesa,
ficando para o português apenas as sinopses. A responsabilidade cabe aos
sucessivos governantes do Brasil e Portugal que nada decidem para alterar o
percurso que a língua portuguesa tem percorrido no âmbito da ciência, por serem
os países com mais longevidade e com maior desenvolvimento. A Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) poderia alocar no seu sítio, um espaço onde
fosse obrigado a publicação dos artigos científicos em língua portuguesa e
permitir que todos os cidadãos dos países lusófonos tivessem acesso a esses
documentos.
Continua
a haver visitas por artigos publicados no blogue “Baía da Lusofonia” nos anos
de 2012 e seguintes, o que vem mostrar que está criado um acervo com mais de
10300 artigos que estará sempre presente para que os cidadãos acedam a
informação que na comunicação social são voláteis. O blogue continua a existir
com um princípio, não ter fins lucrativos. Baía da Lusofonia
Sem comentários:
Enviar um comentário