O livro infanto-juvenil de Carlos dos Santos, Os pintores de sonhos, foi laureado, esta sexta-feira, Dia da Criança Africana, durante a realização da sexta edição do Festival do Livro Infanto-juvenil da Kulemba (FLIK), na Casa do Artista, Cidade da Beira.
Uma floresta de tocos mantinha viva a memória de um tempo
distante em que a música da folhagem das árvores a dançar ao vento embalava os
entardeceres mornos daquela aldeia, situada no sopé de Xinhamapere. Era um
tempo de que o Zua e a Mwedzi só tinham ouvido contar.
O
excerto acima é extraído do primeiro parágrafo de Os pintores de sonhos,
18º livro de Carlos dos Santos. No conto infanto-juvenil, o autor explora, em
primeiro lugar, um enredo cheio de surpresas e mistérios sobre os efeitos
nefastos, para a vida, dos desmandos humanos em relação ao ambiente. Em segundo
lugar, a obra literária lembra que a responsabilidade pelas calamidades
naturais, e a solução, não exclui nenhum ser humano, “independentemente” da sua
idade. “Todos” podem fazer alguma coisa positiva pelo planeta. Aliás, mesmo a
condizer com o lema da sexta edição do Festival do Livro Infanto-juvenil da
Kulemba (FLIK), Ler para reduzir riscos de desastres, o livro de Carlos dos
Santos destacou-se, na primeira edição do Prémio Nacional de Literatura
Infanto-juvenil, também por chamar atenção sobre a importância da preservação
da natureza.
Na
cerimónia realizada na Casa do Artista, na Cidade da Beira, o presidente do
júri, Alberto da Barca, referiu-se ao efeito didáctico do conto de Carlos dos
Santos, o que se revela numa linguagem que estimula a sugerida pertinência pela
preservação ambiental. “A história é cativante, desperta a curiosidade, [o
escritor] lidou bem com o mistério, a imprevisibilidade, e o ritmo cria
suspense em cada página. O livro está escrito de forma clara, e é interessante
a ideia do sublinhar de algumas palavras e haver um dicionário no fim do livro.
As ilustrações, singelas, apoiam bem o texto”, lê-se na acta do júri.
Ainda
na Casa do Artista, em representação dos outros membros do júri (Angelina Neves
e Marcelo Panguana), Alberto da Barca explicou que, antes dos trabalhos
iniciarem, todos decidiram observar questões como relevância e actualidade da
mensagem; a arte de construção das frases com recurso a termos que mais se
ajustam ao contexto e aos diferentes momentos da história; termos que
enriquecem o vocabulário e fazem viajar na aventura ou viver a situação como se
o leitor lá estivesse; palavras que ornamentam o enredo e outras que levam a
reflexão e a relação entre a ilustração e o texto. Tendo feito isso, depois de
seguir a avaliação das obras por fases, portanto, o júri decidiu laurear Os
pintores de sonhos.
Reagindo
à distinção, na manhã deste sábado, na Cidade de Maputo, Carlos dos Santos não
escondeu o seu contentamento: “Estou satisfeito porque o trabalho da minha
lavra foi apreciado, sobretudo pelas pessoas que constituíram aquele júri, que
são pessoas que possuem elevados méritos nas artes, em particular nas artes da
escrita. Saber que aquelas três pessoas acharam que aquele livro reúne uma
série de critérios de qualidade, naturalmente que me apraz”. Entretanto, para
Carlos dos Santos, o grande prémio será conseguir levar mais pessoas a ler a
sua história e, em função disso, se gostarem, interessarem-se por outras
histórias e ficarem “viciadas” na leitura. Esse, para o autor, será um prémio
real.
Com
72 páginas, Os pintores de sonhos foi ilustrado por Rajau de Carvalho e
lançado pela Alcance Editores, em 2021. Pela distinção, Carlos dos Santos vai
receber o valor monetário na ordem de 100 mil meticais, dos quais 20% serão
repartidos com o ilustrador, conforme prevê o regulamento do concurso. José
dos Remédios – Moçambique in “O País”
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