Foi a 24 de Junho de 1622 que forças militares e civis conseguiram impedir que os holandeses ocupassem Macau, data que é celebrada no território anualmente como o Dia da Cidade. O Instituto Internacional de Macau (IIM) assinala a data com uma palestra que junta Agnes Lam, André Ritchie, mas também Sit Kai Sin, director do Museu Marítimo de Macau, e Matias Lao Hon Pong, presidente da Associação dos Embaixadores do Património de Macau, numa mesa-redonda onde se pretende ajudar a comunidade chinesa e gerações mais novas a compreender melhor o acontecimento histórico
Este
sábado, 24 de Junho, Dia da Cidade de Macau, o Instituto Internacional de Macau
(IIM) está a organizar uma palestra em torno do “significado do dia”, e do
acontecimento histórico de 1622, em que Macau conseguiu repelir as invasões
holandesas. A partir das 14h30, o auditório do IIM vai contar com a presença de
Agnes Lam, directora do Centro de Estudos da Universidade de Macau, Sit Kai
Sin, director do Museu Marítimo de Macau, Matias Lao Hon Pong, presidente da
Associação dos Embaixadores do Património de Macau e ainda de André Ritchie,
director de Halftone – Macao Photographic Association. Este partilhou com o Ponto Final a sua visão
sobre a importância da ocasião: “Para um cidadão de Macau, nós não podemos
ignorar esse acontecimento histórico, porque teria repercussões completamente
diferentes no nosso presente”.
Já
António Monteiro, moderador da palestra, e Presidente da Comissão Organizadora
da Associação dos Jovens Macaenses, esclareceu que “a intenção é de não deixar
que a data do 24 de Junho seja esquecida”, já que esta “sempre foi valorizada
como parte da identidade histórica e cultural de Macau”. Enquadrando o contexto
histórico da data, António Monteiro mencionou que “para além de ter sido um
acontecimento histórico que envolveu portugueses e chineses”, actualmente “a
investigação vai mais longe, e diz que os escravos estiveram envolvidos na
batalha contra os holandeses, ajudando a expulsá-los na altura”. Destacando que
este dia é também o Dia de São João Baptista, que se “tornou o santo padroeiro
de Macau”, o responsável indicou que o dia da Cidade foi celebrado anualmente
até 1999, e “em 2007, com a vontade de muitas associações principalmente de
matriz portuguesa, foi retomado o arraial de São João na Calçada de São Lázaro,
e também na escola portuguesa”.
Apesar
de acolher portugueses e macaenses, a palestra é dirigida principalmente à
comunidade chinesa, e também à geração mais nova, que pode obter mais conhecimentos
sobre a importância deste acontecimento. “Há a toponímia de Macau, com
monumentos como o da Vitória, e é importante as pessoas compreenderem o
contexto histórico”, vincou o organizador.
Na
palestra, serão projectados logo no início “dois vídeos para explicar melhor o
significado do dia 24 de Junho”. Alguns palestrantes também terão uma
apresentação de powerpoints, “mas de uma forma mais relaxada, e não tão
académica, porque no fundo a ideia é de interagir com o público presente para
eles poderem trocar impressões”, assegurou António Monteiro, acrescentando que
“um dos vídeos é da autoria de José Bastos da Silva”, e o outro, do instituto,
“contém testemunhos do presidente do IIM, o Dr. Jorge Rangel, e de três pessoas
ligadas a diáspora macaense”.
Será,
portanto, em português e cantonense que se dará a conhecer a componente
histórica do acontecimento que deu vitória a Macau, numa batalha em 1622, mas
também haverá perspectivas inconvencionais.
O futuro que poderia não ter acontecido
A
ideia de André Ritchie é justamente de ir “por uma via um pouco diferente”.
Pegando na frase do historiador militar americano Robert Cowley, que diz que
“nós somos o produto de um futuro que poderia não ter existido”, André Ritchie
indaga sobre esses cenários hipotéticos. “O que seria de Macau se os holandeses
tivessem conquistado Macau? Será que haveria RAEM, será que haveria Lei
Básica?”, questiona.
Garantido
que a intenção é de “abordar o tema de uma forma relaxada”, e sem conotações
políticas, a sua intervenção pretende também dar uma perspectiva diferente a um
acontecimento que “independentemente do interesse que se possa ter pela
história ou presença portuguesa”, na sua
opinião “este acontecimento não pode ser ignorado porque se os holandeses tivessem conseguido
conquistar Macau tal como conseguiram conquistar Malaca, o Macau de hoje seria
uma coisa completamente diferente, e só
pensar nisso é engraçado”, refere.
Quando
questionado sobre o peso do colonialismo e uma possível carga pesada que a data
possa ter para quem não está ligado à comunidade portuguesa, o director da
associação Halftone relembra que é preciso ver “o enquadramento geopolítico
daqueles tempos”. O facto de o dia 24 de Junho ser mais associado aos
portugueses, e ser menos conhecido da comunidade chinesa, é a seu ver algo que
acontece não por falta de vontade da comunidade portuguesa de incluir a
população chinesa, mas mais por coincidência com a festividade dos arraiais.
“Nós portugueses tivemos sempre uma narrativa de este ser um dia da cidade. A
forma como nós contamos a história, é a de que a população se juntou e
defendemos a cidade independentemente das cores e etnias”, numa perspectiva “de
uma forma algo romântica”, brinca. “O certo é que este dia, por ser depois
associado ao São João, um santo popular, e aos arraiais,” fez com que a data
passasse “a ser uma coisa muito portuguesa, e a população chinesa talvez por
causa disso tenha tido alguma dificuldade em fazer parte”, confessa.
É
justamente para criar novos espaços de diálogo e interactividade entre
chineses, portugueses e macaenses que o IIM tem organizado palestras e eventos
como este, referiu também António Monteiro, que recordou que este ano, “em
forma de colaboração”, há um encontro de motas promovido pela Associação para a
Promoção e Desenvolvimento do Circuito da Guia de Macau, e uma missa de acção
de graças na igreja de São Domingos. “Tivemos o cuidado de, caso o arraial na
zona de São Lázaro não acontecesse, de dar a opção a quem quisesse de fazer
algo relacionado com a data”, e foi nesse sentido que o arraial de São João
Baptista este ano se associou aos restaurantes Mariazinha e Tromba Rija, “que
fizeram um menu especial de comida portuguesa nos seus restaurantes em torno da
festa”, esclareceu ainda o responsável.
Para
António Monteiro, “é importante não deixar de organizar o arraial” e garantir a
iniciativa, mesmo que não seja em São Lázaro: “o importante aqui é que todos se
juntam numa festa, e é sempre mais dignificante, juntar a comunidade
portuguesa, chinesa e a macaense numa festa, até porque essa festa não é uma
festa só portuguesa, é uma festa que faz parte de Macau. Faz todo o sentido
continuar”. Rita Gonçalves – Macau in “Ponto
Final”
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