Apurações demonstraram que um negociante de artes e antiguidades estaria na posse de diversos documentos, dentre eles, alvarás, decretos e regimentos referentes à exploração de ouro em Minas Gerais na segunda metade do século XVIII
Centenas
de documentos históricos, caracterizados como bens culturais fora do comércio,
de origem pública e valor permanente, que não podem ser livremente
comercializados, foram recuperados na manhã desta quarta-feira, dia 28, durante
a Operação Devolva-me. Os trabalhos foram coordenados pelo Ministério Público
de Minas Gerais (MPMG), com o apoio do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (MPDFT) e das Polícias Militares de MG e DF.
A
investigação teve início a partir de informações recebidas pela Coordenadoria
do Patrimônio Cultural (CPPC/MPMG), que conseguiu apurar que um negociante de
artes e antiguidades de Brasília estaria na posse de diversos documentos,
dentre eles, alvarás, decretos e regimentos referentes à exploração de ouro em
Minas Gerais na segunda metade do século XVIII.
Segundo
MPMG, as diligências realizadas no Procedimento Investigatório Criminal
apontaram indícios de que alguns dos documentos poderiam ter sido ilicitamente
subtraídos de arquivos e outras instituições localizadas em solo mineiro.
Na
residência onde estava o material, a equipe do MPMG procedeu uma minuciosa
triagem, catalogação e embalagem dos documentos antes de apreendê-los e
transportá-los para a sede do MPMG. O material apreendido durante a operação
será periciado e, comprovada a autenticidade e identificada a origem, serão
oportunamente devolvidos aos arquivos e instituições dos quais não deveriam ter
saído.
O
número exato e a origem dos documentos ainda não foram oficialmente divulgados,
pois as investigações estão em andamento. Em uma análise preliminar,
verificou-se que diversos documentos podem ser oriundos do estado de Minas
Gerais, sendo que alguns deles podem ter sido subtraídos do acervo do Arquivo
Público Mineiro, sediado em Belo Horizonte.
Dentre
o material apreendido também estão diversos documentos públicos referentes ao
Período Pombalino (1750-1780), os quais ainda apresentam vestígios de cola e
linhas de costura, indicando que podem ter sido arrancados de encadernações
oficiais. Muitos desses documentos foram impressos em papel trapo, típico do
período colonial, com marca d´água e com o padrão dos documentos da Oficina
Régia Tipográfica.
Foram
identificados alvarás, decretos, e regimentos impressos com ordens e
regulamentações da coroa portuguesa e endereçados às autoridades da colônia,
principalmente governadores das capitanias.
Para
o promotor de Justiça Marcelo Azevedo Maffra, coordenador da CPPC, a apreensão
é, certamente, uma das importantes de todos os tempos para o patrimônio
arquivístico brasileiro, seja pela quantidade ou pela relevância do material
apreendido. “São documentos de valor permanente e de elevado interesse social,
que deveriam estar disponíveis em arquivos públicos para a livre consulta de
quaisquer interessados. Pela legislação brasileira, os documentos apreendidos
são de comércio proibido e não poderiam estar em poder do investigado”.
O
promotor explica que o patrimônio arquivístico é formado por documentos que constituem
acervo e fonte de comprovação de eventos históricos e estão sujeitos a um
especial regime jurídico relativo a seu gozo e disponibilidade. A Lei nº
4.845/65A impõe um regime jurídico especial aos ofícios produzidos no país, até
o fim do período monárquico, em clara demonstração da importância desses bens e
necessidade de sua proteção.
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