Uma equipa de cientistas do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu um sistema reacional de fotocatálise solar, utilizando catalisadores suportados, capaz de remover contaminantes químicos e biológicos das águas residuais domésticas.
O
projeto PhotoSupCatal, que termina ainda este mês, tem como principal objetivo
encontrar um tratamento terciário que consiga eliminar contaminantes de
preocupação emergentes de maneira a proteger os ecossistemas e tentar obter uma
água que possa ser reutilizável, por exemplo para irrigação. Para além dos
compostos químicos, os investigadores avaliaram também a possibilidade de
desinfeção, mais concretamente, verificaram qual o impacto que este processo
tem na bactéria Escherichia coli e os resultados são promissores.
«Apesar das águas residuais domésticas passarem pelos tratamentos biológicos habituais, ainda não são tidos em conta alguns compostos químicos poluentes que estão a surgir nas águas e que advêm do consumo humano, nomeadamente de produtos de cosmética e farmacêuticos. Estes produtos libertam para as águas residuais moléculas que aparecem em concentrações muito pequenas, mas que devido à sua complexidade não conseguem ser tratadas por via biológica, que é o processo mais comum nas estações de tratamento de águas residuais municipais», começa por explicar Rui Martins, docente do DEQ e investigador do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF).
Assim,
prossegue Rui Martins, «o processo de tratamento que estamos a analisar é de
fotocatálise, ou seja, temos um catalisador que é ativado pela luz e com essa
ativação há produção de radicais, que são compostos muito instáveis e reativos,
que vão degradar os compostos orgânicos. Como os radicais são pouco específicos
conseguem atacar, teoricamente, toda a matéria orgânica existente», fundamenta
o docente, acrescentando que neste processo será utilizada a energia solar como
fonte de radiação, uma vez que tem um baixo custo.
Para
produzir este novo sistema, a equipa da FCTUC desenvolveu um sistema catalítico
sustentado com suportes à base de polímeros, nomeadamente PDMS e polianilina.
«Os resultados mostram-nos que estes catalisadores conseguem degradar
eficientemente os contaminantes orgânicos que estamos a testar e que são
estáveis para vários testes de reutilização. Nesta fase, estamos a testar o
reator em contínuo, a uma escala mais próxima do piloto», revela, esclarecendo
que já foram realizados teste à escala laboratorial com resultados promissores.
De
acordo com o docente do DEQ, este projeto terá impacto na indústria, porque vai
oferecer uma tecnologia de baixo custo para refinar a qualidade da água
tratada, permitindo a sua reutilização, e no ambiente, pois é seguida a
premissa da poluição zero, uma vez que são removidos estes compostos de
preocupação emergente.
«Estes
compostos são persistentes no meio ambiente, o que significa que, apesar de
serem descarregados em quantidades muito pequenas, se vão acumulando, podendo
ter impacto nos ecossistemas e na saúde. Este tipo de tecnologia permite-nos
removê-los antes dos efluentes serem lançados para os cursos hídricos,
protegendo-os e, noutro sentido, permitir-nos-á chegar a uma água que seja
adequada para reutilização, por exemplo, na agricultura, que é altamente
consumidora de água», conclui.
O
projeto, co-financiado pela União Europeia, através do FEDER, conta com a
participação de nove investigadores do CIEPQPF e é coordenado pela Adventech –
Advanced Environmental Technologies, Lda, empresa especializada no
desenvolvimento e construção de ETARs e Sistemas de Tratamento de Emissões
Gasosas. Universidade de Coimbra - Portugal
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