Um concerto do Grupo Vocal Olisipo ofereceu, na igreja Notre Dame-du-Mont, em Marselha, uma seleção de obras que ilustram a evolução do estilo de compositores ligados à Sé de Évora nas gerações que se seguiram à chamada "era de ouro".
O
grupo foi convidado pelo Cônsul-Geral de Portugal em Marselha, por ocasião do
Dia Nacional de Portugal, 100º aniversário do filósofo português Eduardo
Lourenço e 200º aniversário do Consulado de Portugal em Marselha.
"É
fascinante ver como a força da Contra-Reforma e a influência da obra dos
grandes mestres do século XVII fizeram com que, paralelamente ao
desenvolvimento de novos estilos musicais, a escrita no estilo antico se
mantivesse até meados do séc. XIX”, diz uma apresentação da mostra enviada ao
LusoJornal. “As obras que vamos executar neste programa é, de certa forma, o património
musical que vamos apresentar pode ter a sua origem na obra de Manuel Mendes, um
dos primeiros Mestres de Capela da Sé de Évora”.
Manuel
Mendes foi professor dos primeiros grandes compositores da Escola de Música da
Sé de Évora, muitos dos quais gozavam então de notoriedade internacional, como
Manuel Cardoso, Duarte Lobo e Filipe de Magalhães.
“Há
obras de compositores de Évora nos arquivos de igrejas e catedrais de todo o
mundo. Um dos primeiros exemplos conhecidos é o Aleluia de Manuel Mendes, cujas
cópias foram encontradas no México.
O
concerto começou com obras de Filipe de Magalhães e do seu pupilo Estêvão Lopes
Morago, compositor nascido em Espanha em 1575 mas que estudou em Évora. Foi
mestre de capela da Sé de Viseu, onde faleceu em 1630.
O
grupo cantou uma missa para os Domingos do Advento e da Quaresma de Afonso
Lobo.
Manuel
Rebelo foi contemporâneo de Manuel Cardoso e Filipe de Magalhães e, como eles,
aluno de Manuel Mendes. Foi, como Manuel Mendes, Mestre de Capela da Sé de
Évora mas, ao contrário dos seus colegas, não se tornou um nome conhecido nas
gerações que se seguiram. A maioria de suas obras foram perdidas durante o
terremoto de 1755, apenas algumas peças sobreviveram nos arquivos da Catedral,
incluindo a bela Regina Caeli que o grupo pôde cantar em Marselha.
Por
altura da morte de Estêvão Lopes Morago nasceram outros dois autores do Grupo
Vocal Olísipo: Francisco Martins (1620/25-1680) e Diogo Dias Melgaz
(1638-1700). Ambos estudaram com Manuel Rebelo e mais tarde tornaram-se Mestres
de Capela em Évora e Elvas.
O
compositor Pedro Vaz Rego mantém laços estreitos com Diogo Dias Melgaz. Nascido
em Campo Maior em 1673, foi aluno de Melgaz em Évora, depois tornou-se maestro
do coro da Sé de Elvas. Ele foi um autor prolífico de várias obras musicais em
estilos antigos e modernos.
O
grupo também cantou obras de Miguel Anjo do Amaral (c.1770-c.1820), André
Rodrigues Lopo (c.1730-1800).
“Esperamos
que este conjunto de pequenas obras-primas, na sua maioria completamente
desconhecidas do público moderno, vos fascine, não tanto pelo fenómeno da
imutabilidade estilística que coexiste com a inovação técnica há dois séculos,
mas sobretudo pela sua beleza”, refere a nota de imprensa do espectáculo.
O
Grupo Vocal Olisipo foi fundado em 1988 e desde então é liderado por Armando
Possante. O seu repertório é vasto e eclético, abrangendo obras desde o período
medieval até aos nossos dias.
Apresentou-se
inúmeras vezes por todo o país, tendo já atuado nos principais festivais de
música em palcos como o Centro de Arte Moderna, o Centro Cultural de Belém, o
Teatro Nacional de S. Carlos, a Casa da Música e o Teatro Rivoli.
Internacionalmente, já se apresentou em concertos por toda a Europa.
Armando
Possante estudou no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola Superior de
Música de Lisboa, onde concluiu os cursos superiores de regência coral, com
Christopher Bochmann, de canto gregoriano, com Helena Pires de Matos, e canto,
com Luís Madureira. Em 2019 obteve o Título de Especialista em Canto. Carlos
Pereira – França in “LusoJornal”
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