O teatro em patuá vai receber oficialmente esta sexta-feira a distinção como património cultural imaterial da China, dois anos depois do anúncio. O encenador do grupo teatral Dóci Papiaçam di Macau, Miguel de Senna Fernandes, disse à Lusa que o atraso se deveu às dificuldades acrescidas de viajar para a China continental durante a pandemia. A entrega da placa vai acontecer durante uma cerimónia de inauguração de uma exposição de património cultural da província de Hainan, uma ilha no sul da China. “Podia ter sido com um bocadinho mais de distinção”, lamentou Senna Fernandes. “Fomos um bocado enxertados [na cerimónia] e depois vão ouvir bocas, mas já estão habituados”, disse com um sorriso o macaense, referindo-se às comédias levadas a cena pelo Dóci Papiaçam, que ridicularizam e criticam os problemas sociais de Macau. Senna Fernandes destacou que, para além do valor simbólico e do reconhecimento do trabalho local, a inclusão na lista de património cultural imaterial da China é importante ao nível da preservação e proteção do teatro e do próprio patuá.
Considerado
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) como “gravemente ameaçado”, o nível antes da extinção, o patuá, criado
por imigrantes lusos em Macau ao longo dos últimos 400 anos, foi desaparecendo
devido à obrigatoriedade de aprendizagem do português nas escolas, imposta pela
administração portuguesa. “Tem que haver uma maneira diferente de ver o
teatro”, defendeu Senna Fernandes, sublinhando que assegurar uma sede para o
grupo Dóci Papiaçam di Macau é uma das prioridades. “É preciso reconhecer a
necessidade de ter um lugar para colocar as coisas. Temos o guarda-roupa todo
espalhado pela casa das pessoas. É ridículo ainda estarmos assim 30 anos
depois. Não cabe na cabeça de ninguém”, disse o encenador.
Os
Dóci Papiaçám di Macau, “único teatro activo” neste crioulo, nasceu a 30 de
Outubro de 1993, ano da morte do poeta macaense José dos Santos Ferreira (Adé)
e por ocasião da visita do então Presidente português Mário Soares a Macau e da
reabertura, após obras de recuperação, do D. Pedro V, primeiro teatro de estilo
ocidental na China. A entrega da placa vai acontecer numa cerimónia em que será
também assinalada a inclusão na Lista de Património Cultural Imaterial Nacional
chinês da gastronomia macaense e das crenças e costumes de Tou Tei, uma
divindade chinesa. In “Ponto Final” - Macau
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