Passados
104 anos da passagem e estacionamento de soldados do Corpo Expedicionário
Português (CEP) que participaram na I Guerra mundial na pacata aldeia de
Blessy, foram descobertos vestígios de nomes gravados nas paredes da igreja
desta localidade de soldados do contingente português.
Uma
reportagem do LusoJornal terá provavelmente salvo estes vestígios que até agora
eram conhecidos de poucos.
Nem
tudo foi dito, nem tudo foi descoberto, nem tudo foi revelado sobre a
participação portuguesa na I Guerra mundial.
Na
quarta-feira, dia 17 de fevereiro, ao nos deslocarmos até à pequena aldeia de
Blessy, com o Luís Gonçalves e Lionel Delalleau, a 70 quilómetros a noroeste de
Lille, o LusoJornal fez reportagem em direto para mostrar vestígios da passagem
pela dita localidade dos soldados portugueses do CEP. Esteve igualmente
presente Bruno Cavaco, Cônsul Honorário de Portugal na região Hauts-de-France e
o Maire de Blessy, Jean Marc Furgerot.
A
igreja de Blessy data do século XV, tendo sido reconstruída parcialmente entre
1842 e 1876. A rocha com que foi construída é calcária, o que explica que
numerosos blocos possuem inscrições. Entre as inscrições, testemunhámos a
presença de nomes de soldados do CEP identificados, outros não identificados.
As palavras “Lisboa” e “Paz” também ali estão gravadas.
Alguns soldados identificados
Das
pesquisas feitas por Christine da Costa e Lionel Delalleau, antes da nossa
reportagem, recolhemos as fichas dos soldados identificados. Tratam-se de José
António Mateus de Sousa, Fernando Ferreira de Macedo Faria Gaio ou Gayo, Matias
Marques Júnior e Aníbal Sousa Almeida.
José
António Mateus de Sousa estava casado com Maria Rosalina, era originário de
Vale do Paraíso, Aveiras de Cima, concelho de Azambuja. Embarcou de Lisboa com
destino a Brest a 27 de agosto de 1917 e regressou a 9 de março de 1919.
Fernando
Ferreira de Macedo Gaio, natural do concelho de Barcelos, embarcou a 22 de
abril de 1917 e regressou a Lisboa a 14 de maio de 1919.
As
inscrições na parede M M J Alcochete, temos quase como certeza serem as de
Matias Marques Júnior, casado com Ana Marques, e terá embarcado a 21 de agosto
de 1917 e regressado a 9 de março de 1919.
Aníbal
Sousa Almeida, natural de São Lázaro, Braga. Embarcou a 22 de abril de 1917 e
regressou a Portugal a 29 de julho de 1918, tendo sido julgado incapaz de todo
o serviço a 1 de julho de 1918.
Inscrições vão ser preservadas
Durante
a entrevista feita em direto de Blessy, o Cônsul Honorário de Portugal na
região, Bruno Cavaco, evocou o dever de memória, a necessidade dos descendentes
de saberem mais sobre os seus antepassados, terminando por falar sobre o
turismo de memória.
Para
o Maire de Blessy, a deslocação da equipa do LusoJornal foi uma autêntica surpresa.
Jean Marc Furgerot ficou surpreendido ao descobrir as inscrições dos soldados
portugueses nas pedras da igreja. Confessou passar ali quase todos os dias e
nunca ter examinado os nomes em detalhe. Anunciou ao LusoJornal que estão
previstas obras de renovação da igreja, mas com a descoberta e com o destaque
dado pelo LusoJornal, prometeu preservar os nomes portugueses, prova da
passagem dos soldados portugueses pela localidade que administra. Na zona da
aldeia onde estiveram estacionados os soldados do CEP, Les Tourbières, nenhum
vestígio pode atualmente ser observado.
Blessy, terra de José Bárbara
Blessy
estava situado na retaguarda dos combates. Ali estavam estacionadas motas,
carros e outros engenhos mecânicos, reparados ou em reparação.
Aquando
da visita do Presidente da República português Bernardino Machado aos soldados
portugueses, em outubro de 2017, dormiu no “Chateau St. André”, uma residência
em Witternesse, a 3 quilómetros de Blessy.
Consultamos
os casamentos realizados em Blessy e em Witternesse após o Armistício. Notamos
que vários casamentos se realizaram entre jovens originárias destas terras com
soldados portugueses. Citemos o exemplo do soldado José Bárbara, que ficou em
França depois da Guerra e que criou uma garagem para fabricar bicicletas e
motos. José Bárbara participou em diversas corridas de moto e carros, o seu
filho Roger Bárbara seguiu-lhe o exemplo, tal como o neto José Bárbara. Este
último nasceu no dia do “Débarquement”, a 6 de junho de 1944 e faleceu a 2 de
janeiro de 2017, tendo participado até aos últimos dias em ralis automóveis.
Ganhou durante a sua longa carreira cerca de 500 competições e em algumas
corridas fez equipa com Thierry Sabine.
Pároco de Blessy escreveu sobre os Portugueses
Durante
a reportagem do LusoJornal, foram entregues ao Maire as fichas dos três
soldados portugueses identificados. Jean Marc Furgerot entregou à nossa
reportagem páginas do “Registre de la Paroisse de Blessy entre 1841-1935”, nas
quais o Pároco da altura, escrevia sobre os soldados que em 1917 via chegar:
“No mês de fevereiro de 1917 começaram a chegar os Portugueses. Foram muito
edificantes. No domingo a igreja enchia-se completamente assim como na oração
da noite. Durante o dia muitos vêm rezar ajoelhando-se nas pedras da
pavimentação com os braços em cruz. Durante os meses de Maria e do Sagrado
Coração fazem exercícios especiais. Na procissão do Sagrado Sacramento muitos
participam e aqueles que se encontram no percurso descobrem-se e colocam-se de
joelhos… um só não parou e não se descobriu… os colegas expressaram a sua
reprovação contra a conduta do ímpio, dirigindo-lhe palavras e gestos”.
De
notar que na mesma altura, assistia-se em Portugal às primeiras aparições da
Virgem na Cova da Iria, aos três Pastorinhos. António Marrucho – França in “LusoJornal”
Veja
a reportagem aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário