A docente da Universidade de Toronto Manuela Marujo considera que as associações portuguesas e as manifestações culturais na diáspora desempenham um papel importantíssimo na promoção da “língua materna”
Falando
à Lusa por ocasião do Dia Internacional da Língua Materna, a docente, 72 anos,
destaca o papel das associações, no esforço de manter unidos às raízes as
gerações mais novas.
“Muitas
pessoas criticam porque as associações não fazem isto, considero que em
comunidades como a que temos em Toronto, temos a sorte de ter muitas
oportunidades para ouvir e para comunicarmos em português. Seja ir a um clube
para um jantar, em que há música portuguesa, com muitos convidados vindos de
Portugal ou de países de expressão portuguesa”, afirmou Manuela Marujo.
A
professora associada emérita da Universidade de Toronto, natural de Santa
Vitória (Beja), está no Canadá desde 1985, lecionando português como segunda
língua na instituição de ensino canadiana durante mais de três décadas.
“Há
muitas forças linguistas que nos contrariam e nos metem muitos obstáculos, mas
o papel das associações, da rádio, da televisão em português, não se pode
deixar de valorizar porque uma palavra aqui, uma música, uma dança, tudo isso
vai influenciar um dia os alunos para compreender de onde vieram”, destacou
Manuela Marujo.
Na
opinião da docente, pela sua experiência durante os 33 anos em que “ensinou” na
universidade, só com a aprendizagem da língua “é que os lusodescendentes podem
compreender certas tradições e costumes” trazidos pelos pais e avós, com
“muitos alunos a procurarem uma ligação à cultura e língua portuguesa” já no
ensino secundário, ou mesmo na universidade.
“Tenho
a experiência de muitos alunos que chegaram aos 18 anos e não sabiam uma
palavra de português, mas agora querem aprender a língua, querem compreender
algo que lhes falta na sua entidade”, frisou.
A
docente realçou ainda que muitas das vezes “não nos apercebemos que é
importante preservar e manter uma língua”.
Em
21 de fevereiro de 1952, um grupo de estudantes e ativistas em Bengala Oriental
(Bangladesh) desafiaram o exército do Paquistão, para o reconhecimento do
bengali como língua oficial, levando à criação do Bangladesh.
Atualmente
o bengali é a língua oficial daquele estado soberano criado em 1971, tem cerca
de 265 milhões de falantes. O protesto foi um exemplo mundial relacionado na
“língua materna como parte dos direitos humanos”, que levou a UNESCO em 1999 a
estabelecer o 21 de fevereiro, como o Dia Internacional da Língua Materna.
“É
sempre bom recordar que há um Dia Internacional da Língua Materna. Não é só
para nós, mas para todas as diásporas do mundo pensar em como a nossa
identidade é muito afetada pela nossa língua, a língua em como nos podemos
expressar de uma maneira mais natural”, sublinhou Manuela Marujo.
Segundo
a UNESCO, o Dia Mundial da Língua Materna 2021, tem como tema “promover o
multilinguismo para inclusão na educação e na sociedade” e reconhece que as
línguas e o multilinguismo podem promover a inclusão e os objetivos de
desenvolvimento sustentável concentram-se em não deixar ninguém para trás.
Existem
pelo menos 7117 línguas no mundo, segunda a plataforma de estatísticas das
línguas Ethnologue, muitas delas correm o risco do desaparecimento.
O
português, a quinta língua mais utilizada online, é falada globalmente
por 265 milhões de pessoas, 3,7 por cento da população mundial. Estima-se que
em 2050 haverá cerca de 400 milhões de falantes de português.
Segundo
dados do Governo canadiano, residem no país mais de 480 mil portugueses e
lusodescendentes. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário