A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou para a situação de milhares de deslocados de guerra dispersos em áreas de “acesso impossível”, devido à insegurança, na província moçambicana de Cabo Delgado, defendendo uma abordagem inclusiva na assistência humanitária
“Temos
quatro distritos de acesso impossível para a assistência humanitária a milhares
de deslocados em Cabo Delgado”, afirmou Alain Kassa, representante da MSF em
Moçambique.
Alain
Kassa falava num seminário sobre a situação humanitária em Cabo Delgado,
organizado pelo Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE), uma entidade
moçambicana de pesquisa independente.
Os
distritos de Mocímboa da Praia, Muidumbe, Macomia e Quissanga, na província de
Cabo Delgado, região norte, são os que acolhem refugiados sem acesso a nenhum
tipo de assistência humanitária, porque são os mais duramente atingidos pela
ação de grupos armados, afirmou.
Citando
dados das Nações Unidas e do Governo moçambicano, o representante da MSF
apontou que mais de 600 mil pessoas fugiram dos distritos afetados pelo
conflito armado para distritos seguros na província de Cabo Delgado e nas
províncias vizinhas de Nampula e Niassa, norte, e Sofala e Zambézia, centro.
“A
assistência humanitária que tem sido prestada aos deslocados em centros de
reassentamento é insuficiente, porque não têm sido canalizados apoios à altura
das necessidades”, destacou.
A
alimentação, água, cuidados de saúde, higiene, atividades de geração de renda e
abrigo constituem os bens necessários com maior urgência para os deslocados da
violência armada em Cabo Delgado, apontou Alain Kassa.
Kassa
referiu igualmente a necessidade de vacinação dos deslocados de guerra, contra
várias doenças, como outras das carências com que as vítimas da guerra naquela
região se debatem.
Sobre
as necessidades financeiras para a assistência humanitária às vítimas do
conflito armado, o representante da MSF apontou dados das Nações Unidas, cuja
última atualização fixou em 35,5 milhões de dólares (29 milhões de euros) o montante
necessário para uma resposta humanitária rápida.
Por
seu turno, Fonseca Mateus, padre e antropólogo residente na cidade de Pemba,
capital de Cabo Delgado, defendeu a necessidade de criação de condições de
ocupação para adolescentes e jovens, visando impedir o seu recrutamento por
grupos armados na região.
“Se
se diz que o desemprego e falta de ocupação foram favoráveis ao recrutamento de
jovens para os terroristas, então tem de se proporcionar ocupação aos jovens e
adolescentes obrigados a fugir dos distritos afetados pela violência”, declarou
Fonseca Mateus.
A
situação, prosseguiu, vai encorajar os jovens e adolescentes deslocados a
abandonarem os locais de acolhimento e a entregar-se a atividades nocivas.
O
número de deslocados devido ao conflito armado em Cabo Delgado, no norte de
Moçambique, subiu em dezembro para 670 mil pessoas, anunciaram as Nações Unidas
na mais recente atualização de dados compilados pelas agências humanitárias.
Além
das pessoas que fugiram das suas casas, na maioria crianças e jovens, muitas
comunidades que os recebem estão sob pressão e estima-se que haja 950 mil
pessoas “a enfrentar fome severa” nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e
Nampula – sendo 242 mil crianças com desnutrição grave.
Os
ataques armados crescem desde 2017, alguns foram reivindicados pelo grupo
‘jihadista’ Estado Islâmico desde há ano e meio, mas não há certezas sobre quem
está por detrás da violência organizada que tem sido combatida pelas Forças
Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM).
Cabo
Delgado é uma região rica em pedras preciosas, madeiras e local onde avança o
maior investimento privado de África, para extração de gás natural a partir de
2024.
Diversos
relatórios internacionais indicam que a costa da província também faz parte de
uma das rotas de tráfico de droga, sobretudo heroína. In “África
21 Digital” – Brasil com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário