O México mantém a sua luta para recuperar o património
pré-colombiano exibido em acervos europeus, mas até agora obteve poucos
resultados. Após tentar reaver o cocar de Montezuma, na posse de um museu
austríaco, o país agora reivindica 33 objectos que a firma Christie’s leiloará
no próximo dia 9 em Paris
O
Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) solicitou ao Ministério
Público mexicano que tome medidas legais contra a venda das peças e à
Secretaria de Relações Exteriores (SRE) que empreenda acções diplomáticas para
recuperar os objectos. “Determinou-se que o catálogo do leilão inclui peças que
correspondem a culturas originárias do México, razão pela qual fazem parte do
património da nação”, disse o Instituto em comunicado.
As
peças correspondem a uma série de colecções exibidas no último século em países
da Europa. Há esculturas, vasilhas, máscaras, pratos e estatuetas das culturas
asteca, maia, tolteca, totonaca, teotihuacana e mixteca, provenientes de diversos
Estados mexicanos. A maioria foi esculpida em pedra ou feita de barro.
A
Christie’s denominou o leilão de Quetzalcóatl, Serpente Emplumada, oferecendo
suas peças por valores iniciais que variam de 4000 a 900 mil euros. A
Christie’s garantiu a autenticidade dos lotes divulgando os arquivos aos quais
pertenciam as peças do catálogo.
No
leilão, destacam-se dois objectos com o maior lance inicial. Por um lado, está
uma máscara de pedra teotihuacana de 15 centímetros, do período clássico
(450-650 d.C.), que foi chamada de Quetzalcóatl e cujo lance inicial deve se
situar entre 350 mil e 550 mil euros.
A
Christie’s informa que a máscara pertenceu a Pierre Matisse, filho mais novo do
pintor francês Henri Matisse, e foi exibida em duas ocasiões: em 2012, no Museu
Quai Branly-Jacques Chirac, em Paris, e em 2018, no Palazzo Loredan, em Veneza.
Não
se sabe como a peça chegou à Europa. “Chamam-na Quetzalcóalt provavelmente
porque acreditam que assim se venderá melhor. Esta venda é pouco ética, ilegal
e muito sórdida”, escreveu no Twitter o arqueólogo Michael E. Smith, da
Universidade Estadual do Arizona (EUA).
Também
há uma escultura de pedra de Cihuatéotl, a deusa das mulheres que morrem no
parto, achada no sítio arqueológico de Zapotal, em Veracruz (sul do México). A
estatueta de 87 centímetros pertenceu à cultura totonaca no período clássico
(600-1000 d.C.). A casa de leilões pede como preço inicial da disputa entre 600
mil e 900 mil euros.
A
peça foi encontrada com outros 13 exemplares num altar votivo. A Christie’s diz
que foi exibida ao público em duas ocasiões, em 1976 e 1982, em Bruxelas.
Há
alguns anos, o México iniciou uma cruzada para recuperar o património histórico
que se encontra em acervos privados no mundo. A França constantemente tem-se
negado a devolver as peças ao Governo mexicano, e a secretária de Cultura do
país latino-americano, Alejandra Frausto, argumentou que a legislação francesa
é “muito hostil” e impede a recuperação do património mexicano.
Em
Setembro de 2019, a diplomacia mexicana procurou deter a venda de 95 objectos
pré-hispânicos leiloados pela casa francesa Millon. A Secretaria, através da
Embaixada em Paris, reivindicou as peças, sem sucesso. Um mês mais tarde, a
casa Sotheby’s ofereceu 44 peças pré-hispânicas que também foram reclamadas
pelo Governo mexicano.
A
legislação mexicana estabelece que os achados de objectos das culturas antigas
em território mexicano pertencem à nação, mas, uma vez que saem do país de
forma ilegal, as autoridades perdem o seu rasto.
Contudo,
nem todos os casos terminaram sem solução – uma excepção foi o baixo-relevo de
Xoc, achado em Paris em 2015, num leilão da firma Binoche et Giquello, e que
foi devolvido ao México dois anos mais tarde. In “Jornal
Tribuna de Macau” – Macau com “Agências
Internacionais”
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