Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Vietname – Maior caverna do mundo está ameaçada

Son Doong, a maior caverna do mundo, é um modelo de ecoturismo aberto a visitas há oito anos no coração da selva vietnamita, mas está ameaçada por projectos turísticos


Escavado e erodido ao longo de milhões de anos, o labirinto subterrâneo de Son Doong chega a atingir 200 metros de altura nalgumas áreas, o suficiente para conter um bloco de arranha-céus de 40 andares. O interior abriga um túnel de mais de cinco quilómetros, uma barreira de calcita com 90 metros de altura – conhecida como a “Grande Muralha do Vietname” – e estalagmites e estalactites gigantescas.

Em 1991, Ho Khanh, morador da zona, descobriu a caverna por acaso, quando encontrou a entrada e ouviu o som de um rio no interior. Estava escondida no Parque Nacional Phong Nha-Ke Bang, Património da UNESCO. Quando tentou voltar à caverna, não conseguiu encontrar a abertura, escondida no meio da exuberante selva, e o lugar caiu no esquecimento durante quase 20 anos.

Em 2009, Khanh e uma equipa de investigadores britânicos localizaram a entrada e, quatro anos depois, uma parte foi aberta para turistas. Desde então, apenas uma agência de viagens, “Oxalis”, foi autorizada a explorar o local, para limitar o número de visitantes e, assim, evitar erros cometidos em locais emblemáticos do país, como a Baía de Ha Long ou as praias de Nha Trang, ameaçadas pelo turismo de massa.

Anualmente, apenas algumas centenas de visitantes entram em Son Doong, tendo de pagar cerca de 60 dólares por visita e 3.000 por quatro dias de exploração.

Ho Khanh, actualmente com 52 anos, diz aos jovens da região que o “seu principal dever é proteger o meio ambiente para que a exploração (do lugar) beneficie também os nossos filhos”.

O dinheiro arrecadado é uma bênção para a população desta região pobre do centro do país. Antes, os jovens iam ao parque nacional para cortar ilegalmente a madeira de agar, usada para fazer incenso. Outros caçavam civetas e porcos-espinhos, espécies ameaçadas de extinção. “Estávamos sempre sob a ameaça dos guardas florestais (e) não fazíamos nada de bom para a natureza”, admitiu à AFP Ho Minh Phuc, antigo lenhador que se tornou carregador de grupos autorizados a explorar a caverna.

Entre guias, carregadores e proprietários de pequenos alojamentos turísticos, cerca de 500 locais vivem graças a Son Doong e a outras cavernas gigantescas do parque nacional.

Contudo, a caverna enfrenta muitas ameaças, conforme alertou a UNESCO em 2019. Um projecto de teleférico para Son Doong foi abandonado, mas outro para chegar a uma caverna localizada a 3,5 km de distância ainda está em estudo. Isso provocará “uma mudança radical na natureza das ofertas turísticas propostas” e, “sem dúvida, haverá um impacto irreversível no meio ambiente, em grande parte preservado”, advertiu a UNESCO.

A pandemia atingiu severamente o turismo no Vietname, que, uma vez superada a crise sanitária, poderá ceder aos investidores e desenvolver infra-estruturas em torno das cavernas do parque, alertam os especialistas. As autoridades implementaram “políticas de protecção muito boas, mas muitas vezes ignoram-nas”, lamentou Peter Burns, consultor que trabalhou num projecto de turismo sustentável no Vietname.

Para o carregador Phuc, após a pandemia, é essencial não sucumbir ao turismo de massas em Son Doong. “Isso seria terrível. Esta maravilha natural seria reduzida no espaço de anos e o nosso sustento desapareceria”, frisou. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”


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