Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Portugal - Os grandes desafios do Antropoceno em debate

Debater os grandes e complexos desafios da era do Antropoceno, a era em que vivemos, é o objetivo de um projeto curatorial lançado por Gonçalo Santos e Ana Luísa Santos, investigadores do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em parceria com a Fundação de Serralves e com a rede de pesquisa Sci-Tech Asia, o Centre for Functional Ecology—Science for People and the Planet e o Departamento de Ciências da Vida da FCTUC.


A primeira iniciativa no âmbito deste projeto materializa-se num ciclo de seis conferências e debates, designado “Pluralizando o Antropoceno: Reimaginando o Futuro do Planeta no Século XXI”. Entre 15 de fevereiro e 10 de maio, reputados especialistas vão partilhar reflexões importantes sobre «esta nossa condição plural de viver num mundo cheio de incertezas. Este ciclo contará com a presença de influentes pensadores das humanidades e ciências contemporâneas comprometidos com uma visão mais plural do Antropoceno e das grandes questões de resiliência, adaptação, e luta pela justiça ambiental», afirma Gonçalo Santos.

O ciclo arranca, no dia 15 de fevereiro, entre as 18h00m e as 19h30m, com a palestra de Tim Ingold, um dos mais conceituados antropólogos contemporâneos, que vai abordar o que ele chama “sustentabilidade de tudo.” Para a sustentabilidade da nossa economia se tornar uma realidade, nós teremos de pensar numa sustentabilidade que não seja sustentável apenas para algumas espécies ou algumas populações humanas. Nós teremos de começar a pensar na sustentabilidade do planeta.

Contextualizando o projeto curatorial agora lançado sobre o Antropoceno, Gonçalo Santos observa que «o mundo em que vivemos é muito diferente daquele em que os nossos avós e bisavós cresceram: mais quente, mais seco, mais poluído, mais incerto. O sistema de produção linear da sociedade de consumo trouxe muitos benefícios para um número significativo de pessoas e populações em todo o mundo mas também levou a uma devastação ambiental sem precedentes e gerou uma conjuntura de alterações climáticas com efeitos preocupantes».

«Olhando apenas para factos básicos em Portugal, como a redução da precipitação geral e o aumento acelerado da temperatura desde a segunda guerra mundial, as previsões mais conservadoras não são nada otimistas, apontando para um aumento significativo no número de incêndios e de secas nas próximas décadas. A presente década — a terceira do século XXI — será decisiva para começarmos a planear um pouco melhor o nosso futuro (e o futuro do nosso planeta) antes que seja tarde demais e tenhamos caído num ambiente de caos e confusão ainda mais perturbador do que aquele que estamos a viver no âmbito da atual pandemia de COVID-19», destaca o investigador da FCTUC.

O responsável pelo projeto curatorial sublinha ainda que «mesmo as pessoas que estão a negar este problema não podem ignorar os debates em curso sobre a destruição do ambiente, as alterações climáticas e o futuro da vida humana no planeta. Estes são os grandes desafios da era em que vivemos: a era do Antropoceno, ou a idade dos humanos. O Antropoceno não é apenas uma idade de crescentes incertezas ambientais resultantes do impacto destrutivo cumulativo das atividades humanas; é também uma idade de importantes desafios e escolhas civilizacionais no sentido de ultrapassar esta situação de crise e desastre iminentes e criar novas visões de esperança e de justiça».

O especialista em antropologia social-cultural lembra que «existem muitos lugares diferentes e muitas populações diferentes dentro do planeta. Os desafios que os portugueses ou os chineses estão a experienciar na idade do Antropoceno são diferentes dos desafios enfrentados pelos povos da Amazónia. O uso do termo Antropoceno para denominar esta nova era de incertezas antropogénicas crescentes abriu todo um novo campo de conversas multidisciplinares sobre as relações dos seres humanos com o ambiente no século XXI, mas também gerou um entendimento monolítico do Antropoceno como uma experiência humana unificada». Universidade de Coimbra - Portugal



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