Alunos do ensino primário em Angola regressaram às escolas, quase um ano depois de as aulas presenciais terem sido suspensas devido à covid-19, com alguns pais ainda receosos e outros confiantes no cumprimento das medidas de segurança
Verifica-se
nas ruas de Luanda um afluxo considerável de alunos, constatou a Lusa numa
ronda por escolas da capital angolana. Na escola 1206, no município da
Ingombota, no centro de Luanda, várias crianças regressaram à escola acompanhadas
dos seus encarregados de educação, alguns ainda receosos, a verificarem as
condições de biossegurança no local, ao contrário das crianças.
No
recinto escolar, à entrada, foram instalados três pontos para a lavagem das
mãos com água e sabão, enquanto os professores, com entrada exclusiva, podiam
usar um dispositivo para a distribuição de álcool em gel.
À
porta da escola, o diretor da instituição, Filipe Mesquita, ia prestando
esclarecimentos aos encarregados de educação. Alguns deixaram as suas crianças
nas aulas, mas outros preferiram aguardar pelas duas horas de duração das
mesmas.
Em
declarações à agência Lusa, Filipe Mesquita considerou surpreendente o número
de alunos que regressou às aulas presenciais, depois do levantamento das
restrições pelo Governo, no âmbito do alívio das medidas de restrição para
conter a pandemia da covid-19.
Segundo
Filipe Mesquita, a escola já vinha a preparar-se há bastante tempo e, na
verdade, nunca parou o seu sistema de ensino, estando desde outubro a trabalhar
com os alunos à distância.
"Mesmo
sem as aulas presenciais fomos fazendo o acompanhamento, por isso é que estamos
a ter esse afluxo e como já iniciámos as classes de exame, então as medidas de
segurança estão a 80%", frisou.
Além
da confiança depositada por pais e encarregados de educação na direção da
escola, a redução, nos últimos dias, do número de casos da covid-19 está na
base do regresso tranquilo dos alunos, considerou Filipe Mesquita.
Divididos
em dois grupos, com até 25 alunos em cada turma, devidamente distanciados, os
alunos iniciaram os primeiros 20 minutos das aulas com uma sensibilização sobre
a questão da doença, sendo esta semana dedicada à revisão das tarefas.
"O
processo de ensino não parou, não é um início de aulas, é um reiniciar. O
segundo trimestre começou no dia 4 de janeiro (...) e como essa altura é de
provas, para alguns alunos, que já estão na classe de exames, como não tinham
aulas presenciais, estão a ter uma revisão por causa de tudo aquilo que foi
feito à distância", explicou.
Ivone
Ferreira levou o seu filho, aluno da primeira classe, à escola para constatar
as condições e ficou agradada por encontrar água para a lavagem das mãos e o
medidor de temperatura à entrada, considerando que as condições estão criadas.
Durante
quase um ano em casa, Ivone Ferreira disse que o filho cumpriu sempre as
tarefas dadas pela escola.
"Vinha
sempre levantar as tarefas para ele e a professora esteve sempre a dar
incentivo", disse.
Por
sua vez, Demércio Chiwaiangue disse que foi com satisfação, mas também ligeira
preocupação que levou à filha à escola e, por isso, fez questão de acompanhar
presencialmente o regresso às aulas.
"Estou
satisfeito porque as medidas de biossegurança estão salvaguardadas. Houve todo
um exercício por parte da direção da escola, todo aquele esforço possível e
imaginário para criar todas as condições, para que o início das aulas fosse
retomado da melhor forma possível", referiu.
Segundo
Demércio Chiwaiangue, os educandos estavam preocupados e ansiosos com o retorno
às aulas e o reencontro com colegas e professores foi importante.
"No
início, eu estava mesmo preocupado, mas temos vindo a acompanhar pelos órgãos
de comunicação o baixar daquilo que é a estatística dos casos de covid-19, isso
deixou-nos bastantes confortáveis. Aqui na escola constatamos também que as
condições estão criadas e isso nos alegra enquanto encarregados",
salientou.
Enquanto
em casa, Demércio Chiwaiangue criou condições mínimas para o acompanhamento
escolar, como uma explicadora e o contacto direto com a escola.
"De
vir cá buscar as tarefas e tudo o resto e não notámos nenhuma dificuldade. As
tarefas estão salvaguardadas, ela está satisfeita e a nós [cabe] agradecer a
iniciativa do retorno às aulas porque não víamos outra saída, preocupava-nos
mesmo", disse.
Feliz
ficou igualmente a professora, Suzete Piedade, pelo reencontro com os seus
"filhos".
"Para
mim foi uma grande alegria, muita alegria mesmo, era o que eu mais queria, ver
os meus filhos, apesar que estou com eles pelo segundo ano, começámos a
iniciação, e foi uma alegria de ver os meus filhos, havia vezes que pais
ligavam para mim para os miúdos falarem comigo de tanta saudade que eles tinham
da professora", disse.
Glória
da Silva Madaleno, aluna da terceira classe, manifestou a sua satisfação por
retornar à escola, porque estava com saudades da professora e colegas.
"Apesar
da pandemia, de não podermos nos abraçar, mas eu já me conforto em poder
vê-los", referiu.
Questionada
se em algum momento teve medo de regressar à escola, respondeu que não, porque
"Deus está com alunos e professores".
O
país regista, desde o início da pandemia, um total de 20294 casos de infeção
pelo coronavírus SARS-CoV-2, incluindo 4790 óbitos associados à covid-19. In “Angola
24 Horas” – Angola com “Lusa”
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