José Basto da Silva apresentou a sua primeira exposição individual de aguarela “Catharsis”, na galeria da Fundação Rui Cunha. O presidente da associação dos antigos alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco e membro do grupo de teatro Doci Papiaçam di Macau estreia-se agora na pintura com a apresentação de 40 obras de aguarelas, pintadas cronologicamente ao longo de 2020 no contexto da pandemia e do recente confinamento colectivo
“Catharsis”
é o nome da exposição que hoje se estreou, na Fundação Rui Cunha, da autoria de
José Basto da Silva, actor e cantor do grupo de teatro Doci Papiaçam di Macau.
O projecto envolve 40 aguarelas com um tema marítimo de mar, ondas e barcos, de
cariz local. O autor descreve a partilha pública destas obras como “o passar de
uma mensagem de esperança e de motivação em tempos de incerteza e
instabilidade, mas que abrem portas a novos voos que nos levam a olhar o mundo
de uma forma diferente e a redescobrirmo-nos a nós mesmos”. O evento é também
uma celebração dos seus 50 anos.
José
Basto da Silva falou ao Ponto Final um pouco acerca da génese do projecto. “Eu
comecei a fazer aguarelas há sensivelmente 12 meses”, começa a explicar,
adiantando que, na altura em que a pandemia surgiu, encontrava-se em casa em
confinamento, sem muito que fazer, e acabou por pegar nos materiais de pintura
que a sua filha tinha mas que não dava grande uso. E, por outro lado, tinha o
quarto do filho livre depois deste ter ido para a universidade. “Montei ali uma
espécie de um atelier onde comecei a experimentar e a fazer umas brincadeiras,
umas aguarelas”, refere.
A
facilidade de aprendizagem nos tempos que correm foi também um factor decisivo
para o início deste seu novo hobby, explica o engenheiro informático. “Qualquer
pessoa que tenha o mínimo de curiosidade e disciplina pode facilmente ligar-se
ao YouTube, ou matricular-se em cursos online, e começar a aprender a
fazer aguarelas e a começar pelas coisas mais básicas”, referiu ao Ponto Final.
“E na altura também tive muita motivação, sobretudo da família e de amigos, e
fui fazendo e aperfeiçoando”, prosseguiu. O artista macaense aponta que de
entre os aquarelistas de nível mundial que mais gosta e segue estão Alvaro
Castagnet, Shibazaki e Joseph Zbukvic.
Em
termos de materiais usados, José Basto da Silva assinala que começou com o
material de arte inutilizado da filha. “Eles têm tudo do bom e do melhor e
depois não usam”, explica entre risos. “Comecei a usar uns lápis parecidos com
os de cera, mas da marca Caran D’ache, que depois de pintar, passa-se o pincel
e a tinta dilui, mas não fica aquele traço muito agreste, e eu senti assim
alguma curiosidade de experimentar”.
Quando
questionado acerca do nome “Catharsis”, José Basto da Silva assinala que a
exposição centra-se muito no tema da água e dos barcos por sempre ter tido um
fascínio especial por esses elementos. “Eu desde pequeno que me deixei sempre
influenciar muito pelos quadros de artistas locais, pois os meus pais tinham
quadros do Herculano Estorninho, que nas suas obras era muito vocacionado para
juncos e barcos chineses”, indica, acrescentando: “aventurei-me pois na altura
também achei que fazer mar, ondas e barcos seria muito mais fácil do que estar
a iniciar-me nas aguarelas com paisagens urbanas, e acabando também por estar
associado ao facto de as aguarelas terem sido um processo que me permitiu de
certa forma abstrair-me do confinamento e purificar-me um bocado daquele
sentimento de frustração, de prisão, e a água entra aí como um elemento
purificador”, descreveu.
O
nome da exposição, revela o artista, provém desta explicação, pois relembra que
todos, em momentos difíceis, passam por momentos de catarse como forma de
ultrapassar as dificuldades e, se calhar, descobrir talentos que acredita
estarem dentro de cada um de nós, apesar da falta de tempo ou condições para os
desenvolver. “Esta exposição para mim é também uma mensagem, que todos
precisamos de passar por uma fase de purificação, de catarse, para
descobrirmo-nos a nos próprios, melhorarmo-nos, de sermos mais úteis, talvez”.
José
Basto da Silva revela ainda sentir uma ligação muito forte “à sua terra” Macau.
“Eu sou de cá e o facto de estar a completar 50 anos de idade, uma idade muito
marcante, tive o cômputo de fazer as perguntas existenciais como “o que é que
eu sou realmente?” e “o que é que eu fiz na minha vida ou qual foi a minha
contribuição à nossa sociedade?”.
A exposição inaugurada hoje, conta o artista, é também uma boa desculpa para juntar amigos e pôr à disposição o seu trabalho. “Oxalá os visitantes se sintam motivados e embarquem neste meu processo de catarse, e que consigam saborear um bocado daquilo que me vai na alma, com uma certa motivação também, para se descobrirem a si próprios”, conclui. Joana Chantre – Macau In “Ponto Final”
Joanachantre.pontofinal@gmail.com
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