Para Sérgio Tréfaut, o que se passa em Portugal é que
"há uma consciência do horror" que se está a passar no Brasil, mas
existe um receio de intervir e, por isso, "prefere-se o silêncio"
O
cineasta lusobrasileiro Sérgio Tréfaut considerou hoje que se Portugal não
tomar posição face ao que se passa no Brasil, o segundo país do mundo com mais
mortes e casos de covid-19, será "cúmplice de um genocídio", pelo
silêncio.
"Se
Portugal não tomar uma posição face ao que se passa no Brasil, com mais de mil
pessoas a morrerem por dia, porque o Governo de Bolsonaro não toma medidas para
combater a pandemia, então está a ser cúmplice de um genocídio, pelo silêncio,
e está, sim a ter uma atitude paternalista e colonialista", afirmou
Tréfaut à Lusa.
O
cineasta disse ter contactado o gabinete do primeiro-ministro português,
enviado uma carta-aberta ao Presidente da República e depois ter tido uma
conversa telefónica com Marcelo Rebelo de Sousa, e pedido audiências aos
partidos políticos.
Para
Sérgio Tréfaut, o que se passa em Portugal é que "há uma consciência do
horror" que se está a passar no Brasil, mas existe um receio de intervir
e, por isso, "prefere-se o silêncio".
Na
opinião do cineasta, uma posição contra o Governo de Jair Bolsonaro "não é
uma coisa de esquerda", é uma questão de solidariedade para com os
brasileiros que estão "a sofrer" e a “morrer”.
Assim,
"seria interessante que também as redes humanitárias" entendessem
isso e se solidarizassem com o povo brasileiro.
Sérgio
Tréfaut, filho de um português e de uma francesa, nasceu em São Paulo, mas
estudou e viveu muito anos em Portugal, distinguindo-se como cineasta, na área
do documentário.
O
seu filme “Lisboetas”, sobre os novos imigrantes na Lisboa de hoje, recebeu o
prémio de melhor filme português no IndieLisboa 2004.
Uma
petição lançada em 09 de junho, dirigida ao presidente do parlamento pede ao
Estado português que assuma, "em todas as instâncias internacionais",
uma posição de solidariedade para com o povo brasileiro, a defesa dos direitos
humanos, e a "condenação" do Governo de Jair Bolsonaro.
A
petição conta com mais 1200 assinaturas, entre elas as de Alice Vieira, Ana
Benavente, Anabela Mota Ribeiro, Cristina Reis, Eduardo Paz Ferreira, Fernando
Rosas, Francisco Louçã, Inês Gonçalves, Inês Pedrosa, Irene Flunser Pimentel,
Jacinto Lucas Pires, Joana Mortágua, João Arsénio Nunes, José Manuel Costa,
Maria de Medeiros, Mário de Carvalho, Miguel Vale de Almeida, Odete Ferreira,
Pilar del Río, Richard Zimler, Rita Cabaço, Rita Rato, Rui Vieira Nery, Rui
Zink, Susana de Sousa Dias, Teresa Villaverde, Tiago Rodrigues e Zeferino
Coelho.
A
Casa do Brasil, o Coletivo Andorinha, a Rede sem Fronteiras e a plataforma
Brasilemluto.pt convocaram uma conferência de imprensa para quarta-feira, na
Casa do Alentejo, em Lisboa, para apresentar a petição, que tem por objetivo
chegar às quatro mil assinaturas para ser discutida na Assembleia da República.
Mas,
no seguimento das novas orientações das autoridades relativamente à pandemia de
covid-19 em Portugal, foi suspensa a iniciativa presencial.
A
petição, também promovida por Sérgio Tréfaut, tem como título "Pela
democracia e contra o genocídio no Brasil".
“O
Brasil, suas instituições, seu povo não podem continuar a ser agredidos por
alguém que, ungido democraticamente ao cargo de Presidente da República, exerce
o nobre mandato que lhe foi conferido para arruinar com os alicerces de nosso
sistema democrático, atentando, a um só tempo, contra os poderes legislativo e
judiciário, contra o Estado de direito, contra a saúde dos brasileiros”, refere
o texto.
A
pandemia de covid-19 já provocou mais de 472 mil mortos e infetou mais de 9,1
milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela
agência francesa AFP.
Em
Portugal, morreram 1540 pessoas das 39 737 confirmadas como infetadas, de
acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
O
Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no
mundo, ao contabilizar o segundo número de infetados e de mortos (mais de 1,1
milhões de casos e 51 271 óbitos), depois dos Estados Unidos da América. In “Contacto”
– Luxemburgo com “Lusa”
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